PICICA: "Interferência das empreiteiras nas prefeituras, aumento explosivo
na produção de lixo e resistência cultural à reciclagem explicam por
que Programa Nacional de Resíduos Sólidos patina"
Por que ainda somos um país de lixões
– 16 de setembro de 2015
Interferência das empreiteiras nas prefeituras, aumento explosivo na produção de lixo e resistência cultural à reciclagem explicam por que Programa Nacional de Resíduos Sólidos patina
Por Raquel Rolnik, em seu blog
Uma das metas da Política Nacional
de Resíduos Sólidos aprovada em 2010 era acabar com os lixões em todas
as cidades brasileiras até 2014. Diante do não cumprimento da meta, está
em discussão hoje no Congresso Nacional um Projeto de Lei que propõe
prorrogar esse prazo, de modo escalonado, e considerando o tamanho dos
municípios. Assim, as maiores cidades e as capitais teriam até 2018 para
alcançar a meta, enquanto pequenas cidades teriam até 2021.
Em primeiro lugar, a meta geral propõe a substituição dos lixões por aterros sanitários, mas estes só se viabilizam a partir de certo volume de lixo coletado, o que não se justifica em municípios com pequena população. De fato, sob essa lógica, as prefeituras não têm mesmo condições financeiras de construir essas estruturas, muito menos de operá-las. Esse modelo só serve para médias e grandes cidades ou… se for compartilhado entre vários municípios.
Aí começa o segundo problema. Já existe legislação que permite e regula a formação de consórcios para uma gestão compartilhada entre diversos entes da federação. Mas até hoje são muito poucas as iniciativas de consorciamento entre municípios. Antes de mais nada, essas iniciativas emperram em uma dificuldade de outra ordem, decorrente de interesses políticos entranhados nas gestões municipais, que têm impedido a formação de consórcios. Afinal, quem será o fornecedor do serviço? O da prefeitura A, da B ou da C? E a empreiteira que vai construir a obra? Quem vai indicar?
Além disso, o modelo de consórcio só tem possibilidade de dar certo se aplicado a municípios muito próximos. No interior de Minas, por exemplo, ou mesmo de alguns estados do Nordeste, pode funcionar. Mas se pensarmos em muitos municípios das regiões Norte e Centro Oeste, é impossível implementar um serviço de coleta e destinação do lixo que requer transportar o material por quilômetros e quilômetros de distância.
Ou seja, em alguns lugares é
inviável tanto construir um aterro quanto implementá-lo por meio de
consórcio. Para esses casos, é urgente pensar soluções alternativas. Mas
tais soluções hoje estão fora do radar dos modelos de projeto e de seus
correlatos modelos de financiamento. Mal e mal desenvolvemos equações
técnicas já incluídas nas rotinas de financiamento para a implantação de
aterros e centrais de reciclagem…
O fato é que nos últimos anos a geração de lixo no país aumentou em um ritmo muito maior que o crescimento da população: entre 2010 e 2014, a produção de lixo cresceu 29%, e a população, 6%. Hoje, 41,6% dos resíduos ainda vão parar em lixões. Esses dados são de pesquisa realizada pela Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
Enfim, não se trata de falta de dinheiro. Falta repensar o nosso modelo de federação (como podemos tratar como iguais municípios absolutamente diferentes? Como construir novas formas de gestão territorial intermunicipais de fato?) e, especialmente, formular soluções que levem em conta a diversidade de situações presentes em nossos municípios. Finalmente, falta também assumirmos mais firmemente nossas metas de redução da produção lixo!
Fonte: OUTRAS MÍDIAS
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