Oleo do Diabo
Desintoxicação
Posted: 23 Aug 2008 02:42 PM CDT
Não tenho lido jornais nos últimos dias e constatei que ainda sou dependente da imprensa. Mesmo que negativamente. O ódio, se é ele que me mobiliza a ler editoriais que me irritam, é um narcótico que vicia. Quem odeia se submete ao objeto odiado. Há controvérsias sobre o valor do capital e do trabalho, mas ninguém discute o valor fundamental do tempo. Se invisto meu tempo em alguma coisa, portanto, é porque acredito nela.
A internet nos permitiu, no entanto, vislumbrar uma hipótese que, até pouco tempo, pareceria impossível: um mundo sem imprensa. Hoje, renomados e sisudos especialistas debatem a possibilidade do fim dos jornais, que seriam substituidos paulatinamente pela internet e sua miríade de sites genéricos e especializados.
Seria ingenuidade concluir que o fim da imprensa representaria um avanço e, pessoalmente, não acredito nisso: acho que a imprensa não morrerá, apenas mudará de plataforma. A visitação do site do Globo, hoje, supera largamente a tiragem do jornal. Entretanto, se a nova plataforma não trouxe mudança no perfil editorial, a experiência da leitura sofreu uma profunda transformação. Os leitores mudaram. É uma revolução ainda em seu início, mas que avança muito rápido.
Nesses dias sem ler jornal, senti uma espécie de síndrome de abstinência. Como tenho feito, nos últimos anos, um constante trabalho de contra-informação, tentando desconstruir as meia-verdades que a imprensa aplica nas veias da classe média, descobri-me, eu mesmo, também viciado nesta droga. Viciei-me em odiar, porque aprendi a transformar esse ódio em energia para escrever. Tornei-me uma usina contra-informativa cuja matéria-prima era a imprensa.
Bem, ao menos identifiquei o vício, e agora procurarei superá-lo. Quero continuar lendo jornais e praticando a contra-informação, mas sem dependência. Agora que tenho mais tempo, procurarei publicar aqui análises colhidas diretamente das fontes. Aliás, esta é outra grande revolução trazida pela internet. É possível "saltar" a imprensa e ir direto às fontes. Ao site da Bolsa de Nova York, ao Ministério do Trabalho ou ao blog de um economista.
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