PICICA: Quando no final do ano passado, na Ilha de Itaparica-BA, acompanhados por Juan, Lilian e Marta, banhando-nos à beira do rio Paraguassú, falamos sobre a Morte, tu, querido Marcus Vinicius, dizias que depois dela nada mais, que do pó viemos e ao pó voltamos, que tudo cai numa imensa zona cinzenta: a zona do esquecimento. O que faltava nessa declaração? A comoção gerada pela morte desse gigante da psicologia que foi Marcus Vinicius de Oliveira Silva, resultante inesperada da sua apaixonada luta no campo dos direitos humanos, vai muito além da tragédia que se abateu sobre todos nós. Mesmo teus desafetos curvam-se diante da evidência da grandeza e da complexidade dos teus argumentos públiicos em defesa de uma reforma psiquiátrica antimanicomial. Mas, principalmente, reconhecem, que para além da clareza das ideias, teu legado é um tecido rico de relações e das mais variadas operações. Estou aqui me lembrando de Bertold Brecht e a imprescindibilidade de alguns homens. Além da tua enorme alegria em viver, o que fica de ti é a memória da tua obra, espalhada pelos quatro cantos desse país desigual e injusto, que nos desafia a continuar o trabalho coletivo pela liberdade, tão bem encarnado por ti. Não descansaremos enquanto não houver justiça contra a brutalidade com que te arrancaram dessa vida. Aos mais próximos, fica a enorme saudade da tua presença doce e exuberante.
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