PICICA: "Um povo de
tradição oral como o Mapuche tem na voz do Lonko a sua espada aguda para
levar a mensagem, e ao negar a palavra a Aniceto Norin que é uma
autoridade ancestral, a corte está silenciando a voz de um povo que luta
para ter o direito de sobreviver com dignidade no seu território
wallmapu."
MAPUCHES SILENCIADOS NA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
por Paulo Roberto*
Hoje dia 29 e
amanhã 30 de maio sete Mapuche vítimas do Estado chileno estão sendo
ouvidos na CIDH em San José da Costa Rica, alias ouvidos não uma vez que
eles foram impedidos de falar, o máximo que eles podem é entregar uma
denuncia formalizada em papel.
Um povo de
tradição oral como o Mapuche tem na voz do Lonko a sua espada aguda para
levar a mensagem, e ao negar a palavra a Aniceto Norin que é uma
autoridade ancestral, a corte está silenciando a voz de um povo que luta
para ter o direito de sobreviver com dignidade no seu território
wallmapu.
Desde o
Parlamento de Coz Coz celebrado entre o Estado chileno, a Nação Mapuche e
a Igreja, tinha se acordado que o território Mapuche seria respeitado e
não mais eles seriam abatidos como se fossem animais. Todos sonhavam em
ver a expressão marrichiweu em desuso, não mais um Waichefe abatido,
não mais um Lonka torturado por defender seu povo, não mais uma Machi
impedida de celebrar o Nguillatún, como é o caso da Millaray Huichalaf
presa há quatro meses no cárcere de Valdívia.
O Estado
chileno não conseguindo colonizá-los, parte para a estratégia da
“pacificação” colocam os Mapuche como selvagens, e empreendem uma
estratégia de “amansar” os arredios guerreiros para conquistar aquilo
que não foi possível através das armas.
A decisão da
Corte Interamericana de Direitos Humanos de silenciar a voz de Aniceto
Norin e Patrícia Troncoso no tribunal é o mesmo que quebrar o arco de um
guerreiro. Na língua Mapuche mapundungun a palavra pulchetun, quer dizer: faça deslizar a flecha mensageira.
E essa flecha é a palavra do Lonko, autoridade ancestral que defende
com coragem o povo das investidas dos inimigos, hoje as transnacionais
que disputam cada palmo de terra do território Mapuche para projetos que
visam somente o lucro e a exploração impiedosa da natureza.
Em uma
entrevista hoje no Jornal El País Patrícia Troncoso falou que a luta
perante a Corte é para acabar com a desmilitarização dos territórios
Mapuche, o fim da Lei Antiterrorista e a liberação dos presos políticos
Mapuche, humanizar, mas as condições das prisões onde se encontram os
detidos e a devolução das terras do povo Mapuche. Enfatizou ainda que o
povo Mapuche ao longo das batalhas enfrentadas desde a colonização, foi
reduzido a sua população em cerca de 75% e de 10 milhões de hectares
hoje conta com apenas 300 mil.
Diante desse
quadro não resta outra alternativa para a nova geração de Lonkos,
Konas, Machi e Weichafes, junto com o povo Mapuche, a não ser continuar
lutando para reconquistar o seu território. Marrichiweu!
* Paulo Roberto é Pastor da Igreja Presbiteriana Independente e membro do Comitê de Apoio ao Povo Mapuche no Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário