Da esq. para dir.: deputado Walace Souza; assessoras da ALE; deputado Belarmino Lins, presidente da ALE e Rogelio Casado, Pro-Reitor de Extensão da Universidade do Estado do Amazonas
O silêncio que se abateu sobre o setor de Saúde Mental no estado do Amazonas está por merecer profunda análise dos fatores que concorreram para colocar no limbo a trajetória inicial da Reforma Psiquiátrica brasileira em solo amazonense.
Resgatar a história e ir ao encontro dos ideais reformistas dos anos 1980 não foi fácil. Pessoalmente precisei invocar a memória de saudosos companheiros: Silvério Tundis, que legou um belo exemplo sobre a arte de articular agentes e atores sociais, e Humberto Mendonça, com sua extraordinária percepção dos fatos políticos. Ambos foram meus colegas na Faculdade de Ciências da Saúde da Uniersidade Federal do Amazonas, na gloriosa turma de 1977.
Com Silvério dividi os primeiros momentos da construção da Reforma Psiquiátrica no Amazonas, quando fui diretor clínico, no então Hospital Colônia Eduardo Ribeiro, durante sua gestão, depois de denunciarmos, com outros técnicos de saúde mental, a existência de corrupção administrativa e a indiferença para com o sofrimento dos internos dentro de uma instituição decadente, violenta, corruptora, que agredia, cotidianamente, a mais elementar noção de cidadania. Silvério nos deixaria no início dos anos 1990, levando com ele uma alegria contagiante, lembrada até hoje por quantos com ele conviveram.
Com Humberto, o Beto, dividi dúvidas e inquietações existenciais, e, sobretudo, compartilhamos respostas aos desafios políticos do nosso tempo, em plena ditatura militar, no campo do movimento estudantil. Juntos fizemos residência médica em psiquiatria em Diadema-SP, na Comunidade Terapêutica Enfance e Instituto de Psiquiatria Social, que, junto a outras entidades, foram responsáveis pela vinda de Franco Basaglia ao Brasil. Beto foi assassinado em 1981. A brutalidade retirou do nosso convívio um dos mais promissores psiquiatras daquela geração. Sua inteligência e sua sensibilidade deixaram saudosas lembranças em todos que o conheceram.
Silvério Tundis foi homenageado dando nome ao primeiro CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da cidade de Manaus, inaugurado em maio de 2006. Quando defendi a proposta, não houve um veto sequer.
Humberto Mendonça dá nome ao Pronto Atendimento do Hospital Psiquiátrico, uma idéia de Silvério, que concebeu um dos instrumentos mais importantes na luta contra a psiquiatria carcerária, dotando a cidade de um serviço de internação que ultrapassava 72 horas, que melhoraria a qualidade do atendimento às emergências psiquiátricas. Começou com modestos 8 leitos; atualmente são 20.
Ao ouvir o pronunciamento dos parlamentares que saudaram minha trajetória no movimento de luta antimanicomial, no dia da votação da Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas, não pude deixar de lembrar aqueles com quem dividi todos os passos que me levaram a estar à frente do processo que resultou na votação da Lei 191/2007, desta vez com novos e queridos companheiros.
O desafio é o mesmo de sempre: incluir na vida social e na cultura dos nosso tempos os portadores de transtornos mentais.
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