setembro 01, 2008

Sobre tridentes e transtornos mentais

Foto: Plantio de arroz - Raposa Serra do Sol - Roraima-BR - publicada no Pajuaru
Prezado Rogelio,

acredito que estes textos descrevem a realidade e a complexidade da situação no Extremo Norte do Brasil,

abraço,

Katell Uguen
Curso de Agroecologia

E por falar em paranóia:

Ibama, Incra e Funai são "tridente do diabo", diz líder dos arrozeiros

27 / 08 / 2008
http://noticias.ambientebrasil.com.br/noticia/?id=40302

"A nossa vida estará sendo julgada amanhã, em Brasília", diz Paulo César Quartiero à reportagem do UOL minutos antes de embarcar para a capital do país a fim de acompanhar de perto o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que pode decidir pela demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e pela conseqüente retirada dos não-indígenas daqueles terras.

Quartiero é prefeito e candidato à reeleição em Pacaraima, cidade a 250 km da capital de Roraima, Boa Vista. Dono de duas das maiores fazendas de produção de arroz do Estado, o prefeito e empresário tem liderado a resistência à demarcação contínua. "O Supremo tem nas mãos uma decisão que não afeta só a mim, afeta toda uma cidade. O município de Pacaraima desaparece porque fará parte da área demarcada", diz ele.

Das 33 ações que serão julgadas nesta quarta-feira (27) pelo STF,"muitas" são da parte de Quartiero. Sem especificar quantas são, o empresário diz que são todas procedentes e que tem confiança na Justiça. "O laudo que determinou a demarcação da Raposa é uma fraude e eu confio no patriotismo dos nossos representantes em Brasília pra que o Brasil não seja entregue nas mãos de ONGs estrangeiras."

O fazendeiro defende que os índios organizados no Conselho Indígena de Roraima (CIR) estão "a serviço" e são "instrumentos" de organizações não-governamentais estrangeiras que querem facilitar o acesso ao país pela fronteira com a Venezuela e com a Guiana. Segundo ele, a demarcação de toda aquela área como Terra Indígena dificulta a fiscalização do Exército Brasileiro.

"Eu não tenho problema nenhum com os índios. Eles são meus eleitores, me elegeram prefeito e trabalham para mim", diz Quartiero. "Os que conflitam comigo são uns poucos representados pela CIR."

"Conseqüências imprevisíveis" Paulo César Quartiero diz que vai acatar e cumprir a decisão do STF, mas alerta que as conseqüências de uma possível decisão pela demarcação contínua serão "imprevisíveis". "Para começar, isso acaba com toda a esperança de um povo", diz ele. "O nosso Estado já é pobre e tem o pior índice de segurança alimentar do Brasil. A produção de arroz está diretamente relacionada com o desenvolvimento de Roraima."

O empresário lembra que está na região do Rio Surumu (que hoje faz parte da área de reserva) há mais de 20 anos. "Mas eu comprei isso de outro fazendeiro que desenvolvia ali a pecuária. E a fazenda data de muito antes disso, é de 1922", sustenta. "Só ali, a minha empresa de agro-pecuária emprega 200 pessoas. E nunca houve índio naquele lugar. Eles apareceram agora, como instrumentos dessas ONGs."

"As hastes do tridente do diabo" - Quem está "criando problema" na região, de acordo com Quartiero, é o governo federal, por meio principalmente do Ministério da justiça. "O senhor Tarso Genro mando sua polícia aqui para nos expulsar e criou essa confusão toda. Quem está criando problema em Roraima é essa haste do tridente do diabo, formado por Ibama, Incra e Funai", diz ele.

Setores do governo teriam sido "cooptados", segundo Quartiero, por instituições que defendem interesses internacionais. "Além desse tridente, há gente má intencionada dentro do Ministério Público Federal e principalmente do Ministério da Justiça".

Até por isso que o empresário não esconde de ninguém que desaprova a permanência da Polícia Federal e de guardas da Força Nacional na região de Pacaraima. E ele manifestou isso com uma faixa afixada bem diante dos agentes federais que fazem plantão na entrada da reserva, no Distrito de Surumu. "Não à Polícia Federal. Sim ao ExércitoBrasileiro".

Paulo César Quartiero viajou para Brasília nesta terça-feira (26) e deve voltar ao Estado de Roraima somente na sexta-feira (29), "depois que pensarmos como contornar as possíveis conseqüências do julgamentodo STF", diz. "Na sexta-feira eu terei motivos para comemorar ou uma grande dor de cabeça." (Fonte: Carolina Juliano/ Estadão Online)

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Epilepsia e transtorno bipolar

Jessé Souza *, na Folha de Boa Vista!
29-08-2008

Andei vasculhando alguns tratados médicos. Estava querendo entender algumas paranóias que atingem a coletividade. Descobri um transtorno bipolar em Dom Quixote Dela Mancha. Em Dostoievski encontrei uma epilepsia que era precedida de uma alegria intensa antes do ataque fatal.

A propósito, transtorno bipolar era conhecido, faz algum tempo, como psicose-maníaco-depressiva. A doença apresentava-se em ciclos de psicose, que nada mais é do que ausência parcial da realidade com pequenos delírios e idéias fixas.

Identifiquei que boa parte da população roraimense sofre de transtorno bipolar e de epilepsia. O transtorno bipolar revela-se quando as pessoas parecem viver uma realidade paralela, quando entram num surto coletivo das paranóias inventadas pelo poder local.

A questão indígena é apenas um exemplo. As pessoas ficam cegas, absorvem um discurso alarmista irreal, exagerado, a ponto de ficar com idéias fixas impossíveis de serem curadas. Eu não tenho mais nenhuma esperança nesses adultos que estão em surtos constantes. Só creio que as crianças de hoje> ainda podem se curadas.

Há também, por aí, um monte de gente epilética. Amazoner Okaba disse-me que ele tem um colega que identificou vários tipos de epilepsia, além da tradicional: auditiva, visual e até verbal (essa eu inventei de graça).

As pessoas surtam e ficam ouvindo vozes interiores repetindo mantras que são inventados principalmente pela classe política: "Estamos sendo invadidos!"; "Estão tomando nossas terras"; "Estão conspirando"; "Estão entregando o ouro"...

E há os epiléticos visuais que juram estar vendo monstros nas fronteiras, objetos voadores mapeando nossas minas de urânio, o Chávez mudando o marco na fronteira e Obama antes de ganhar a eleição posicionando o exército para tomar de assalto nosso mingau de arroz.

Enquanto a gente fica vendo monstro e ouvindo vozes interiores, eles vão metendo a mão na grana que era para comprar remédios; vão ganhando incentivos fiscais; vão vendendo para o governo e não entregando; vão desviando recursos para asfaltar estrada; vão contratando parentes. E, na cara de pau, eles ainda põem a culpa de tudo isso na questão indígena.

Sofrendo de transtorno bipolar e de epilepsia, a população não consegue enxergar a realidade. Busca um sentido para a vida chata se alimentando das paranóias. E a paranóia traz uma adrenalina que já viciou a todos.

Ninguém consegue mais viver sem sobressaltos, sem pânico, sem obsessões. Aí os políticos ganham o voto metendo medo e o governo faz suas maracutaias se escondendo atrás do pânico geral.

Quando não houver mais pânico, paranóias, surtos ultranacionalistas, teorias de conspiração, aí o povo vai entrar em depressão profunda. E vai descobrir que a vida é chata e que o melhor é morrer. Por isso não é bom que nós nos curemos do transtorno bipolar e da epilepsia. É o fim.

P.S: Acorda Brasil! Tô contigo, ministro Ayres Britto.

* Jornalista - jesse@folhabv.com.br - Visite o blog do colunista:
http://pajuaru.blogspot.com/
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