Estudo da Ufam confirma contaminação do Lago do Aleixo por dejetos de esgoto de presídio
Diagnóstico da Ufam apresentam altos índices de fósforo, nitrogênio, turbidez e cor acima do permito pela legislação ambiental
PICICA: Estudos recentes de pesquisador da Universidade Federal do Amazonas confirmam poluição do Lago do Aleixo. Como leitor fiquei curioso em relação ao pedido de anonimato para a repórter quanto à autoria do trabalho. Esta, fiel ao seu ofício, protegeu a fonte, como recomendam os manuais de redação e a ética jornalística. Que pena que fatos como esse não gerem matérias que ajudem a opinião pública a entender o que levam alguns de nossos pesquisadores a assumir atitudes incompatíveis com a coisa pública! Esse tipo de temor, que paralisa importantes áreas de conhecimento da universidade pública federal, dá a dimensão das circunstâncias em que se produz conhecimento com dinheiro público. Até quando ficaremos reféns do mal humor da autoridade de plantão? Talvez por isso, a comunidade, devidamente "escolada", tenha manifestado o desejo de levar a questão ao Ministério Público Federal, certamente mais independente do que a Vigilância Sanitária, como sugeriu o autor anônimo. Ou alguém em sã consciência afirmará que a Vigilância Sanitária, como uma instância do Poder Público, desconhecia que a obra do governo do Estado tenha praticado um atentado contra a vida dos ribeirinhos que usam das águas do Lago do Aleixo inclusive para pescar? E o que dizer da omissão do Conselho Estadual de Meio Ambiente? Não caberia a ela um parecer sobre a obra da Penitenciária, evitando assim a poluição revelada pela lente de Valter Calheiros, integrante do movimento SOS Encontro das Águas, que ilustra a reportagem. Tá na cara quem deve responder por esse crime. Até as crianças das escolas do bairro Colônia Antônio Aleixo, Puraquequara e comunidade Bela Vista sabem quem são os responsáveis. Porém, mais importante que a punição, urge providências para salvar o Lago do Aleixo, que tem como protetores apenas a teimosia das comunidades que insistem em lutar pelo seus direitos de cidadania.
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Resíduos de esgoto são despejados no Lago do AleixoFOTO: Valter Calheiros
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Igarapé Castanheira no período da secaFOTO: Valter Calheiros
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Unidade Prisional do Puraquequara, próximo ao Lago do AleixoFOTO: Valter Calheiros
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Estudo
realizado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em 2011 nos
períodos de vazante e cheia atestou a contaminação do Lago do Aleixo e
do Igarapé Castanheira, na Zona Leste de Manaus, causada por coliformes
fecais, despejos industriais, bactérias e matéria orgânica em
decomposição.
A análise do
diagnóstico foi feita em laboratório em janeiro deste ano e apresentado
nesta semana aos moradores dos bairros Colônia Antônio Aleixo,
Puraquequara e comunidade Bela Vista, áreas cortadas pelo lago e pelo
igarapé.
Os dados analisados
apresentam valores de fósforo total, turbidez, cor e nitrogênio total
acima do permitido pela resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente
(Conama), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Entre
as principais causas da poluição do Lago do Aleixo e do Igarapé
Castanheira está a grande concentração de resíduos do esgoto sanitário
provenientes da Unidade Prisional do Puraquequara (UPP). O despejo dos
coliformes é feito diretamente nas águas do lago e do igarapé, situação
que já vem sendo relatada pelos moradores há vários anos.
Doenças
O
autor da pesquisa, que não quer ter seu nome divulgado, disse que há
outras fontes de poluição, uma delas causadas pelos próprios moradores.
Mas ele destacou que a principal causa são os resíduos do esgoto do
presídio. Ele orientou os moradores a procurar a Vigilância Sanitária.
“A
preocupação com a situação do lago é histórica, mas nunca as denúncias
foram levadas a responsabilizar os culpados pela degradação do lago.
Hoje as águas e os peixes estão impróprios para o consumo dos moradores,
além de favorecer o aparecimento de doenças e em pouco tempo a própria
morte do lago”, conta o educador Valter Calheiros, membro do Movimento
S.O.S. Encontro das Águas.
Denúncia
As
lideranças comunitárias pretendem agora encaminhar os dados para as
autoridades públicas e Ministério Público Estadual e Federal.
“A
gente já conhecia essa realidade, mas agora a pesquisa comprovou o
problema. A comunidade corre perigo. Os dejetos vindos do presídio
prejudicam os banhistas, causam doenças como micose e polui o solo
freático. A gente quer fazer um abaixo assinado para ver se, desta vez,
as autoridades nos ouçam”, disse Adenaldo Costa, morador da comunidade
Bela Vista e membro do Conselho Municipal de Saúde.
Neuza
França, outra liderança comunitária e também conselheira municipal de
saúde, diz que “tudo de ruim” foi mostrado no diagnóstico.
“A
pesquisa nos mostrou que podemos até pegar câncer de pele e que podemos
pegar infecção intestinal por causa dos peixes que pescamos e comemos
no lago”, disse Neuza.
Para a
comunitária, outros resíduos também poluem o lago e o iragapé, tais como
resíduos químicos de fábricas de papel, de chumbo e de cimento,
empreendimentos comuns naquela região de Manaus.
O portal acritica.com
procurou, por email, a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de
Justiça (Sejus), ao qual o presídio é subordinado, pedindo informações
sobre o posicionamento do órgão a respeito do assunto, e aguarda
retorno.
Um ano atrás, a mesma
denúncia foi feita por moradores, antes da realização do estudo da Ufam.
A denúncia foi publicada no portal no dia 3 de fevereiro.
Um
dia depois, a Sejus emitiu nota dizendo que havia determinado que o
atual sistema de fossa da Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) seja
substituído por uma estação de tratamento de esgoto para evitar a
poluição do igarapé (curso d'água) que passa próximo ao local.
Fonte: A Crítica
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