novembro 04, 2014

De como a lembrança do biodigestor pode evitar novos equívocos na Política de Saúde Mental do Estado do Amazonas

PICICA: Internos do então Hospital Colônia Eduardo Ribeiro produziram ao longo dos anos 1980 uma tonelada de verduras, além da criação de 60 cabeças de suínos, roçado de macaxeira, milho, mandioca e feijão, bem como mantinham uma casa de farinha, estabelecendo com isso o início da Reforma Psiquiátrica no Amazonas. Naquela época, a Feira do Produtor, criada pelo governador José Lindoso, produzia três toneladas de resíduo de verduras ao final de cada feira, tendo como destino a lixeira a céu aberto situada nas imediações do Aeroporto Eduardo Gomes, que mais tarde daria lugar ao populoso bairro Novo Israel. Com ajuda do arquiteto Roger Abrahim consegui uma planta para construção de um biodigestor, mas "comi caroço de pupunha" para convencer o gestor de saúde a implantar essa bela invenção da criatividade humana, que nos daria autonomia na produção de energia para iluminar a área de plantio, assim como o fornecimento de biomassa para adubar nossa horta. Não cheguei a ver o funcionamento do biogestor; um movimento corporativista resolveu me dar "alta administrativa", através de um abaixo-assinado, me poupando de testemunhar o descaminho que a reforma psiquiátrica tomaria em Manaus. O canibalismo social vigente na província interromperia a trajetória do "último dos moicanos" da reforma psiquiátrica baré - os demais estavam entocados em suas novas moitas - e foram necessários mais de 10 anos para o renascimento da fênix, resultando na revitalização do setor de saúde mental, ausente do debate público sobre o destino dos usuários do sistema de saúde mental amazonense. Resumo da ópera: abraços simbólicos convidando a sociedade para a luta contra os manicômios; paradas do orgulho louco para unir movimentos sociais em torno da construção da cidadania das pessoas com transtornos mentais estigmatizadas em três séculos de confinamento; implantação do primeiro CAPS de Manaus, depois  de 20 anos da implantação do primeiro CAPS no Brasil; criação da Residência Médica em Psiquiatria, atualmente em processo de fechamento, devido uma série de equívocos na condução desse importante instrumento de formação, que pode contribuir com a reforma psiquiátrica, dependendo da linha de ensino adotada. Novos desvios estão em curso; a "caveira de burro" ainda continua enterrada nessa terra. Até a presente data não se sabe o destino que será dado ao velho manicômio de Manaus, onde funciona atualmente apenas o Pronto Atendimento Psiquiátrico Humberto Mendonça, desde que se iniciou o processo de fechamento daquela instituição sinistra. Ao longo dos anos, a propriedade onde situa-se o monstrengo arquitetônico em que foi transformado o belo casarão do governador Eduardo Ribeiro vem perdendo espaço - por ordem - para uma ocupação de sem-tetos (nem tanto assim, posto que todas as casas foram construídas desde o início com tijolo e cimento, coisa rara para populações vulneráveis economicamente) e pelo nosso Hemoam, que depois de ocupar uma área nobre da antiga propriedade de Eduardo Ribeiro, conseguiu convencer o governo do Estado a construir um Hospital do Sangue em lugar do Hospital de Clínicas, como propunha a Política de Saúde Mental do Estado do Amazonas, aprovada pelo Conselho Estadual de Saúde, em novembro de 2004. Com todo respeito Hospital do Sangue não é prioridade. Mas isso é assunto para outro texto. O acúmulo de equívocos na política de saúde mental atual poderia ser corrigido se o espaço abandonado onde jaz o velho hospício dê lugar para a implantação do primeiro Centro de Convivência para Pessoas com Transtorno Mental do Estado do Amazonas, com oficinas de geração de renda, programas de arte e lazer - dispositivo inteiramente negligenciado neste canto do Brasil. Projetos agrícolas poderiam ser retomados, bem como outras Oficinas de Trabalho e Geração de Renda, como Costura, Culinária, Artesanato, Mosaico, Papel Artesanal, Velas e produtos contidos em outros grupos da Economia Solidária. Tudo isso sem esquecer a implantação de lojas para a prática do comércio justo e solidário, com apoio e financiamento das instituições que apoiam a produção sustentável e a inclusão social. De quebra, estaríamos conservando o patrimônio da riqueza vegetal contida naquele território, composto de seringueiras e inúmeras espécies de árvores frutíferas, todas amparadas por lei de proteção ambiental. Sinto muito, reformistas de araque, aqui ainda tem vida inteligente. O que falta é vontade política.


Biodigestor beneficia famílias rurais do Brasil e evita extração de madeira da mata nativa

“Disseminar a Tecnologia Social dos biodigestores em pequenas propriedades, a partir de resíduos orgânicos provenientes de atividades pecuárias em escala familiar” é o objetivo do Projeto “Biodigetor: uma tecnologia social no Programa Nacional do Habitação Rural” promovido pela ONG Diaconia com o apoio do Fundo Socioambiental da CAIXA. O Biodigestor é uma tecnologia originária da Índia e China, que foi adaptada para as condições do Semiárido Brasileiro e vem mudando a realidade de famílias agricultoras.

A reportagem é de Eliane Mamede, publicada pelo portal EcoDebate, 30-10-2014.

O projeto busca alternativas que favoreçam a vida das pessoas que convivem na região semiárida, facilitando a execução de atividades simples, como cozinhar. Embora muitas famílias rurais já possuam fogão a gás adaptado para o botijão, ainda é comum a utilização de lenha e carvão; prática que coloca uma forte pressão no processo de degradação do meio ambiente através da extração de madeira da mata.

Além do impacto ambiental, o uso de lenha e carvão afeta a saúde das pessoas, principalmente das mulheres que assumem a responsabilidade de cozinhar, mas crianças e idosos também são afetados com frequência, pois permanecem mais tempo em casa e assim sofrem com a fumaça que causa problemas respiratórios.

Para preservar a saúde das pessoas e conservar o meio ambiente, a Diaconia está implementando essa tecnologia, considerada de baixo custo, de fácil manejo e que apresenta resultados relevantes ao bem estar social e econômico. A expectativa do projeto é que em dois anos sejam beneficiadas 335 famílias agricultoras residentes nas moradias financiadas pelo PNHR, em 23 municípios, localizados em 06 Estados da Federação – Bahia, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Sendo 24 famílias na Bahia; 50 em Minas Gerais; 50 em Goiás; 35 em Santa Catarina; 56 no Rio Grande do Sul e 120 em Pernambuco.

A utilização do biodigestor além de beneficiar a saúde das famílias e ajudar a conservar o meio ambiente, também gera uma economia real mensal de R$ 75,00 por família, considerando que cada uma gasta, em média, um botijão e meio de gás butano por mês. Ao ano a família economiza R$ 900, 00.

Diaconia e experiência com biodigestores:

Essa tecnologia teve origem na Índia e China e foi adaptada ao Semiárido Brasileiro. Em 2011, a experiência do Biodigestor desenvolvida pela ONG Diaconia ganhou o Prêmio Melhores Práticas em Gestão Local promovido pela CAIXA, ficando entre as 08 Melhores Práticas do País; Atualmente a experiência está entre as 48 Mundiais, passando a integrar o Banco de Dados da ONU/Habitat pelo desenvolvimento da tecnologia de baixo custo e capacidade de multiplicação em diferentes regiões do mundo.

O Biodigestor

Tecnologia que possibilita a produção de gás inflamável (biogás) através da fermentação do esterco animal. Esta é a proposta do Biodigestor, fonte de energia complementar (ou alternativa) utilizada em substituição à lenha, ao carvão vegetal e ao gás liquefeito de petróleo (GLP – gás de cozinha comprado em botijões), cujo impacto sobre o meio-ambiente é maior. A utilização do biogás traz importantes ganhos ambientais, pois reduz a emissão de gases do efeito estufa e minimiza a pressão sobre o bioma Caatinga, além de representar uma importante economia para as famílias agricultoras.

O processo de geração de biogás é simples. Depois de recolhido, o esterco do gado é colocado dentro da “caixa de carga”, de onde segue para o “tanque de placas”, local em que transforma-se numa fração gasosa (o biogás), outra líquida e uma terceira sólida. As duas últimas frações, descartadas através da “caixa de descarga”, são subprodutos que também podem ser utilizados na fertilização do solo para agricultura.

Algumas vantagens do uso do biogás (metano) a partir de biodigestores incluem:


a. A diminuição do uso de madeira da Caatinga para queima;
b. A diminuição de casos de doenças respiratórias em pessoas que usam fogão à lenha ou carvão em suas residências;
c. Economia de R$ 900,00/ano/família com a compra de botijões de gás butano;
d. A diminuição da liberação do gás metano na atmosfera, ao considerar que no lugar de ser liberado naturalmente, passa a ser queimado no fogão;
e. A gestão de recursos (esterco animal, gás, adubo orgânico), fortalecendo a economia familiar e a produção agrícola e de forragem;
f. A integração de tecnologias de produção de energia com a produção agrícola e pecuária;
g. A melhoria na sanidade animal resultante da limpeza permanente nos currais e chiqueiros, bem como a diminuição significativa da infestação dos animais por ecto e endoparasitas;
h. A mobilização social presente no processo de construção do biodigestor que envolve a organização e processos educativos ecológicos com caráter de sustentabilidade, bem como a reaplicabilidade desta tecnologia social.

Em 2011, a Diaconia foi agraciada com o Prêmio CAIXA Melhores Práticas em Gestão Local 2011/2012 com o projeto “Biodigestor: um jeito inteligente de cuidar do Meio Ambiente!”. O objetivo do Prêmio é reconhecer, divulgar e incentivar a reaplicação de iniciativas inclusivas, inovadoras e sustentáveis que contribuem para a melhoria da condição de vida dos brasileiros:

A implantação de biodigestores é plenamente viável, a partir do armazenamento, manejo e utilização do gás metano produzido pelo processo de decomposição do esterco dos animais que existem nas propriedades rurais. Além disso:


• A sua utilização reduz a poluição do ar e minimiza a degradação ambiental, através da diminuição do uso de carvão vegetal e lenha;
• É de fácil multiplicação porque as famílias e as comunidades são capacitadas para a sua construção;
• É economicamente viável porque o seu custo não é elevado (01 biodigestor tem custo médio de R$ 2.700,00, incluído a mão-de-obra) e substitui a compra de botijões de gás butano (gasto de R$ 75,00 por família/mês e anual de R$ 900,00);
• Em 03 anos e 04 meses, pelo fato de não ter a necessidade de comprar gás butano, a família economiza o valor equivalente ao investimento do biodigestor;
• A estimativa de durabilidade do biodigestor é de aproximadamente 20 anos;
• Ao longo de 20 anos chega-se a uma economia por família de R$ 19.000,00, o que corresponde 06 (seis) vezes e meia o seu valor de investimento inicial;
• O processo de implantação do Biodigestor viabiliza condições para a criação de um programa de difusão e implantação dessa tecnologia como uma estratégia de mitigação, de forma ampla, do efeito estufa;
• Esta tecnologia integra o Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR), pois ela é socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente correta.

A Diaconia

Com quase 50 anos de história, a Diaconia é uma organização social brasileira, sem fins lucrativos e de inspiração cristã, que tem por objetivo a promoção da justiça e do desenvolvimento social no Brasil. Fundada em 1967, a entidade concentra, hoje, sua atuação em três estados do Nordeste – Ceará (CE), Pernambuco (PE) e Rio Grande do Norte (RN). É na região detentora do menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país que a Diaconia foca o seu trabalho e lança esforços pela efetivação de políticas públicas de promoção e defesa de direitos.

“Relações de gênero”, “Geração de trabalho e renda”, “Meio ambiente e clima”, “Direitos das juventudes”, “Direitos da infância” e “Soberania e Segurança Alimentar, Nutricional e Hídrica” são as linhas estratégicas dos projetos abraçados e capitaneados pela organização, que atua tanto em áreas urbanas quanto rurais. A promoção e defesa dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCAs) inspiram e embasam ações nas dezenas de municípios atendidos pela entidade.

Fonte: IHU

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