Novo Paraíso, a versão baré de Pinheirinho
PICICA: O jornalista Robson Franco desvela o que está por trás da vergonhosa reintegração de posse de terras da comunidade Novo Paraíso, onde vivem famílias de trabalhadores rurais entre cinco, dez e trinta anos naquele lugar. A Prefeitura de Manaus afirma que trata-se de uma Área de Proteção Ambiental (APP), mas omite as razões pelas quais concedeu a uma empresa da filha do reclamante a concessão para extração de areia do local, conforme atestam as fotografias do jornalista. Tem piranha nesse pirarucu!
Você deve estar acompanhando as discussões sobre a reintegração de posse do terreno conhecido como Pinheirinho, em São José dos Campos (SP) e deve estar achando um absurdo o fato de ser um lugar onde o proprietário deve uma fortuna à prefeitura e o lugar deverá ser doado a uma poderosa empresa de telecomunicações. Mas em Manaus, como pode haver em tantas outras cidades deste nosso país continental, acontece outras reintegrações igualmente vergonhosas ou até piores.
Na Zona Norte de Manaus existe uma comunidade rural chamada Novo Paraíso, com famílias que moram lá há cinco, dez e até 30 anos. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), afirma que a comunidade é uma Área de Preservação Ambiental (APA) e entrou com recurso na justiça para fazer a retirada dos moradores que, por definição, já são considerados de populações tradicionais.
A exemplo do que ocorreu em Pinheirinho, uma medida judicial federal que determina a permanência dos moradores que lá estão. A briga é antiga e um dos envolvidos é o empresário Alcione Pigmata Bonfim, dono de uma empresa de construção civil, a Eletroferro. Em audiência pública na Assembleia Legislativa do Amazonas, os moradores pediram que a área fosse regularizada.
Também no mesmo caminho de Pinherinho, houve confronto. Mas não apenas da polícia com os moradores. Mas de seguranças de Bonfim com os moradores. O resultado foi duas mortes de seguranças. Os moradores afirmaram à época que esses mesmos seguranças foram atrás de moradores mais antigos e que possuem a escritura do terreno que Bonfim afirma ser dele.
A Semmas, por sua vez, afirma que o terreno é do municípío e por isso o transformou em APA. Não explica, no entanto, porque deu autorização para a empresa da filha de Bomfim extrair areia do local conforme mostra as fotos abaixo:
Agora preste atenção no estrago que estão causando em uma Área de Preservação Ambiental (APA):
Ok, a Semmas se exime dizendo que o Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) foi quem autorizou a retirada de areia na área em que ela se diz responsável. Mas esquece de dizer que a área em que os moradores da comunidade Novo Paraíso estão em um terreno rico em areia e seixo, material indispensável para suprir o mercado da construção civil que está em plena expansão em Manaus e que provavelmente este é o motivo da disputa.
No ano passado, em dezembro, foi feita uma outra reintegração onde não apenas derrubaram as casas dos moradores como os fiscais da Semmas levaram animais e frutos que estavam para serem colhidos e até mesmo eletrodomésticos. "Foi um absurdo já terem derrubado as casas, e ainda levaram animais, produtos rurais e de alguns levaram aparelhos domésticos", denunciou uma moradora que preferiu não se identificar para evitar retaliações.
Na semana passada, nova reintegração de posse e os moradores novamente acusam de levarem seus pertences para o depósito da Eletroferro no bairro da Compensa, zona Oeste de Manaus. Novo momento de terror para uma comunidade que quer apenas fazer jus ao seu nome: Novo Paraíso.
E se você acha que é só em Manaus ou São Paulo, pode procurar que pelo menos em cada capital ou cidade de porte considerável tem seu Pinheirinho ou Novo Paraíso! Eu poderia ainda citar aqui a comunidade Águas Claras, Carbrás, e por aí vai!
Fonte: @brasilianas.org
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