PICICA: "João Bernardo, um grande intelectual marxista português, escreveu um
precioso livro sobre a obra de Balzac, chamado a Sociedade Burguesa de
um e Outro Lado do Espelho: A Comédia Humana. O autor utiliza Balzac
para analisar a sociedade e pensar questões e dilemas sociais. A
literatura, segundo ele, é o local onde melhor se faz um retrato da
sociedade e Balzac, talento máximo, teria sido um dos maiores
sociólogos, historiador dos costumes.
Num capítulo importante do livro, o autor trata da criação dos
personagens e de como a criação dos personagens é o mais importante na
produção literária. Uma boa obra, a seu ver, não é a que apresenta uma
boa história com dados personagens, mas uma que inicie construindo bons
personagens e depois os faça andar, agir, produzindo assim a história. A
construção do personagem é o mais importante, a base, e o bom
romancista é aquele que, partindo do mundo que conhece ou pesquisou,
consegue construir personagens à semelhança do tipo ideal weberiano:
pessoas que sejam o retrato de arquétipos sociais.
Os romancistas surgem como historiadores, como sociólogos, como pessoas
que retratam épocas a partir dos personagens. É impossível lembrar
Raskólnikov, de Crime e Castigo (Dostoiévski), e não ver ali retratado o
típico sujeito de humanas angustiado entre a grandeza das idéias e a
pequenez da vida cotidiana. Também é impossível pensar em Clyde
Griffiths, personagem central de Uma Tragédia Americana (Theodore
Dreiser) e não ver o retrato fiel de muitos jovens de nosso tempo:
pobres, mas ansiosos por riqueza e que caem em desgraça moral para
realizar o próprios sonho. O poeta é um fingidor, dizia Fernando Pessoa,
e o que o romancista faz é retratar como suas dores e dilemas e
tragédias que são humanas, são da sociedade.
Na literatura, no entanto, não há apenas escritores que criam
personagens alheios. Existem alguns que são eles próprios os personagens
de suas obras. Se toda produção literária tem um peso da sua época e um
tanto de biografia, há autores que se transformam, eles próprios, em
sua própria criação ou produzem literatura a partir de suas vidas. É o
caso de Bukowski. Ele não escrevia sobre o que os outros viviam, mas
vivia ele próprio para pode escrever. Sua literatura é a transformação
em arte da própria vida e da vida em forma de arte. Viver, para
Bukowski, era um ato artístico, uma fluição estética.
Bukowski foi um daqueles casos fantásticos que ocorrem nos E.U.A no qual
pessoas simples, anônimas, populares, conseguem apresentar uma boa
obra, uma boa produção literária, fazer o registro de um dado meio, de
um dado tipo de vida, de um certo círculo e com isso atingir a fama, o
sucesso. Desde Tocqueville sabemos que os E.U.A é, em muitos campos, uma
sociedade muito mais aberta que o Brasil e lá encontramos a presença de
muitos populares com boa produção na literatura enquanto isso é raro em
nosso país. Hammett, Dreiser, Bukowski...são exemplos de pessoas
simples que produziram boas obras e tiveram sucesso.
Na obra de Bukowski - outro anjo pornográfico- poeta, contista e
romancista, vemos retratada a vida urbana de um homem proletário, um
tanto misantropo, um tanto misógino, um tanto niilista, mas, apesar de
tudo, todo encantado com a vida e com uma capacidade de tirar beleza do
meio do caos como quem consegue tocar uma borboleta no meio de um
furacão. Sua obra é um manual de libertação, ao estilo de André Gide em
Os Frutos da Terra ou de Jean Genet em Diário de um Ladrão. Trata do
homem simples, bebedeiras, trabalhos ruins, mal pagos, mulheres, muitas
mulheres, obscenidades, angústias, problemas pessoais. Trata da vida que
ele possuía, uma vez que transformava a vida em arte e vivia para poder
escrever.
Inusitadamente, essa fusão entre vida e arte feita por Bukowski acabou
sendo replicada em uma das mais belas formas de homenagem que já conheci
e que um autor poderia ter. Na rede social Facebook surgiu uma página
denominada Musas Bukowskianas. Diferentemente das páginas tradicionais
de homenagens e culto a um dado autor, cheia de textos e fotos e dados e
historiografia, o que a página faz é citar pequenos textos do autor,
apresentar sua arte em bruto, sempre acompanhados de fotos de mulheres
fãs de Bukowski. Ao invés de textos, elas apresentam beleza,
sensualidade. Mostram bundas, partes dos seios (censurados pelo
Facebook), pernas, bocas, rostos, olhares. Como disse uma delas certa
vez, entendem que fazer safadeza, continuar com sacanagem, é a melhor
forma de homenagear um autor que amava sexo, safadeza, sacanagens,
mulheres."
A fusão entre vida e arte na página Musas Bukowskianas
João Bernardo, um grande intelectual marxista português, escreveu um precioso livro sobre a obra de Balzac, chamado a Sociedade Burguesa de um e Outro Lado do Espelho: A Comédia Humana. O autor utiliza Balzac para analisar a sociedade e pensar questões e dilemas sociais. A literatura, segundo ele, é o local onde melhor se faz um retrato da sociedade e Balzac, talento máximo, teria sido um dos maiores sociólogos, historiador dos costumes.
Num capítulo importante do livro, o autor trata da criação dos personagens e de como a criação dos personagens é o mais importante na produção literária. Uma boa obra, a seu ver, não é a que apresenta uma boa história com dados personagens, mas uma que inicie construindo bons personagens e depois os faça andar, agir, produzindo assim a história. A construção do personagem é o mais importante, a base, e o bom romancista é aquele que, partindo do mundo que conhece ou pesquisou, consegue construir personagens à semelhança do tipo ideal weberiano: pessoas que sejam o retrato de arquétipos sociais.
Os romancistas surgem como historiadores, como sociólogos, como pessoas que retratam épocas a partir dos personagens. É impossível lembrar Raskólnikov, de Crime e Castigo (Dostoiévski), e não ver ali retratado o típico sujeito de humanas angustiado entre a grandeza das idéias e a pequenez da vida cotidiana. Também é impossível pensar em Clyde Griffiths, personagem central de Uma Tragédia Americana (Theodore Dreiser) e não ver o retrato fiel de muitos jovens de nosso tempo: pobres, mas ansiosos por riqueza e que caem em desgraça moral para realizar o próprios sonho. O poeta é um fingidor, dizia Fernando Pessoa, e o que o romancista faz é retratar como suas dores e dilemas e tragédias que são humanas, são da sociedade.
Na literatura, no entanto, não há apenas escritores que criam personagens alheios. Existem alguns que são eles próprios os personagens de suas obras. Se toda produção literária tem um peso da sua época e um tanto de biografia, há autores que se transformam, eles próprios, em sua própria criação ou produzem literatura a partir de suas vidas. É o caso de Bukowski. Ele não escrevia sobre o que os outros viviam, mas vivia ele próprio para pode escrever. Sua literatura é a transformação em arte da própria vida e da vida em forma de arte. Viver, para Bukowski, era um ato artístico, uma fluição estética.
Bukowski foi um daqueles casos fantásticos que ocorrem nos E.U.A no qual pessoas simples, anônimas, populares, conseguem apresentar uma boa obra, uma boa produção literária, fazer o registro de um dado meio, de um dado tipo de vida, de um certo círculo e com isso atingir a fama, o sucesso. Desde Tocqueville sabemos que os E.U.A é, em muitos campos, uma sociedade muito mais aberta que o Brasil e lá encontramos a presença de muitos populares com boa produção na literatura enquanto isso é raro em nosso país. Hammett, Dreiser, Bukowski...são exemplos de pessoas simples que produziram boas obras e tiveram sucesso.
Na obra de Bukowski - outro anjo pornográfico- poeta, contista e romancista, vemos retratada a vida urbana de um homem proletário, um tanto misantropo, um tanto misógino, um tanto niilista, mas, apesar de tudo, todo encantado com a vida e com uma capacidade de tirar beleza do meio do caos como quem consegue tocar uma borboleta no meio de um furacão. Sua obra é um manual de libertação, ao estilo de André Gide em Os Frutos da Terra ou de Jean Genet em Diário de um Ladrão. Trata do homem simples, bebedeiras, trabalhos ruins, mal pagos, mulheres, muitas mulheres, obscenidades, angústias, problemas pessoais. Trata da vida que ele possuía, uma vez que transformava a vida em arte e vivia para poder escrever.
Inusitadamente, essa fusão entre vida e arte feita por Bukowski acabou sendo replicada em uma das mais belas formas de homenagem que já conheci e que um autor poderia ter. Na rede social Facebook surgiu uma página denominada Musas Bukowskianas. Diferentemente das páginas tradicionais de homenagens e culto a um dado autor, cheia de textos e fotos e dados e historiografia, o que a página faz é citar pequenos textos do autor, apresentar sua arte em bruto, sempre acompanhados de fotos de mulheres fãs de Bukowski. Ao invés de textos, elas apresentam beleza, sensualidade. Mostram bundas, partes dos seios (censurados pelo Facebook), pernas, bocas, rostos, olhares. Como disse uma delas certa vez, entendem que fazer safadeza, continuar com sacanagem, é a melhor forma de homenagear um autor que amava sexo, safadeza, sacanagens, mulheres.
As fotos variam. Há desde registros absolutamente simples, feitos com um celular numa captura cotidiana, até fotos que são artísticas e claramente feitas com material profissional. Variam de simplesmente mostrar a boca até uma foto mais ousada, na qual uma moça de joelhos e toda produzida aparece lindamente com esperma no rosto. Há mulheres gordas e magras, umas com mais corpo, outras com menos. Umas com grandes quadris, outras com enormes seios. Cabeludas, carecas, tatuadas, sem tatuagem, de variados tipos. Algumas anônimas, outras se apresentam publicamente e até interagem com os seguidores da página
Dentre o público, homens e mulheres, jovens e pessoas maduras. No entanto, embora o perfil variado do público, a relação é toda cordial e há muito respeito. Uma foto postada recebe elogios tanto de meninas que curtem meninas quanto de meninos que curtem meninas ou de gente que apenas olha e aprecia o belo. Podem variar desde um simples “belo rabo” até pessoas que tecem poesias sobre dada imagem. Mas o respeito é máximo. Numa página que posta fotos de mulheres nuas, a cordialidade e o respeito é maior do que o apresentado em páginas comuns. Os seguidores criaram um código moral próprio, que permite que a coisa siga de forma bela e suave, o que facilita a chegada de mais moças e mais amantes de Bukowski.
Tamires Giarola
Debby Nicolas Ferrari
Jhenifer Trindade
Isabella Craveiro
Luanna Greco
Suzi Babi
Débora Vaz
Carol Slynood
Musa Rayanne Lunna
Bukowski
Musa anônima
Musa anônima
Musa anônima
Musa anônima
Musa anônima
Musa anônima
Musa anônima
Musa anônima
Musa Anônima
Musa anônima
Musa anônima
Ronan Gonçalves
Mestre em Ciências Sociais pela UNESP, foi colaborador do site luso-brasileiro Passa Palavra escrevendo sobre educação, cinema, lutas sociais. Produz pequenas análises e algumas poesias. Anda por ai. .Fonte: OBVIOUS
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