março 23, 2011

"Uma nuvem radioativa no céu italiano", por Astrid Lima

PICICA: "Em junho deste ano, os italianos são mais uma vez chamados  a votar sobre este tipo de energia. Espero que esta nuvem radioativa que chega amanhã nos céus da Itália não esconda dentro de si o potencial destruidor que o nuclear pode produzir, mas que tenha o mesmo efeito secundário — e não menos importante — provocado por Chernobyl: impedir definitivamente a Itália de recorrer ao uso de energia nuclear."
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Uma nuvem radiotiva no céu italiano


Espera-se a chegada, na Itália, de uma nuvem radioativa proveniente da usina nuclear de Fukushima entre quarta e quinta-feira (23 e 24 de março).
A notícia é perdida entre as manchentes dos jornais italianos que abrem com a ação militar na Líbia, a possível chegada de milhares de refugiados na ilha de Lampedusa e os problemas de Berlusconi com a lei.

Esssa perda de destaque do Japão na imprensa nacional seria um bem se refletisse uma significativa melhoria da situação no pais do sol nascente, mas as informações desta manhã demonstram o contrário:


Apesar do retorno de eletricidade em 5 dos seis reatores da usina de Fukushima Daiichi, a situação ainda é considerada “difícil”. Voltou a sair fumaça do reator mais perigoso, o n° 3, que contêm o famigerado “Mox”, uma misto de óxido de urânio e plutônio muito mais radioativo que o combustível de urânio.


Além disso, foi encontrado material radioativo na água do mar, em verduras das áreas vizinhas à central e até na água de Tóquio. A impressão que temos é a de que ninguém ainda sabe com certeza a dimensão do desastre e da contaminação provocados pelas usinas de Fukushima.


Enquanto isso o ISPRA (Instituto Superior pelas Proteção e a Pesquisa Ambiental) assegura que a nuvem radioativa “aumentará a radiotividade, mas em doses mínimas” e que “até o momento não há absolutamente riscos para a população”. É bom relembrar que o ISPRA é o mesmo que poucos dias atrás classificou no nível 5 o acidente japonês, enquanto a agência nuclear francesa o avaliava no 6° nível.


Muda muitíssimo. A escala de eventos radioativos vai de zero a 7. O acidente estadunidense de Three Miles Island, em 1979, foi indicado como 5° nível; aquele de Chernobyl, em 1986, está no sétimo e último nível.


Os italianos lembram perfeitamente o acidente do dia 26 de abril de 1986, quando o aumento da temperatura no núcleo do reator numero 4 da usina nuclear V.I. Lenin, na Ucrânia, determinou uma série de reações químicas que desembocou no mais grave acidente nuclear até hoje registrado. O nome “Chernobyl” ficou impresso na memória coletiva, as histórias se multiplicam.
“Durante meses não podíamos nos aproximar da grama, as crianças não podiam brincar nos jardins”.
“O leite fresco era proibido, assim como as verduras e a carne. Para quem tinha crianças pequenas foi uma corrida para encontrar leite e outros alimentos de longa duração confeccionados antes do desastre de Chernobyl”.
“Quando minhas filhas voltavam da escola tiravam os sapatos na entrada, os colocávamos dentro de sacolas de plástico, as divisas eram imediatamente lavadas ou colocadas em separado das outras roupas”.
Um considerável aumento de problemas e de câncer da tireóide na Itália foi registrado depois dos anos 80. Em 1987, sob o efeito de Chernobyl, o povo italiano, num grande referendo, votou contra o uso da energia nuclear, fechando todas as usinas presentes no território nacional. O governo Berlusconi, com a usual falta de respeito democrático, decidiu reabrir um programa de retorno ao uso do nuclear.


Em junho deste ano, os italianos são mais uma vez chamados  a votar sobre este tipo de energia. Espero que esta nuvem radioativa que chega amanhã nos céus da Itália não esconda dentro de si o potencial destruidor que o nuclear pode produzir, mas que tenha o mesmo efeito secundário — e não menos importante — provocado por Chernobyl: impedir definitivamente a Itália de recorrer ao uso de energia nuclear.


A imagem acima está neste Modelo de propagação da nuvem radioativa provocada pela contaminação da usina nuclear de Fukushima Daiichi

Fonte: Diário do Amazonas

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