julho 10, 2014

"Quando o nacionalismo estraga a Copa", por Bruno Cava Rodrigues

PICICA: "A Copa não é uma guerra mundial entre identidades nacionais. As seleções que perdem não saem como tropas derrotadas. Ao voltar pra casa, os guerreiros vencidos são festejados. Porque a festa é do comum do futebol."

Quando o nacionalismo estraga a Copa
Nacionalismo


É o esporte das minorias, o balé das virtudes de 22 singularidades que colaboram para um propósito comum. Antigamente, cada grande nação era um capitalismo e elas guerreavam entre si. Hoje, o capitalismo é um só e o imperialismo não depende mais de fronteiras. Está em todo lugar, globalizado. Apesar disso, as nações continuam guerreando no futebol. Mas todo mundo sabe ou deveria saber que é de mentirinha. No futebol, as bandeiras, camisas, hinos e declarações de “guerra” são pra tirar sarro, provocar, atiçar a diversão com as rivalidades. São declarações que já nascem artifício. A Copa não é uma guerra mundial entre identidades nacionais. As seleções que perdem não saem como tropas derrotadas. Ao voltar pra casa, os guerreiros vencidos são festejados. Porque a festa é do comum do futebol. A Copa é onde aprendemos a vibrar, com grande emoção, com um gol do Messi, de James, de David Luiz, de Robben e até da Costa Rica, com Bryan Ruiz. É o momento máximo do intercâmbio de alegrias e da confraternização incondicional, onde aos poucos as identidades se desvanecem num carnaval entre torcidas, turistas e nativos. As torcidas se encontram, se provocam, se abraçam e se beijam, amam-se amando o futebol.

Quando o futebol é dominado pelas maiorias, muda tudo. E o nacionalismo é uma formação daninha de maiorias. O nacionalismo não tem nada a ver com torcer para uma seleção. Torcer pra uma seleção é parte do jogo e não precisa de nacionalismo. Quando as identidades nacionais dominam a torcida, elas reaparecem como insígnias de combate e não mais como pretexto lúdico para o futebol e suas virtudes. O nacionalismo é quando o futebol se torna um meio, um instrumento de seus fins feios. Aí o imperialismo reaparece como guerra. O balé acaba e vira ódio. Quando o hino é gritado como autoafirmação e não como prelúdio da festa. É quando o hino dos outros é vaiado. O amigo argentino, colombiano, alemão ou nigeriano aparecem como ameaças de nosso amor próprio. E assim perdemos amantes em potencial, amantes de um amor maior. Quando isso acontece, o futebol oscila entre o tédio e a violência, tendendo para o grotesco. As torcidas não se misturam mais e cada jogo fica indigesto. Torna torcedores, narradores e comentaristas estúpidos. Torna a Copa uma coisa daninha, cada vez mais distante do futebol. Dá vontade de não ver, dá vergonha.

Fonte: Quadrado dos Loucos

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