novembro 14, 2011

"Eu só sei existir na palavra" - Entrevista / Eliane Brum

PICICA: "Conflitos entre mãe e filha fazem parte da crônica das famílias desde tempos imemoriais – e muitos têm um desfecho trágico. O problema é a visão que se tem desses papéis tradicionais. “Infelizmente, no nosso tempo, a maternidade é idealizada, beira a sacralização”, disse Eliane. “E, quando algo se torna da esfera do sagrado, os conflitos não podem existir”. Para ela, que se tornou mãe aos 15 anos (depois fugiu de casa, deixando para trás a pequena Ijuí, no Rio Grande do Sul), a experiência com o romance a fez descobrir “novas nuances” sobre si mesma."

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ENTREVISTA / ELIANE BRUM

“Eu só sei existir na palavra”

Por Paulo Lima em 08/11/2011 na edição 667

O romance de estreia da jornalista Eliane Brum, Uma duas (Ed. LeYa), logo chama a atenção por um detalhe editorial. O texto está em vermelho. O leitor se pergunta sobre a razão dessa escolha. Ele começa a leitura, avança e aí percebe que o recurso tem um motivo de ser. O livro traz a história da relação entre uma mãe e uma filha – uma relação de amor e ódio, escrita a sangue, expondo um processo de aprisionamento e libertação.


Laura é a filha, uma jornalista que mora sozinha. Afastou-se da mãe depois que o pai morreu. Ela luta para cortar o cordão umbilical. Porém, por mais que se esforce, acaba deparando com uma impossibilidade, estampada num trecho da narrativa. “Não há como escapar da carne da mãe. O útero é para sempre.” Mas Laura tenta obstinadamente e escreve um livro no qual fala de sua mãe. É a forma que ela encontra de assumir o poder, de se libertar por meio da palavra. “Como sempre adivinha tudo, minha mãe sabe que escrevo. Que encontrei um jeito de arrancá-la de mim sem sangrar.” É a voz de Laura que ouvimos ao longo dos primeiros capítulos do livro, desenhando um perfil devastador da mãe.


Maria Lúcia é a mãe, que vive presa à rotina de um apartamento em companhia de um gato. Uma mulher dominadora. “Ela tinha trancado as palavras em mim antes que eu nascesse. E antes tinha trancado as palavras do meu pai. Ela mesma não tinha palavras”, acusa Laura. Depois de um incidente que as reaproxima, Maria Lúcia decide escrever um diário em que conta seu lado da história, justificando suas ações. “Eu tive uma vida. E não tive uma mãe. Talvez seja por isso que eu não tenha sido uma boa mãe. Eu nunca soube o que uma mãe deve fazer. A minha mãe morreu no parto.”


Reportagem e ficção


A narrativa se desenvolve nessa alternância de vozes, com mãe e filha vivendo uma situação pendular, ora manifestando momentos de afeto, provocados pela doença terminal de Maria Lúcia (“Eu posso sentir o que ela sente. E neste momento quero morrer com minha mãe”, escreve Laura), ora exacerbando hostilidade mútua.


Os meandros da relação entre mãe e filha são descritos com a mesma delicadeza e sensibilidade com que Eliane Brum dedica a suas reportagens, publicadas nos livros Coluna Prestes – o avesso da lenda (Artes e ofícios, 1994), A vida que ninguém vê (Arquipélago Editorial, 2006), O olho da rua (Globo, 2008), na revista Época, da qual é atualmente colunista, e em documentários como Uma história severina e Gretchen filme estrada (mixer). Com o primeiro romance, ela teve uma experiência diferente. “Durante todo o período em que escrevi, primeiro dentro de mim, depois no computador, eu vivia na ficção e encenava a minha vida. Esta é uma sensação terrível. Eu estava lá, nos meus abismos, 24 horas por dia”, disse nesta entrevista concedida por e-mail.


Segundo Eliane Brum, o romance começou a se esboçar depois que ela acompanhou uma mulher em seus últimos dias de vida. Essa reportagem a marcou muito. “Percebi que havia realidades que só a ficção suporta. Para dar conta destas realidades, que passaram a não me deixar dormir, eu precisava encontrar uma voz na ficção. Foi assim que este livro começou a ser escrito.” O tema praticamente se impôs. “Não foi algo racional, no sentido de decidir sobre o que iria escrever e planejar cada capítulo a partir dessa escolha.”


Conflitos entre mãe e filha fazem parte da crônica das famílias desde tempos imemoriais – e muitos têm um desfecho trágico. O problema é a visão que se tem desses papéis tradicionais. “Infelizmente, no nosso tempo, a maternidade é idealizada, beira a sacralização”, disse Eliane. “E, quando algo se torna da esfera do sagrado, os conflitos não podem existir”. Para ela, que se tornou mãe aos 15 anos (depois fugiu de casa, deixando para trás a pequena Ijuí, no Rio Grande do Sul), a experiência com o romance a fez descobrir “novas nuances” sobre si mesma.


Escrever o romance foi uma experiência que a transtornou (“ou eu escrevia ou morria”), da qual ainda se recupera, mas de modo algum ela vislumbra um status diferenciado entre a literatura e o jornalismo. “Para mim a reportagem e a ficção estão no mesmo patamar de importância. Não acho que, por ter escrito meu primeiro livro de ficção, alcancei um degrau mais elevado na escrita.” Ambas exercem sobre Eliane Brum igual influência. “Eu escrevo porque acredito no poder de transformação da escrita, mas, principalmente, porque preciso. Não saberia viver fora da escrita. Eu só sei existir na palavra”. Em seguida, a entrevista.


Seu romance fala de uma relação que sangra. Como surgiu a ideia de uma história com sentimentos tão extremos entre mãe e filha?


Eliane Brum– Eu acredito que os sentimentos entre mãe e filha são sempre extremos. Talvez a grande questão feminina seja como uma filha se arranca do corpo da mãe. Do ponto de vista simbólico, claro. Infelizmente, no nosso tempo, a maternidade é idealizada, beira a sacralização. E, quando algo se torna da esfera do sagrado, os conflitos não podem existir. Como os conflitos existem, eles então precisam ser calados. E, calados, sem possibilidade de expressão pelo que são, se transformam em outras coisas. Porque não adianta fingir que algo não existe para que deixe de existir. De alguma forma, os conflitos serão expressados. E, quanto mais reprimidos, pior.


Meu livro trata disso: de como uma filha se arranca do corpo da mãe. Laura e Maria Lúcia encontram os caminhos (e descaminhos) delas. Cada mãe e filha vão encontrar os seus. Que talvez sejam – ou apenas pareçam ser – menos extremos que os de Laura e de Maria Lúcia que, pela peculiaridade de suas trajetórias pessoais, necessitam de uma literalidade maior para expressar seus conflitos.


Quando senti uma necessidade imperativa de escrever ficção, foi esta a história que se impôs. Não foi algo racional, no sentido de decidir sobre o que iria escrever e planejar cada capítulo a partir dessa escolha. Não é assim que funciona para mim. Para mim, era apenas sobre isso que eu poderia escrever naquele momento. Quando o José Castello escreveu a primeira crítica do meu romance, no Prosa & Verso, do jornal O Globo, ele intitulou de “Eliane no útero”. Os grandes críticos literários, os poucos que merecem este nome, são aqueles que nos revelam algo da nossa obra que nem a gente havia percebido. Quando li esse título e também a crítica, percebi que era significativo que meu primeiro romance fosse justamente um arrancar-se do útero.


“Escrevo como uma leitora”


Como foi o processo de criação do livro? Você tinha um projeto definido, ou a história foi se desenvolvendo à medida que ia sendo escrita?


E.B.– Eu sou intuitiva na minha escrita. Sou assim também nas reportagens. Apuro exaustivamente, checo tudo, mas, na hora de escrever, não penso em como escrever. Não de uma forma planejada, pelo menos. Simplesmente deixo a história me tomar. Ela tem sua própria forma – eu só preciso descobri-la.
Na ficção, isso é ainda mais forte. O livro foi se escrevendo primeiro dentro de mim e depois eu marcava uma hora, logo cedo de manhã, porque sou muito disciplinada, sentava diante da minha escrivaninha xerife e escrevia. Muitas e muitas vezes eu mesma fiquei surpreendida com o que escrevia. Às vezes tinha a intenção de escrever uma coisa – e escrevia outra. Acho que escrevo como uma leitora. Se soubesse o final, perderia a vontade de escrever.


“Realidades que só a ficção suporta”


Fazer ficção era uma ideia antiga, ou é algo que foi surgindo a partir do seu contato com os personagens que povoam suas reportagens?


E.B.– Acho que desde que aprendi a ler, aos sete anos, comecei a sonhar em escrever histórias de ficção. Porque a ficção me salvou de uma infância árida. Mas, quando virei repórter, me apaixonei furiosamente pelo absurdo do real. Então, esse desejo ficou em segundo plano. Então, entre 2008 e 2010, eu me dediquei como repórter a escrever sobre a morte. Não a morte que em geral a imprensa cobre, que é a morte violenta, mas a morte que a maioria de nós terá, já que a maioria de nós, com sorte, morrerá de doença e de velhice – e não de bala perdida, assassinato ou doença. E por isso esta morte é tão calada na nossa sociedade.


Este confronto com a morte na reportagem me obrigou a um profundo confronto com a vida. Porque falar sobre a morte é importante por isso, para pensar sobre a vida. Depois de acompanhar uma mulher nos últimos 115 dias de sua vida, fiz mudanças profundas na minha própria existência. E percebi que havia realidades que só a ficção suporta. Para dar conta destas realidades, que passaram a não me deixar dormir, eu precisava encontrar uma voz na ficção. Foi assim que este livro começou a ser escrito. Na época em que comecei a escrevê-lo, dentro de mim, minha sensação era de que ou escrevia, ou morria.


“Tenho a reportagem em alta conta”


Como mãe e filha, você vivencia os dois lados da questão. O romance lhe deu uma nova perspectiva desses dois papeis?


E.B.– Acredito que escrever este romance me fez descobrir novas nuances sobre mim mesma nesses dois papéis. Mas eu sempre pensei muito sobre isso, então há muito tempo não tenho essa visão idealizada sobre a maternidade, seja no papel de mãe, seja no de filha. O fato de não sacralizar essa relação me permite hoje ter uma ótima relação tanto com a minha mãe quanto com a minha filha. Nós lidamos bem com os conflitos, compreendemos que eles fazem parte da vida e, principalmente, compreendemos os limites uma da outra. Especialmente com a minha filha, conversamos muito e profundamente sobre tudo, apesar de cada uma hoje viver em cidades e estados diferentes.


Neste sentido, tenho percebido duas reações ao meu romance. Seguidamente, alguém me encontra e diz: “Que bom que você escreveu este livro, porque agora eu posso falar mal da minha mãe sem me sentir culpada”. E desanda a falar mal da mãe. Isso acontece mesmo em eventos literários, com pessoas desconhecidas. Outra coisa que acontece com frequência é: “Eu não vou poder ler o teu livro porque eu amo muito a minha mãe”. Eu só esboço um “Hum”. Acho ambas as reações muito divertidas. E só atestam a importância e atualidade do tema do meu romance.


No romance, a filha, que é uma jornalista, diz: “É reconfortante escrever sobre a vida dos outros. Esta é a melhor parte de ser jornalista. Poder escrever sobre uma realidade que não precisa virar ficção para ser pronunciada.” É a convicção de que uma boa reportagem pode ser tão forte a ponto de atingir – ou mesmo ultrapassar – o status da ficção?


E.B.– Para mim a reportagem e a ficção estão no mesmo patamar de importância. Não acho que, por ter escrito meu primeiro livro de ficção, alcancei um degrau mais elevado na escrita. Tenho a reportagem em alta conta. Apenas que há algo que é da reportagem – e há algo que só pode existir no território da ficção. Mas, tanto a reportagem quanto a ficção trabalham com a realidade. Só que de maneiras diversas.


“O dinheiro é um efeito colateral necessário”


Até que ponto sua experiência de jornalista influenciou na construção do personagem de Laura?


E.B.– Acho que influenciou bastante, claro. É um mundo que eu conheço bem. Mas a Laura é muito diferente de mim. Às vezes, inclusive, eu acho que ela escreve mal. Mas tanto a Laura quanto os personagens deste mundo jornalístico que aparecem de forma fugaz no romance são composições feitas a partir das muitas pessoas que conheci e das muitas cenas que observei nestes mais de 20 anos de jornalismo. Muitos colegas de profissão ficam tentando adivinhar em quem me inspirei para criar, por exemplo, “o chefe com cauda de lagarto azul”. E cada um conclui o que lhe convém, o que também é muito divertido. Mas a verdade é que o tal chefe é uma composição de alguns chefes reais que tive – e também de outros que conheci através do cinema e da literatura.


Em dado momento, Laura, que escreve um livro sobre a mãe, é assaltada pela dúvida: “Tanta coisa escrita, tanta gente escrevendo. Por que escrevo?” Você já foi surpreendida por dúvida semelhante alguma vez?


E.B.– O tempo todo. Estou sempre duvidando de tudo – e também de mim. Acho isso saudável quando não vira paranoia. Faz com que eu permaneça atenta, fiel a mim mesma, renovando permanentemente os meus votos com a vida e com o que importa para mim. Para mim, ganhar dinheiro com a minha escrita é algo importante porque tenho contas para pagar e preciso comer. Mas é, digamos, apenas um efeito colateral necessário. E por isso inventei para mim uma vida simples, sem dívidas e com o menor número possível de contas. Eu escrevo porque acredito no poder de transformação da escrita, mas, principalmente, porque preciso. Não saberia viver fora da escrita. Eu só sei existir na palavra.


“Eu vivia na ficção e encenava a minha vida”


Em entrevistas, você disse que ouviu a voz da mãe, Maria Lúcia, em sua cabeça, pedindo para contar também sua versão da história. Dar lugar a essa voz não foi ceder também ao impulso da repórter, que precisa ouvir sempre mais de uma fonte?


E.B.– Não saberia dizer. Talvez a um impulso de justiça, que vem antes de ser repórter. Mas talvez esta seja apenas uma das explicações possíveis, a mais edificante delas. Acho que dei voz a Maria Lúcia, a mãe no meu romance, porque ela estava me enlouquecendo com sua voz rascante na minha cabeça, a cada madrugada. Eu queria voltar a dormir uma noite inteira sem ser acordada no meio por aquelas unhas de harpia. O mérito de ter entrado no romance é todo dela. Ela não me deixou saída. E tinha toda razão, é mais inteligente do que eu. O romance ficou muito melhor quando Maria Lúcia entrou nele.


Você já trabalhou com a linguagem do jornalismo, do documentário e agora com a da ficção. Alguma dessas linguagens é mais desafiadora do que a outra?


E.B.– Acho que todas essas experiências são desafiadoras quando há uma entrega profunda. E só por isso me interesso por elas. Mas acho que a da ficção foi a mais difícil para mim enquanto escrevia. Já tive experiências de reportagem que me derrubaram por mais tempo que a da ficção, depois de publicadas, como, por exemplo, as reportagens sobre a morte e uma recente que fiz sobre Doença de Chagas na Bolívia. Mas acho que nenhuma me transtornou tanto quanto a da ficção enquanto acontecia. Durante todo o período em que escrevi, primeiro dentro de mim, depois no computador, eu vivia na ficção e encenava a minha vida. Esta é uma sensação terrível. Eu estava lá, nos meus abismos, 24 horas por dia. Mas precisava estar fora de lá, para fazer as coisas do cotidiano, escrever minha coluna na Época, tratar de coisas práticas, cozinhar e lavar, namorar o meu marido, conversar com a minha filha, discutir assuntos importantes com os meus pais, acompanhar as minhas amigas que resolveram engravidar todas ao mesmo tempo, enfim, as coisas da vida. Só que eu fingia estar lá e atuava como uma atriz não muito boa. As pessoas mais próximas percebiam que eu não estava lá. De fato, eu estava em outro lugar, eu estava dentro. Isso foi devastador para mim. Ainda estou me recuperando.


“Fazer reportagem exige imersão e entrega”


No livro, há algumas referências ao cinema e à pintura. O filme A noviça rebeldee trechos de seu tema musical são incluídos na narrativa. Isso reflete também influências de outras linguagens? Ao escrever, você se deixa influenciar por elas?


E.B.– Acho que são referências de quem vive nesta época, nesta cultura. Especialmente agora, que as novas tecnologias facilitaram o acesso à cultura. A gente está o tempo todo entremeado a músicas, filmes e livros. E também a museus que podemos visitar nas nossas casas, pela internet. Isso apareceu naturalmente na minha narrativa porque, embora o livro trate de uma questão atemporal, as personagens pertencem a esta época.


Suas reportagens são o resultado de um longo trabalho de imersão na vida de seus personagens. Como surgiu sua opção por esse tipo de jornalismo?


E.B.– Eu só concebo a vida como uma entrega profunda. Então, fazer reportagem só me interessa se puder me entregar profundamente a um tema, a uma pessoa, a uma realidade. Neste momento de entrega, eu me esvazio de tudo o que sou (ou pelo menos tento me esvaziar o máximo possível, já que o esvaziamento total é apenas ideal) para alcançar o mundo do outro. E voltar desta viagem para contá-la ao leitor que não pôde estar lá, mas poderá através da minha escrita. Não acho que este é um “tipo de jornalismo”. Acho que isso é reportagem. Fazer reportagem exige imersão e entrega. Tem um custo alto do ponto de vista pessoal – mas vale muito a pena.


“A literatura é uma impossibilidade”


Que autores a influenciaram, tanto no jornalismo quanto na literatura? Por quê?


E.B.– Eu não saberia dizer. Desde que aprendi a ler, leio vorazmente. E leio de tudo. Leio o cânone, mas também sou uma vampiróloga e busco nos sebos livros de vampiros que vieram antes de Bram Stoker, por exemplo. Sou obsessiva e tenho fases: já tive a fase Balzac, a fase de literatura noir, uma fase Poe e Lovecraft, uma fase Jack London, uma fase Erico Veríssimo e outra Jorge Amado, só para citar algumas. Nestas fases, leio tudo o que esses autores escreveram ou o que foi publicado nesses gêneros literários. Depois, mudo de interesse e vou para outras paisagens. Hoje em dia, os autores que espero com mais ansiedade são Philip Roth, Ian McEwan e Coetzee. Mas tenho lido também escritores brasileiros contemporâneos, como José Castello e Luiz Ruffato, e tido ótima experiências.


Mas, o que acho importante assinalar é que testemunhei como repórter que o povo brasileiro tem uma diversidade e uma sofisticação de linguagem muito grande. Escutei analfabetos que criavam achados de linguagem riquíssimos. Pensava: “Nossa, este cara está fazendo literatura pela boca”. E estava mesmo. Então, acho que sou tão influenciada pelo cânone da literatura escrita como pela linguagem oral a qual tive o privilégio de ter acesso em todos os rincões do Brasil, tanto nas periferias urbanas como nas rurais. Tenho certeza de que, se a educação pública no Brasil tivesse melhor qualidade, nossa literatura escrita seria muito mais rica e interessante.


Laura mostra desalento ao afirmar: “Descubro que escrevi sobre a impossibilidade da literatura. O fracasso previamente assumido ao tentar transformar vida em palavra”. Escrever é fracassar? Toda a literatura está destinada ao fracasso?


E.B.– Acredito que sim. A literatura é uma impossibilidade – e a palavra, incapaz de abarcar a vida. Por isso é vital escrever. Porque é impossível. Na escrita, mais do que em qualquer outra expressão, está contida toda a tragédia humana.


***


[Paulo Lima é jornalista e editor da revista eletrônica Balaio de Notícias]


Fonte: Observatório da Imprensa

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