abril 04, 2008

Moradia assistida (I)

Foto: Rogelio Casado - Painel dos usuários de Saúde Mental, HPER, Manaus, 2007
"Obstinação em construir algo melhor para todos nós" - Painel de manifestações dos internos do Hospital Psiquiátrico, tendo como fundo o mapa do Amazonas, registrado no dia da assinatura de um documento de consentimento para publicação das fotografias sobre a reunião de discussão da passagem do hospital psiquiátrico para as moradias assistidas.
Moradia assistida (I)

A idéia de implantar moradias assistidas para egressos de internação de longa permanência em hospital psiquiátrico no bairro Nova Cidade não prosperou. O gestor de saúde anterior ao governo Eduardo Braga por pouco não caiu na esparrela. Era fim de gestão, não valia a pena a teimosia. Primeiro, porque a vaca já tinha ido pro brejo. Segundo, porque ao escolher como interlocutores contumazes reformistas de araques deram-se conta do equívoco cometido.

Se os beneficiários são pessoas com vínculos familiares precários ou inexistentes, morar com dignidade não pode ser conduzido por saberes anacrônicos que estão na contramão das conquistas da Reforma Psiquiátrica brasileira.

No Amazonas, sempre pesou a ausência de formação compatível com o desafio civilizatório de incluir os loucos na cultura do nosso tempo. Não é mais o caso. Passa de 50 o número de profissionais com curso de especialização. Então o que faltou durante esses últimos quatro anos para implantar as moradias assistidas? Faltava aparecer entre aqueles os que chamam para si a responsabilidade de responder ao desafio.

Curiosamente a resposta surgiu de onde não se esperava. De aparência franzina, Márcia Maria Gomes de Souza, Terapeuta Ocupacional do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, vem conduzindo com determinação e firmeza o processo de transição dos usuários para as moradias assistidas. Seu trabalho consiste em recriar as tarefas do cotidiano, observar os cuidados pessoais, promover o retorno ao convívio social, de modo a construir a autonomia e a cidadania do portador de sofrimento psíquico. Os reformistas de araque bem tentaram o arremedo. Faltou-lhes a sólida formação que Márcia trouxe do Ceará.

Nos próximos artigos pretendo enfocar esse precioso trabalho em prol de uma sociedade sem manicômios. Aqui nos faz falta o poder da imagem. Acompanhe no nosso blog as fotografias que documentam este importante passo na construção da Reforma Psiquiátrica no Amazonas.

Manaus, Abril de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota: Artigo publicado no Caderno Raio-X, do jornal Amazonas em Tempo, onde escrevo às quartas-feiras.

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