PICICA: Durante muito tempo nos causou desconforto a pauta única do movimento estudantil ficar centrada no transporte público. Sua delimitação na luta pela meia passagem gerou dividendos políticos, elegeu parlamentares, fez história e memória ainda hoje citada pelos seus principais líderes. Até recentemente era recorrente no discurso da senadora Vanessa Grazziotin. A força dos estudantes universitários sempre foi motivo de orgulho no Brasil. O desconforto mencionado prende-se ao fato a questão do transporte público reduzido à meia-passagem virou uma espécie de bandeira única. Outros temas de importância social ficaram fora do debate público. A ausência dos estudantes universitários na luta em defesa do tombamento do Encontro das Águas, por exemplo, é um sintoma na história do movimento estudantil, sobretudo na vida do PC do B local. O que há de novo na manifestação da terça-feira é a posição clara e insofismável de apoio à população submetida a novo aumento de tarifa para um sistema de transporte cujo modelo está definitivamente ultrapassado. Uma cidade com dois milhões de habitantes (ainda que o IBGE negue essa evidência) não pode depender das modalidades de transporte existentes (ônibus, micro-ônibus, táxis-lotação e moto-táxis; estes últimos surgidos no meio da incompetência em dotar a cidade de modernos meios de transporte, o que acaba por submeter o cidadão a riscos desnecessários). Tampouco pode conviver com ruas que ajudam a danificar rapidamente os novos veículos em trânsito, tal é a quantidade de buracos, "mondrongos" e remendos em artérias recém-asfaltadas, como a Av. Tefé. Num ano ela foi objeto de vários reparos devido a ausência de um procedimento prosaico: exigir que moradores e comerciantes aproveitem o ensejo, antes do asfaltamento, para fazer a revisão da rede de encanamento de água. Caso contrário, o que se verá - e já se vê - é uma rede de remendos que põe em risco trânsito, motoristas e pedestres, esbanjando irregularidades, como afundamentos e elevações comprometedoras. Antigamente era a Cosama que não dialogava com a Urbam. Mudam o nome dos órgãos do governo, mas o desrespeito com o dinheiro do contribuinte continua o mesmo. Que não se responsabilize apenas os moradores e comerciantes da região! Os órgãos governamentais, além de não exigirem o cumprimento da parte que cabe ao contribuinte, foram os primeiros a destruir o novo asfalto da Tefé. Esqueceram de avisar ao Prosamin para realizar as obras da rede de esgoto sanitário antes do asfaltamento. Pasme! Nem bem o asfaltamento foi concluído e lá apareceu esta importante iniciativa a bem rasgar a avenida para passagem da rede de esgotos. Sabe-se que a cidade é carente deste tipo de rede. Mas, caramba! Não há planejamento, de modo a evitar o desperdício do dinheiro público? Por falar nisto, é no debate público do Plano de Diretor que tais questões são dirimidas, e, mais do que isso, são decididas. No entanto, a representação estudantil não se faz presente neste debate. As autoridades municipais suspenderam os debates em torno do PD, depois do fiasco da metodologia usada para envolver o cidadão e suas representações. E se acomodaram convenientemente. Sem o debate, ficamos privados de discutir, para ficar apenas num exemplo, o tão necessário monotrilho, mas cujo traçado foi concebido sem o mínimo respeito à história da cidade. Resumo da ópera: desconsiderando as objeções técnicas oferecidas pelo Ministério Público Federal, o silêncio dos estudantes, entre outros, contribui para o enfraquecimento da cidadania, ao deixar nas mãos da tecno-burocracia o futuro da cidade. E aos que se incomodam com os atropelos provocados no trânsito pelo movimento estudantil - ainda que concordemos que um mínimo de sensibilidade é o que se espera para quem quer a adesão da população -, paradiando a presidente Dilma Rousseff, o PICICA prefere o "barulho" dos estudantes do que o "silêncio" imposto ou concordante daqueles que serão os futuros administradores da cidade que queremos e que nos pertence. Vale lembrar a poesia de Aldísio Filgueiras: A [cidade] me inventa / e me devora. É minha [nossa] / presença que se quer / deixar num [poema] inscrita...
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