abril 03, 2010

A aula que Demenstein faltou: o valor da baderna

Corte sobre fotografia postada em acertodecontas.blog.br

Nota do blog: Castigo para o Dimenstein: copiar mil vezes o artigo do Victor Vigneron.

PROFESSORES EM GREVE

O valor da baderna

Por Victor Vigneron em 30/3/2010

O jornalista Gilberto Dimenstein publicou no sábado (27/3), na Folha Online, uma "pensata" em que procurava qualificar a manifestação dos professores paulistas em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual. Na opinião de Dimenstein, tratar-se-ia de uma "aula de baderna", expressão de uma "minoria organizada e motivada, em parte, pelas eleições deste ano" (ver "Professores dão aula de baderna").

No mesmo dia, a cobertura da greve dos docentes estaduais foi "promovida" do caderno "Cotidiano" para o caderno "Brasil" da Folha de S.Paulo. De acordo os repórteres Fábio Takahashi e Ricardo Westin, a greve teria um caráter abertamente "político", o que poderia ser aferido através das declarações públicas de seus dirigentes, bem como pela filiação partidária do sindicato da categoria. Por seu turno, ainda segundo a reportagem, a ação policial teria amparo legal: "Uma norma estadual determina que as ruas do Palácio são área de segurança e não podem receber atos desse tipo."

Cito esses dois casos por entendê-los como paradigmáticos quanto à cobertura jornalística dispensada à greve dos professores paulistas. Com ênfases diversas, tornou-se quase uma unanimidade apontar para o viés "político" do movimento. Mas talvez seja possível acrescentar algo à discussão. Nesse sentido, tomar a paralisação docente como expressão da crise vivida pela educação pública estadual permite pensar algo para além da superfície cotidiana das informações. Por "superfície", leia-se: a redução da greve a uma reivindicação salarial e a um objetivo eleitoral.

A partir dessa perspectiva, a batalha selvagem pelo reajuste mal conseguiria disfarçar sua associação com a guerra eleitoral que se avizinha. E é a equivalência mecânica entre política e eleições que alimenta uma imagem negativa da "greve política". A tarefa que se impõe, ao contrário, é reivindicar o caráter apropriadamente político da greve.

Acima de qualquer questionamento

Ora, a greve abre-se a uma discussão dos pressupostos educacionais instituídos; revela o que há de político naquilo que se apresenta como técnico; restitui à discussão aquilo que havia sido separado pela autoridade do especialista. Assim, o diálogo político deve ter como conteúdo privilegiado o "indiscutível": por um lado, a constituição de um corpo docente tecnificado, aplicador das diretrizes autorizadas; por outro lado, a preparação do corpo discente para ser empregado no mercado de trabalho.

Em última instância, trata-se de discutir se a educação serve à informação de mão de obra ou à formação de cidadãos. Nesse sentido, as ruas que circundam o Palácio dos Bandeirantes são um local particularmente favorável a uma manifestação efetivamente política. A interdição legal dessa região a manifestações de descontentamento é o aspecto indiscutível questionado pelo ato dos professores. A profanação desse espaço é, nesse sentido, o gesto que pode restituí-lo ao uso comum.

Justificar a ação policial com base no aparato legal instituído é, de modo oposto, um gesto vazio: o conteúdo real da proibição é apenas a própria proibição. No entanto, o efeito moral e físico do aparato acionado para "disciplinar" o uso das ruas próximas ao palácio é efetivo. E o que parece de fato preocupante na situação crítica evidenciada pela greve é não tanto sua instrumentalização no interior da arena eleitoral, mas sua captura no interior dos mecanismos despolitizados de gestão. Desse ponto de vista adquire sentido o desvalor atribuído aos movimentos grevistas recentes, tratados no mais das vezes como mero estorvo à engenharia de tráfego.

Assim, uma crítica ao paradigma exemplarmente expresso por Dimenstein, Takahashi e Westin se volta não tanto contra aquilo que eles oferecem como argumentação, mas contra aquilo que, em seus textos, parece pairar acima de qualquer questionamento possível: trata-se de reivindicar a educação como um problema apropriadamente político.

Fonte: Observatório da Imprensa

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