PICICA: "No início desse mês Beyoncé fez uma
apresentação no show de intervalo do Super Bowl (final do campeonato de
futebol americano) homenageando os Panteras Negras e denunciando a
violência policial. O preço desse show tem sido considerável para a
cantora. Ameaçaram cancelar shows dela por causa do seu posicionamento
político, marcaram ato na rua anti-Beyoncé, policiais estão boicotando o
trabalho dela, etc. A esquerda se dividiu sobre o tema. Parte aponta
para o fato da música apresentada no show do Super Bowl, Formation,
defender o capitalismo, pois ela valoriza o consumo e o “ter dinheiro”
(Beyoncé esfrega a sua riqueza na cara dos brancos), parte aponta para a
importância do ato para fortalecimento da pauta antirracista."
O show da Beyoncé e a conjuntura
No início desse mês Beyoncé fez uma
apresentação no show de intervalo do Super Bowl (final do campeonato de
futebol americano) homenageando os Panteras Negras e denunciando a
violência policial. O preço desse show tem sido considerável para a
cantora. Ameaçaram cancelar shows dela por causa do seu posicionamento
político, marcaram ato na rua anti-Beyoncé, policiais estão boicotando o
trabalho dela, etc. A esquerda se dividiu sobre o tema. Parte aponta
para o fato da música apresentada no show do Super Bowl, Formation,
defender o capitalismo, pois ela valoriza o consumo e o “ter dinheiro”
(Beyoncé esfrega a sua riqueza na cara dos brancos), parte aponta para a
importância do ato para fortalecimento da pauta antirracista.
Primeiro, é importante entender que
negras e negros vivem em um mundo criado para brancos e brancas. O
padrão de beleza é branco, só pessoas brancas são vistas como
inteligentes e trabalhadoras, a TV é feita para gente branca, a
universidade (ainda) é branca, etc. Nossas crianças já nascem sabendo
que esse mundo não é para elas: dos personagens de desenhos e livros até
a barbie, tudo é branco! A nossa necessidade de representação é real, é
concreta.
Beyoncé, ao cantar contra o racismo,
consegue captar essa necessidade. Sua performance permite que inúmeras
pessoas negras se sintam um pouco mais representadas, além de chamar
para o debate sobre o empoderamento negro e sobre as violências
racistas. Lembro todas as vezes que escutei uma jovem preta chorando
porque o cabelo é feio. Agora posso mostrar o show da Beyoncé e falar
para a jovem que ela é linda, explicar o que é o racismo e falar da
nossa história de luta. É mais uma referência que ganhei para mostrar
negras fortes, poderosas, arrasando, e que nós podemos arrasar.
Isso significa que a música e o show são
perfeitos? Não. Na música apresentada de fato o consumismo é exaltado,
bem como o poder imposto pelo dinheiro. Quantas pretas poderão esfregar
um Givenchy na cara dos racistas? Poucas… E mesmo se fossem muitas, será
que é esfregando o fato de termos dinheiro na cara dos racistas que
acabaremos com o racismo? O racismo e o capitalismo são faces da mesma
moeda. Não poderemos acabar com o racismo, se também não falarmos de
classe e acabarmos com o capitalismo. E o que isso significa para a
nossa análise de conjuntura? Que temos uma necessidade real de mais
mulheres negras no Congresso Nacional, na TV, na universidade, nas
rádios, nos livros. Suprir essa necessidade de representação é muito
importante para nosso empoderamento. Mas não podemos nos contentar em
ter algumas representações e algumas pessoas negras ricas o suficiente
para ostentarem. Não fazer recorte de classe é manter o sistema
capitalista, o que significa manter a maior parte da negritude
superexplorada. Nós precisamos voltar a acreditar no fim do capitalismo,
precisamos resgatar o socialismo.
Por fim, quero falar para a esquerda
branca. Você que faz vários argumentos racistas fingindo que são
argumentos marxistas: para com isso. Beyoncé recebeu várias críticas da
esquerda. Parte pela ausência de recorte de classe, que precisamos
problematizar mesmo. Mas boa parte eram ataques racistas – era o fato
dela ser uma mulher negra. Fidel perseguiu os terreiros e nem por isso
vocês deixam de usar camisas dele. Ele não precisa ser perfeito, mas
Beyoncé precisa? O capitalismo se sustenta no patriarcado, no racismo e
no capital. E por isso, vocês atrapalham a revolução toda vez que abrem a
boca e são racistas. Vocês se tornaram uma ameaça à revolução. Vocês
são parte do motivo de várias negras não acreditarem no socialismo.
Parem.
Fonte: Brasil em 5
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