PICICA: "O problema está mal colocado. Não será o espantalho-identidade
evangélico/reacionário a guiar as declarações dos nossos dirigentes
políticos que visam não desagradar os ‘evangélicos’? Será que esse
coletivo homogêneo existe? Ou será que a crítica dos evangélicos tout
court não inviabiliza as possibilidades de se dialogar com a miríade de
posicionamentos evangélicos (certamente) existentes?
O ponto em que os anti-Feliciano e os dirigentes políticos,
infelizmente, coincidem é na apreensão homogênea da categoria
‘evangélicos’, o que enfraquece a crítica dos primeiros e ‘desculpa’
comportamentos ambíguos e concessivos dos segundos. É preciso ir além
dos Felicianos, Malafaias e Valdemiros, enfim, do poder institucional
evangélico, e penetrar no terreno dos quase 50 milhões de evangélicos
existentes no Brasil"
Da necessidade de se pensar com os evangélicos.
A(s) esquerda(s) (pensada[s] de forma abrangente e sem sectarismos) ganharia(m) muito aprofundando a discussão sobre os ‘evangélicos’: quem são, o que pensam, se seguem, de fato, orientações religiosas em matéria de política, etc. Mais do que isso: ganhariam mais ainda se se dedicassem a pensar com os evangélicos.
A criação de uma identidade entre os termos ‘evangélico’ e ‘reacionário’ – que vem sendo ultimamente a tônica dos posicionamentos anti-Feliciano – é um espantalho terrível, além de seletivamente crítico, pois ignora o reacionarismo católico (Einstein escreveu certa vez que os peixes geralmente tem muita dificuldade para entender e comunicar o que é a água…) – para uma discussão realmente interessada em mover o horizonte da política brasileira à esquerda.
Nesse sentido é que é imperativo que as esquerdas pensem com os evangélicos, pois a fossilização dessa imagem-identidade que ajusta (e reduz) todo e qualquer homem e mulher concretos ao conceito do ‘evangélico neopentecostal reacionário, homofóbico, racista e machista’ não se coaduna, de forma alguma, com as pretensões de uma esquerda apóloga do ‘diferente’. Trata-se, é claro, de uma filosofia da diferença domesticada por classismos e preconceitos de toda ordem. A ‘filosofia da diferença’ capenga se apresenta límpida e claramente quando assistimos ao esforço de alguns progressistas, e mesmo de algumas entidades militantes, em forjar uma identidade para o homem evangélico, em pintar o ‘evangélico em si’.
O problema está mal colocado. Não será o espantalho-identidade evangélico/reacionário a guiar as declarações dos nossos dirigentes políticos que visam não desagradar os ‘evangélicos’? Será que esse coletivo homogêneo existe? Ou será que a crítica dos evangélicos tout court não inviabiliza as possibilidades de se dialogar com a miríade de posicionamentos evangélicos (certamente) existentes?
O ponto em que os anti-Feliciano e os dirigentes políticos, infelizmente, coincidem é na apreensão homogênea da categoria ‘evangélicos’, o que enfraquece a crítica dos primeiros e ‘desculpa’ comportamentos ambíguos e concessivos dos segundos. É preciso ir além dos Felicianos, Malafaias e Valdemiros, enfim, do poder institucional evangélico, e penetrar no terreno dos quase 50 milhões de evangélicos existentes no Brasil.
‘Pensar com’ seria o primeiro passo para o acesso aos homens e mulheres concretos que preenchem o invólucro vazio da categoria homogênea dos ‘evangélicos’ – e a abertura de um horizonte de diálogo que permitiria questionar o terrorismo político do conservadorismo que se assenta no mesma figura do ‘evangélico em si’. O reforço identitário, não se deve deixar enganar, interessa única e exclusivamente àqueles que se entrincheiram à direita de todos os movimentos e instituições.
Indicações de leitura que convergem com este blog:
http://uninomade.net/tenda/devir-minoritario-no-devir-evangelico-do-brasil/ - por Pedro Grabois.
http://www.quadradodosloucos.com.br/3586/estou-com-os-evangelicos-contra-feliciano/ - por Bruno Cava.
http://www.novosdialogos.com/artigo.asp?id=1087 - por Ronilso Pacheco.
Fonte: O lado esquerdo do possível
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