setembro 24, 2015

Farpa, para espetar o preconceito que se esconde atrás da Arte (Blog da Redação)

PICICA: "Feita apenas por mulheres, com financiamento coletivo, revista de quadrinhos, artes visuais e literatura insinua-se em ambiente que, embora banhado em Cultura, ainda flerta com machismo"

Farpa, para espetar o preconceito que se esconde atrás da Arte

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Feita apenas por mulheres, com financiamento coletivo, revista de quadrinhos, artes visuais e literatura insinua-se em ambiente que, embora banhado em Cultura, ainda flerta com machismo

Por Carolina Ito

Seis mulheres se conhecem em grupos nas redes sociais e passam a se articular em torno da produção de uma revista de quadrinhos, literatura, jornalismo, fotografia, poesia, enfim, tudo que for arte e o principal: que seja produzido exclusivamente por mulheres. Essa foi a sacada que deu origem à Revista Farpa há quase um ano.

Com um projeto de financiamento coletivo bem sucedido no Catarse (ainda dá para contribuir e adquirir um exemplar), a primeira edição da revista sai ainda este ano e conta com 99 trabalhos selecionados entre 600 inscritos por meio de um edital.

Renata Nolasco, uma das integrantes do Coletivo Farpa, comenta que a ideia, desde o início, era oferecer “um ambiente seguro onde a disseminação do trabalho das artistas e escritoras é o foco principal”. Mas por que a necessidade de criar um ambiente seguro para que elas possam publicar?
Em entrevista concedida à Outros Traços, as idealizadoras da Farpa relatam experiências que confirmam o quanto a mulher ainda enfrenta situações constrangimento e preconceito, mesmo em espaços que, aparentemente, são mais permeáveis à atuação feminina, como os do jornalismo e das artes.

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Renata é incisiva e diz que “além dos desafios que qualquer um enfrenta ao buscar ser bem sucedido em determinado campo artístico, literário ou o que for, a mulher tem que primeiramente conquistar o que todo homem já possui naturalmente pela sociedade: ser levada a sério”. E mesmo quando é levada a sério, ainda tem que lidar com colegas de trabalho que “automaticamente subtendem que a conquista deste espaço se deu por sua aparência, por seu relacionamento com homem X, por pena, cota…”, enfatiza.

Renata cita como exemplo o site Liga das Heroínas que traz relatos de mulheres que trabalham na área de publicidade e que convivem com a desigualdade de gênero.  Ela mesma já presenciou atitudes machistas na agência onde trabalha: “quando há uma seleção de estágio, os homens da criação se reúnem para olhar os perfis no Facebook das candidatas e chamam as mais bonitas para entrevista. Esse tipo de comportamento infelizmente é muito frequente em nossas e vidas e precisa parar”.

O debate feminista, que vem adquirindo maior repercussão com a internet, também está presente na idealização da revista e no processo de empoderamento das produtoras. Anelise Cossio acredita que a missão política da Farpa também é de empoderar outras meninas, a partir da abertura de um espaço destinado para mulheres cis e trans.

Vamos aos quadrinhos

Ao todo, serão publicados trabalhos de 16 quadrinistas, o que é interessante para conhecer o que as mulheres têm produzido recentemente. O próprio Coletivo Farpa, composto por Anelise Cossio, Lila Cruz, Lorena Balbino, Luiza de Souza, Raquel Vitorelo e Renata Nolasco surgiu de grupos no Facebook que reúnem mulheres quadrinistas (o Zine XXX) e ligadas às artes visuais (Arte das Mina).

Entre as autoras selecionadas para a primeira edição estão: Sirlanney Nogueira (autora da HQ Magra de Ruim), Cris Eiko (junto com Paulo Crumbim produz os Quadrinhos A2 e a HQ do Penadinho, da Maurício de Souza Produções) e Rebeca Prado (autora de Navio Dragão). A Revista Farpa será um espaço de visibilidade para essas e outras artistas de mão cheia e com trabalhos para todos os gostos.

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As integrantes da Revista Farpa querem produzir algo que vá além dos espaços cedidos em eventos e concursos com categorias especiais voltadas para a produção feminina. Não querem um lugar de exceção dentro de um cenário em que o reconhecimento e representatividade é dominado pelo masculino, mas sim, um espaço criado e conduzido por mulheres para ser apreciado por todxs.

Veja os trabalhos de algumas artistas que participam da revista:

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Arte de Sirlanney, autora de Magra de Ruim.

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Capa da terceira edição dos Quadrinhos A2, por Cris Eiko e Paulo Crumbim. Disponível para venda no site www.quadrinhosa2.com

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Hq publicada na página Inc., por Rebeca Prado.

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