outubro 01, 2009

Em nome da ciência, ABP continua a negar a história da instituição psiquiátrica

Hospital Colônia Eduardo Ribeiro
Foto:
Rogelio Casado
Anos 1980
Nota do blog: A Associação Brasileira de Psiquiatria tentou tirar uma casquinha da Marcha dos Usuários a Brasília. Mas ela tem um caroço por engolir. A circunstância histórica em que ela se posicionou contra a instituição psiquiátrica da época tem um contexto de luta pela democratização do país. Marcos Toledo de Ferraz, então presidente da entidade, soube interpretar os anseios do seu tempo e honrou seu nome e o nome da instituição que dirigia. Nunca mais o feito seria repetido. O viés conservador da psiquiatria que combatemos ainda exala seu odor, muito semelhante ao odor inesquecível dos hospícios brasileiros.

“Reforma psiquiátrica”: posicionamento da Associação Brasileira de Psiquiatria

Sobre a chamada marcha da luta antimanicomial, que acontece hoje em Brasília, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) esclarece e informa que:

- Nos anos 80, a ABP foi a primeira entidade a questionar a qualidade de atendimento das instituições de característica asilar e a defender propostas como a ampliação da rede extra-hospitalar e a criação de unidades psiquiátricas em hospital geral.

- Desde então, o poder público tem se mostrado resistente a debates técnicos e se nega a acompanhar propostas cientificamente embasadas apresentadas pelos médicos brasileiros.

- Os grupos responsáveis por manifestações como as de hoje não aceitam o conhecimento científico que aponta estratégias terapêuticas necessárias ao bom tratamento das pessoas com transtornos mentais e promoção da saúde mental.

- Essas evidências mostram que somente uma rede de atendimento integrada e hierarquizada que respeite os níveis de gravidade das doenças mentais, desde prevenção e atenção básica até serviços de internação, dará conta das necessidades diversas destas pessoas. A Lei 10.216/2001 garante aos doentes acesso a todas as modalidades de tratamento necessárias para sua melhora.

- Para contribuir com o debate sobre os serviços de saúde que devem integrar essa rede, a ABP produziu em 2006 as “Diretrizes para um modelo de assistência integral em saúde mental”. O documento foi entregue ao Ministério da Saúde. Anexa encontra-se versão resumida do material, com representação gráfica de como essa rede deve funcionar e quais os principais problemas do atual sistema.

- A psiquiatria, como ciência e especialidade médica, defende os direitos de pacientes e familiares. É, portanto, antimanicomial.

- Como instituição que procura contribuir para o debate técnico, reconhecemos que esses grupos apontam falhas importantes no sistema implantado pelo Ministério da Saúde. Apesar disso, carecem de critérios e embasamento técnico.

- A ABP destaca a urgência para ações preventivas e preconiza que a rede atenda a todas as necessidades dos doentes nos níveis primário, secundário e terciário, inclusive oferecendo leitos em hospitais quando exigidos por diagnóstico médico.

- Por fim, cumpre esclarecer que o termo “reforma psiquiátrica” é inadequado. As mudanças previstas na Lei 10.216/2001 são para o modelo de assistência em saúde mental do Brasil, não para uma especialidade médica. Ou seja, a psiquiatria não necessita de reforma e sim o modelo de assistência em saúde mental.

Associação Brasileira de Psiquiatria

Fonte:
ABP

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