PICICA 1: "Filme coreano de 2009, dirigido por Hae Joon Lee. Sinopse: Um homem
chamado Kim, pula nas calmas e escuras águas do rio Han. Ele acorda em
uma ilha sem nome neste rio que corta a movimentada Seul. Dia após dia
sua vida solitária porém extraordinária na ilha, desperta a curiosidade
de uma menina encorajando-a aos poucos a sair de uma vida de isolamento."
PICICA 2: Náufrago da Lua é um filme que consegue
equilibrar de maneira impecável questões profundas e existenciais,
romance e comédia.
Náufrago na Lua (Castaway on the Moon - Kimssi Pyoryugi )
Náufrago da Lua [Kimssi Pyoroogi] de Hae Joon Lee (2009)
Náufrago da Lua é um filme que consegue
equilibrar de maneira impecável questões profundas e existenciais,
romance e comédia. Tudo sem cair naquela coisa clichê que nos faz perder
o interesse pela história na primeira meia hora de filme.
Com personagens cativantes e complexos,
Náufrago da Lua é um filme bem detalhista. Do início ao fim nos
surpreende com pequenas reviravoltas que, de tão delicadas, fazem com
que seja impossível não colocar um sorriso no rosto. Ao mesmo tempo que é
leve e interessante, o filme consegue ser bastante reflexivo,
trabalhando, por meio do simbolismo, a temática da solidão e do
isolamento.
Título: 김씨표류기 - Kimssi Pyoroogi (Náufrago da Lua) Ano: 2009 Diretor: Hae Joon Lee Gênero: Aventura; Drama; Romance País de origem: Coréia do Sul
Kim é um homem que, por diversos motivos,
decide suicidar-se pulando de uma ponte em direção a um rio. No
entanto, é surpreendido ao acordar numa pequena ilha esquecida em meio
ao largo rio Han. Kim se vê impedido de nadar de volta à cidade devido a
um trauma de infância que envolve a água. A ilha urbana é uma metáfora
perfeita para a vida de inúmeros sujeitos que, como Kim, abandonam a
vida social (ou se veem abandonados por ela) pelos mais variados
motivos. Kim, que opta por adiar o suicídio envolvido na ideia de que
pode morrer a qualquer momento, passa a tentar conviver com o
isolamento, criando para si um lar.
A história então nos apresenta uma jovem
mulher cuja história se assemelha a de Kim. Vive isolada em seu quarto
por opção, uma moça, cujo nome não nos é revelado inicialmente, de
aparência doentia e que leva uma vida marcada pela rotina. Seu único
contato com o mundo exterior acontece por meio da tecnologia, – e mais –
com vergonha de sua própria identidade, tem como hobbie falsificar
perfis na internet de modo a ser bem aceita pelos demais. A moça, que
dorme escondida em seu próprio armário envolta em plástico bolha, tal
qual um objeto muito frágil, tem também o hábito de fotografar a lua,
único lugar onde não há sequer uma pessoa. A vida de Kim e da jovem se
cruzam quando, em determinado dia, ela o observa, por meio da máquina
fotográfica, na ilha. E decide se comunicar por meio de mensagens em
garrafas de vidro. A partir de então, pequenas alterações na rotina
acabam por transformar completamente a vida da moça, que passa a ter um
objetivo, um desejo, que tem relação com o mundo exterior.
Neste meio tempo, Kim, após encontrar uma
embalagem de talharim com feijões, elabora um desafio para si: fazer
seu próprio macarrão instantâneo, utilizando-se dos recursos da ilha. O
pequeno objetivo representa para ele toda motivação para viver e
transforma-se numa verdadeira missão que deve transformá-lo num ser
humano melhor; tal qual um monge que busca, por meio de tarefas
simbólicas, seu objetivo de iluminação espiritual.
Já dizia o velho Freud, no seu clássico
texto “Luto e Melancolia” (que reli, por acaso, pouco tempo atrás) que a
melancolia é um processo marcado pela perda de interesse dos sujeitos
nos objetos externos, ou, em outras palavras, no excesso de investimento
libidinal em seu próprio eu – o que impede, portando, que a libido seja
livre para ser investida naquilo que é externo ao sujeito. Tal qual
Kim, que torna-se rei em sua própria ilha, passando a fugir dos
eventuais visitantes; e a moça, cujo contato com o mundo externo é, de
início, praticamente nulo.
O filme nos mostra, no entanto, que é
impossível ser o rei de uma vida isolada por muito tempo. Hora ou outra o
mundo irá exigir de nós uma resposta, o que poderá destruir todas
aquelas paredes que criamos no isolamento, mostrando o quanto eram
frágeis e o quanto a fuga não é uma resposta adequada ao sofrimento.
Tal processo acontece com os
protagonistas de maneiras diferentes. E Kim é obrigado, por funcionários
da cidade, a deixar a ilha. Temendo que sua única fonte de alegria suma
em meio à imensa cidade, a moça encontra a motivação que precisava para
desapegar da vida confortável de isolamento e encontrar aquele homem
estranho com quem tanto se identifica.
Ao se encontrarem finalmente, a moça cria coragem para assumir quem realmente é: Kim. Tal qual o nosso náufrago.
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