outubro 07, 2007

Exposição: "Segunda Pele" e "Território"

Foto: Rogelio Casado - Território, de Nivaldo de Lima, anoitecer do dia 6/10/2007, Manaus-AM

O que tu vês é a fachada superior do Centro Cultural Palácio da Justiça, onde a partir de hoje, às 19h00, será inagurada a exposição "Segunda Pele" do genial Arthur Bispo do Rosário. A fotografia foi tomada a partir dos fundos do Teatro Amazonas.

O detalhe em tela é uma outra exposição do artista Nivaldo de Lima, integrante da Associação Chico Inácio - ong de defesa dos direitos civis e políticos dos portadores de transtornos mentais, filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial. Trata-se de 6 painéis fotográficos ocupando todo o espaço dos janelões superiores do outrora Palácio da Justiça. A exposição denominada "Território" tem a curadoria de Wilson Lazaro, do Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, do Rio de Janeiro.

A abertura das exposições acontecem hoje à noite, a partir das 19 horas, e ficará aberta ao público até o dia 9 de dezembro.

Horário de visitação: Terça a Quinta: 9h00 às 17h00. Domingos e Feriados: 17h00 às 21h00.

Endereço: Av. Eduardo Ribeiro, 833 - Centro - Tel./Fax: (92) 3248-1844

***

A Associação Chico Inácio tem orgulho pela participação da primeira exposição de um artista com a sensibilidade do Sr. Nivaldo de Lima. O Dia Mundial de Saúde Mental, comemorado no dia 10 de outubro, para o qual a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu como tema "Cultura e Diversidade" não poderia poderia deixar de ser marcado por um evento de qualidade artística tão provocativa aos sentidos e à valorização do olhar de duas sofisticadas personalidades: o Bispo e Nivaldo.

Leia a apresentação feita pelo curador Wilson Lazaro e pelo Pro-Reitor de Extensão da Universidade do Estado do Amazonas e fundador da Associação Chico Inácio Rogelio Casado:

TERRITÓRIO

O olhar do Sr. Nivaldo, o arquiteto, o andarilho do olhar, prescinde da técnica, mas se alimenta com um amorsocial, vivido nas entranhas da própria vida. Revela uma maneira contemporânea de enxergar questões comuns, a pobreza e a exclusão social. Consegue traduzi-las de forma quase lírica, mostrando como o ser humano é capaz de se adaptar às dificuldades do meio e encontrar soluções extremamente inventivas para problemas latentes da atualidade.
Sr. Nivaldo traz pessoaselementos da cidade de Manaus, para fachada do belo Palácio, uma maneira de levar o público para fora do espaço expositivo, causando um certo estranhamento nas pessoascidades. O que são essas imagens? Esses personagens que se tornaram divindades, como todos os esquecidos? A partir da transposição da cultura da cidade para dentro do pensamento desse artista, o tempo transforma e cria um significado onde arte desconstrói fronteiras e, principalmente, barreiras. Será que a idéia do Sr Nivaldo pode ser aplicada no caso da cultura? Sabemos que muros e arames farpados não podem barrar idéias, tampouco a ação dos artistas, mas isso também não significa que elas fluam com tantas facilidades. Com essa atitude e sentimento, Sr. Nivaldo consegue uma rede entre a vida, a arte e o social, com imagensfachada; com uma fachadahumana da arquitetura urbana. Resgata, assim, a potência e densidade da arte e de seus personagens reais, como de sua própria Vida. Esse Sr. Nivaldo de PernambucoManaus.

Wilson Lazaro
Curador

***

O “Território” de Nivaldo de Lima

Por Rogelio Casado, Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade do Estado do Amazonas, fundador da Associação Chico Inácio

A exclusão social deve ser entendida para além da degradação do mercado e do emprego. Afinal excluídos são todos aqueles que são rejeitados de nossos mercados materiais ou simbólicos.

Nesse sentido, Nivaldo de Lima, que recebeu da imprensa amazonense o título de Fotógrafo dos Esquecidos, é um exemplo que não quer calar.

Pernambucano de nascimento, amazonense por adoção, com 15 internações em manicômios de Recife, 13 eletro-choques, Nivaldo de Lima ao mapear os espaços ocupados pelos moradores de rua da cidade de Manaus, clicando cenas do cotidiano da geografia urbana e humana, convoca os cidadãos de boa vontade a refletir sobre os significados dessa cartografia.

Nivaldo Lima superou a força destrutiva da ditadura militar e do manicômio através da arte e da intensa participação no movimento social “Por uma sociedade sem manicômios”, através da Associação Chico Inácio (filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial). Por três ocasiões dirigiu a Associação de Moradores do bairro onde residia em Recife; por isso foi perseguido. Sua concepção de tratamento em liberdade, sustentada por uma inabalável noção de cidadania, foi quem lhe salvou a alma. É um sobrevivente.

É membro do Coral Viva Voz, composto por familiares e pessoas portadores de transtorno mental. Recentemente retornou aos bancos de escola. Admirador e praticante da arte da capoeira, fez da fotografia seu instrumento de comunicação. Sua lente produz um estranhamento ao jogar luz sobre as almas ocultas das gentes que perambulam anonimamente pelos diversos territórios da cidade de Manaus. Loucos ou mendigos? É preciso cuidado para não cair nas armadilhas do reducionismo. “Gente”, diz seu Nivaldo. Gente com alma nem sempre dilacerada, mas oculta para o olhar de uma urbe indiferente ao louco processo de exclusão dos deserdados da terra.

Todavia, Nivaldo de Lima, como sujeito desejante, “doido” para viver numa sociedade sem manicômios, através de inúmeras modalidades de intervenção na cultura se distingue como um dos artífices da produção de vida e novos sentidos para a inclusão da loucura na cultura dos nossos tempos, o que o coloca como um dos portadores de futuro.

Nenhum comentário: