março 22, 2011

Entrevista a Ladislao Martínez: la crisis nuclear en Japón / O dilema nuclear japonês, por Tomi Mori

PICICA: "Quando uma catástrofe nuclear ocorre, não há quem possa resolvê-la da noite para o dia ou, em questão de minutos, que é o necessário. O facto de que a Tokyo Electricidade, a quarta empresa do ranking mundial, no sector eléctrico, não tivesse um, nem mesmo um, equipamento para ser utilizado na catástrofe de Fukushima mostra de forma inequívoca o despreparo dos japoneses frente a uma tragédia Se a segurança da população fosse a prioridade número 1, desde o acidente já estariam a ser tomadas medidas para sepultar, com betão, definitivamente, a central de Fukushima. A opção de continuar com os riscos é absolutamente clara." (Tomi Mori)
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Entrevista a Ladislao Martínez: la crisis nuclear en Japón


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Fuente: Rebelión

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O dilema nuclear japonês

O Japão é uma espécie de panela onde estão colocadas 55 pipocas nucleares e ninguém sabe quando alguma vai explodir.
Lead: 
O Japão é uma espécie de panela onde estão colocadas 55 pipocas nucleares e ninguém sabe quando alguma vai explodir.

Three Mile Island (1976), nos Estados Unidos; Chernobyl (1986), na Ucrânia; Fukushima (2011), Japão, são exemplos mais do que suficientes para provar que a energia nuclear está, ainda, muito longe de ser uma opção segura para suprir as necessidades humanas. Além desses, ocorreram vários acidentes de menor escala. A devastação que a energia nuclear pode causar na vida dos seres humanos foi demonstrada, de forma brutal, pelos americanos, que despejaram as bombas na população civil indefesa de Hiroxima e Nagasaki, durante a segunda guerra mundial.
A tragédia nuclear ocorreu tanto num pais atrasado, como a Ucrânia, e também em dois dos mais desenvolvidos, EUA e Japão.
Os defensores da energia nuclear como alternativa segura só podem fazê-lo sob duas circunstâncias. A primeira, com deficiência física ou mental (cegueira e demência, entre outras possibilidades). A segunda, se por trás da defesa estiverem interesses económicos, que se expressam de forma política, ligados aos sectores que ganham dinheiro com a energia nuclear. Não só os que a produzem efectivamente, como as empresas eléctricas, como toda uma gama de sectores ligados, em particular a construção civil e de equipamentos.
Mais de 60 anos de experiência prática com energia nuclear são suficientes para que nos coloquemos completamente contrários à sua utilização. Seja em projectos futuros, como na necessidade evidente de fecharmos todas as centrais existentes, se quisermos viver num mundo mais seguro. Quem gosta da própria pele, da dos filhos e netos, não pode pensar de outra maneira. Mesmo por que existem outras fontes de energia ainda pouco desenvolvidas, como a solar e a dos ventos, além de outras menos conhecidas. Na Índia por exemplo, produz-se gás em várias comunidades utilizando-se excrementos das vacas. Mas, obviamente, não é esse o modelo de desenvolvimento futuro.
Dependência nuclear versus segurança, a contradição japonesa
O Japão, que foi modelo de desenvolvimento em épocas passadas, fez uma opção estratégica pela utilização de energia nuclear como forma de desenvolvimento e manutenção de um elevado padrão de vida. Mesmo passando pela criminosa, amarga e humilhante devastação nuclear de Hiroxima e Nagasaki, a burguesia japonesa optou por infestar o arquipélago com reactores nucleares. De norte a sul de Honshu, a principal ilha do arquipélago japonês, estavam funcionando, até à tragédia de Fukushima, nada menos que 55 reactores. Além desses, estão em andamento vários projectos de instalação de novos. O Japão, como sabem todas as pessoas medianamente informadas, é um pais que sofre milhares de terramotos todos os anos. São terramotos que variam de intensidade, muitos deles imperceptíveis, mas outros de grande magnitude. Os terramotos ocorrem em todas as partes do arquipélago, sendo impossível dizer, por esse motivo, que exista algum lugar seguro. Sem entrar em detalhes geológicos, o Japão encontra-se numa das regiões mais instáveis do planeta. Desde o fatídico terramoto do dia 11 de Março, já ocorreram mais de 200 terramotos de magnitude superior a 5. Para quem nunca viveu a experiência de terramotos, posso garantir que um terramoto de escala 5 é capaz de pôr em pânico milhões de pessoas e causar estragos tremendos, derrubando edifícios e provocando tsunamis devastadores
O Japão é uma espécie de panela onde estão colocadas 55 pipocas nucleares e ninguém sabe quando alguma vai explodir. Não se trata apenas da segurança dos japoneses, que desde logo, têm o direito de fazer o haraquiri atómico, se assim o desejarem. Todos os povos tem o direito de escolher os seus próprios caminhos, o direito elementar democrático da auto-determinação No caso japonês, se olharmos com alguma atenção ao mapa e verificarmos a distribuição das centrais, fica evidente que não representa apenas uma ameaça aos japoneses como também aos países vizinhos. Em particular os mais próximos, as Coreias, a China, a Rússia, Taiwan, Filipinas e outros mais afastados, mas nem por isso imunes a uma tragédia em terras nipónicas
O modelo japonês de desenvolvimento tinha, até a semana passada, a participação de cerca de um terço de energia nuclear. Isso demonstra a profunda dependência do país frente a essa devastadora opção energética. É impossível fechar todas as centrais nucleares japonesas? É claro que não, mas, também, é claro que os efeitos dessa decisão seriam de grande magnitude, dada a dependência existente. Acarretaria a necessidade de uma mudança radical no modo de vida, que poderia, inclusive, transformar-se num modelo para o mundo. Mas essa opção não corresponde à maioria dos interesses económicos do capitalismo japonês, que criou este monstro nuclear chamado Japão. A contradição reside também no conservadorismo da sociedade japonesa. Desculpem-me por afirmar isso num momento em que a dor afecta milhões de pessoas, mas exactamente por isso pode ser uma boa oportunidade de fazê-lo A rapinagem japonesa efectuada em todos os cantos do planeta permitiu ao povo japonês um padrão de vida excepcional, levando-se em conta a miséria em vários países. Se hoje falta energia no Japão, no Nepal, por exemplo, existem pessoas que nunca puderam ver, sequer, uma lâmpada acesa. No Nepal, 90% da população vive sem electricidade e uma boa parte do país não possui nem estradas. Só para ficarmos apenas num exemplo. A sociedade japonesa, além do conservadorismo é profundamente egoísta. Se alguém acha que exagero, gostaria de lembrar que, ainda hoje, a operação de resgate conta com um número insuficiente de pessoas. Noutra sociedade, menos egoísta, iríamos presenciar batalhões de jovens dirigindo-se voluntariamente à área afectada, para ajudar no resgate e também na reconstrução de milhões de vidas destruídas. Mas o que vemos hoje é apenas uma minúscula, microscópica, manifestação de solidariedade.
Segundo os optimistas, a crise energética ira durar apenas alguns meses, até o Verão. Mas não encontrei ainda os motivos que levam a esse optimismo. De onde esses optimistas irão conseguir energia, não está claro. Parece ser mais realista esperar que isso vá prolongar-se pelo menos por médio ou longo prazo.
O conservadorismo, o egoísmo e, acima de tudo, os interesses económicos, não permitirão ao Japão abandonar, imediatamente, a opção nuclear, o que seria mais seguro. Os japoneses não abandonarão o seu padrão de vida, tampouco a rapinagem mundial. Sendo assim, provavelmente, teremos mais acidentes pela frente. Não só estão em risco a vida dos japoneses, como a vida das pessoas de países vizinhos. O desenvolvimento chinês traz, através dos ventos, a poluição industrial às terras japonesas. Pode não estar distante o dia em que, ao contrário, um desastre nuclear japonês leve a radiação para território chinês.
Quando uma catástrofe nuclear ocorre, não há quem possa resolvê-la da noite para o dia ou, em questão de minutos, que é o necessário. O facto de que a Tokyo Electricidade, a quarta empresa do ranking mundial, no sector eléctrico, não tivesse um, nem mesmo um, equipamento para ser utilizado na catástrofe de Fukushima mostra de forma inequívoca o despreparo dos japoneses frente a uma tragédia Se a segurança da população fosse a prioridade número 1, desde o acidente já estariam a ser tomadas medidas para sepultar, com betão, definitivamente, a central de Fukushima. A opção de continuar com os riscos é absolutamente clara.

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