PICICA: "Eles dizem poder. Nós dizemos potência. Eles dizem
integração. Nós dizemos código aberto. Eles dizem homem-mulher,
Branco-Negro, humano-animal, homossexual-heterossexual,
Israel-Palestina. Nós dizemos você sabe que teu aparelho de produção de
verdade já não funciona mais… Quanto de Galileu precisaremos desta vez
para re-aprender a nomear as coisas, nós mesmos?"
Nós dizemos revolução
24/03/2013
Por Beatriz Preciado
Por Beatriz Preciado | Trad.: Bárbara Szaniecki
Parece que os gurus da velha Europa se
obstinam ultimamente a querer explicar aos ativistas dos movimentos
Occupy, Indignados, handi-trans-gays-lésbicas-intersex e postporn que
não poderemos fazer a revolução porque não temos uma ideologia. Eles
dizem “uma ideologia” como minha mãe dizia “um marido”. Pois bem, não
precisamos nem de ideologia nem de marido. As novas feministas, não
precisamos de marido porque não somos mulheres. Assim como não
precisamos de ideologia porque não somos um povo. Nem comunismo nem
liberalismo. Nem o refrão católico-muçulmuno-judeu. Falamos uma outra
linguagem. Eles dizem representação. Nós dizemos experimentação. Eles
dizem identidade. Nós dizemos multidão. Eles dizem controlar a
periferia. Nós dizemos mestiçar a cidade. Eles dizem dívida. Nós dizemos
cooperação sexual e interdependência somática. Eles dizem capital
humano. Nós dizemos aliança multi-espécies. Eles dizem carne de cavalo
nos nossos pratos. Nós dizemos montemos nos cavalos para fugir juntos do
abatedouro global. Eles dizem poder. Nós dizemos potência. Eles dizem
integração. Nós dizemos código aberto. Eles dizem homem-mulher,
Branco-Negro, humano-animal, homossexual-heterossexual,
Israel-Palestina. Nós dizemos você sabe que teu aparelho de produção de
verdade já não funciona mais… Quanto de Galileu precisaremos desta vez
para re-aprender a nomear as coisas, nós mesmos? Eles nos fazem a guerra
econômica a golpe de facão digital neo-liberal. Mas nós não choraremos a
morte do Estado-providência, porque o Estado-providência era também o
hospital psiquiátrico, o centro de inserção das pessoas com deficiência,
a prisão, a escola patriarcal-colonial-heterocentrada. Está na hora de
pôr Foucault na dieta handi-queer e de escrever a morte da Clínica. Está
na hora de convidar Marx para um ateliê eco-sexual. Não vamos adotar o
estado disciplinar contra o mercado neoliberal. Esses dois já travaram
um acordo: na nova Europa, o mercado é a única razão governamental, o
Estado se tornou o braço punitivo cuja única função será aquela de
re-criar a ficção da identidade nacional por meio do medo securitário.
Nós não desejamos nos definir como trabalhadores cognitivos nem como
consumidores farmacopornográficos. Nós não somos Facebook, nem Shell,
nem Nestlé, nem Pfizer-Wyeth. Não desejamos produzir francês, e tampouco
europeu. Não desejamos produzir. Nós somos a rede viva decentralizada.
Nós recusamos uma cidadania definida por nossa força de produção ou
nossa força de reprodução. Nós queremos uma cidadania total definida
pelo compartilhamento das técnicas, dos fluidos, das sementes, da água,
dos saberes… Eles dizem que a guerra limpa se fará com drones. Nós
queremos fazer amor com os drones. Nossa insurreição é a paz, o afeto
total. Eles dizem crise, nós dizemos revolução.
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