setembro 14, 2015

SEM ESTUDAR O CICLO DE PROTESTOS INICIADOS EM JUNHO DE 2003, NÃO HÁ CONHECIMENTO POSSÍVEL SOBRE O ATUAL PROCESSO POLÍTICO

PICICA: "Como é a nova cultura ativista que emergiu de junho? Qual a composição social e a formação política dos novos grupos que se formaram? (...) E com relação a essas mobilizações anti-Dilma? Qual a sua natureza, qual o perfil dos mobilizadores, qual sua história, qual a cultura política por detrás dela? (...) Onde está a universidade? Onde estão os centros de investigação social?" 
 
Nessas duas últimas semanas participei de eventos discutindo o ciclo de protestos que começou em junho de 2013. Terminei conversando com alguns pesquisadores e nos demos conta da imensa carência de estudos empíricos sobre os protestos. Na verdade, contamos nos dedos de uma só mão os pesquisadores que fizeram trabalhos empíricos, baseados em entrevista, documentos, análise de dados ou etnografia. Junho em particular é o terreno para o achismo mais selvagem. Como é a nova cultura ativista que emergiu de junho? Qual a composição social e a formação política dos novos grupos que se formaram? Com pouquíssimas exceções (por exemplo, a etnografia da Esther Solano sobre ativistas que utilizaram a tática BB), não sabemos. Com exceção de estudos como o do Rudá Guedes Ricci sobre Belo Horizonte, não sabemos de onde vieram, qual era sua história prévia. Qual o impacto dos protestos no movimento sindical, agora que, com os novos dados do DIEESE, estamos percebendo o quanto as greves dispararam? Como mudou a relação entre bases e direções sindicais? O que aconteceu com as greves dos garis no Rio e dos motoristas em São Paulo? Como foi possível que uma chamada apócrifa de internet quase tenha gerado uma greve geral selvagem logo após junho? Não sabemos quase nada também. Como a explosão de ocupações na periferia no segundo semestre de 2013 (por exemplo, na zona sul de São Paulo) está relacionada com os protestos? Quantas ocupações ocorreram e qual o perfil de quem participou -- é diferente de outras ocupações sem lideranças políticas ou é um fenômeno diferente? Não sabemos também. E com relação a essas mobilizações anti-Dilma? Qual a sua natureza, qual o perfil dos mobilizadores, qual sua história, qual a cultura política por detrás dela? Sabemos pouco, muito pouco. Para ser justo, no campo da comunicação digital tivemos bons estudos, por exemplo os do Fábio Malini e da Actantes -- mas até neste campo ainda é pouco, dada a quantidade de questões. Onde está a universidade? Onde estão os centros de investigação social? Não é possível que não consigamos estudar com rigor os processos políticos pelos quais passamos.

Fonte: Pablo Ortellado

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