setembro 18, 2015

O homem como forma a ser superada – Foucault. POR Vinícius Siqueira (LETRA & FILOSOFIA)

PICICA: "O homem não passa de um produto temporal: não estava antes, não estará depois. É tarefa do próprio homem desvanecer-se e abrir caminho para sua superação.

Segundo Foucault, “o homem é apenas um rosto de areia na beira do mar, passada a primeira onda, nada restará“. É o que o filósofo diz no fim de As Palavras e as Coisas. O que isso significa? O homem, como concebido, como sujeito do conhecimento e seu objeto, como gerador de conhecimento, existe há pouco tempo e pouco tempo resta para ele. Foucault entende que a morte do sujeito já está em andamento, afinal, se ele não existiu sempre, nada garante sua permanência."

O homem como forma a ser superada – Foucault

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Escrito por Vinícius Siqueira
O homem não passa de um produto temporal: não estava antes, não estará depois. É tarefa do próprio homem desvanecer-se e abrir caminho para sua superação.


Segundo Foucault, “o homem é apenas um rosto de areia na beira do mar, passada a primeira onda, nada restará“. É o que o filósofo diz no fim de As Palavras e as Coisas. O que isso significa? O homem, como concebido, como sujeito do conhecimento e seu objeto, como gerador de conhecimento, existe há pouco tempo e pouco tempo resta para ele. Foucault entende que a morte do sujeito já está em andamento, afinal, se ele não existiu sempre, nada garante sua permanência.

homem foucault

Não se sabe se o sujeito dito pós-moderno pode significar a morte do sujeito moderno, da ciência, mas com certeza esta nova fase da sociedade produz novos tipos de indivíduos. É interessante entender que o homem, seja ele qual for e de qual época estiver, sempre será um alguém a partir das relações entre tipos de saber e configurações de poder que o cercam. Os discursos constituem os sujeitos.

A formação discursiva representa o sistema de regularidade que um discurso constitui e, portanto, suas possibilidades: com novas formações discursivas, há novas possibilidades de constituição dos sujeitos, porque novas formas de subjetividade são liberadas.

Resumidamente, em A Arqueologia do Saber, Michel Foucault diz que “no caso em que se puder descrever, entre um certo número de enunciados, semelhante sistema de dispersão, e no caso em que entre os objetos, os tipo de de enunciação, os conceitos, as escolhas temáticas, se puder definir uma regularidade (uma ordem, correlações, posições e funcionamentos, transformações), diremos, por convenção, que se trata de uma formação discursiva”.

Seguindo os passos de Georges Canguilhem, Foucault retira o foco da análise no conhecimento e estabelece descontinuidades, olha mais para os conceitos, percebe que existem caminhos seguidos por eles diferentes da história contada nos velhos livros de história das ciências.

Isso tudo para afirmar que a unidade do discurso não está em seus objetos, modalidades enunciativas, temas ou conceitos, mas na formação discursiva que dá possibilidade para a emergência destes. Encontrando a unidade do discurso, é possível encontrar aquilo que garante a existência de um tipo de sujeito do conhecimento específico, definido pelo próprio discurso.

E o novo?

Depois da primeira onda, levando embora o rosto na areia, haverá o nascimento de um novo tipo de homem – não necessariamente do jeito que gostaríamos, mas novo, inevitável.

Se Nietzsche formulou a morte de Deus, Foucault pretendia estender a análise nietzscheana: há mais um ícone enfraquecido, o centro das ciências humanas, aquele que, dentro das novas pesquisas históricas, econômicas, linguísticas e etnológicas, está sendo preterido pelo estudo das estruturas, das relações sociais. Este ícone é o homem.

O autor francês ainda afirma que o trabalho de Nietzsche ao matar Deus foi o de descentralizar o sujeito, de rejeitar o humanismo. No entanto, a morte do homem não acontecerá a partir de especulações filosóficas, mas somente através da prática. É necessário criar ferramentas para destruir as bases antropológicas que fixam o homem.

Apesar de ter tirado o ocidente do sono dogmático, ao refazer a metafísica cristã retirando dela todo seu princípio em Deus, Kant foi o instituidor do sono antropológico, da fixação do sujeito finito “homem” no solo arqueológico da modernidade. As ciências anteriores à modernidade, segundo a análise de Foucault, se remetiam ao sujeito infinito, ao Deus, eram ciências do geral que indicavam a ordem da finitude, entretanto, a morte do Divino é a libertação do homem para se tornar protagonista epistemológico.

A morte do homem, portanto, só pode ser feita pelo próprio homem: o agente social. O homem precisa criar práticas para mitigar a forma-homem. E qual a vantagem de tal façanha? Destruir o império da moral, acabar com a constante castração dos desejos, afirmar a união de corpo e alma (ou de corpo e consciência), acabar com a dicotomia entre normal e anormal.

A nova forma-homem nasce para abrir perspectiva de uma nova relação dos sujeitos com seus corpos, com seus desejos e, posto isso, com suas potências.

O nascimento de um novo tipo de homem a partir da transvaloração de todos os valores também modifica as regras que hierarquizam e separam os diferentes indivíduos. Tudo está interligado, o homem é estrutura e a estrutura também é o homem, portanto, a mudança de um necessita da mudança do outro e, logicamente, a transformação de um causa a transformação do outro. Inevitavelmente.

Fonte: Letra & Filosofia

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