Terça-feira, 26 de Agosto de 2008
A influência de Lula nas eleições-2008
A jornalista Cristiana Lôbo, uma das principais porta-vozes da TV Globo, nunca escondeu a sua antipatia pelo governo Lula, às vezes beirando o mais puro preconceito de classe. Durante a CPI do mensalão, em 2005/2006, ela torceu pelo impeachment do presidente. Nas deprimentes mesas redondas do Programa do Jô, ela sempre foi uma das mais ásperas nas críticas, com suas tiradas udenistas de paladina da ética. Numa entrevista à revista Época, da mesma Globo, até anteviu a derrota de Lula na sucessão de 2006. “Cada vez mais, ele tem menos chances [de se reeleger]. O cenário, definitivamente, não é mais favorável ao presidente Lula”, previu a desastrada vidente.
Agora, porém, a comentarista, mesmo mantendo o seu viés oposicionista, está convencida de que Lula será o grande vitorioso das eleições municipais de outubro. Na abertura do horário político gratuito, em 19 de agosto, ela se mostrou surpresa com o prestígio do atual presidente. “Todos os candidatos, até alguns da oposição, querem tirar fotos com ele”, afirmou Lôbo no Jornal das Dez, da Globo News. Para ela, isto é um fato inédito nas últimas campanhas eleitorais. Afinal, “Lula já caminha para o final do segundo mandato e mantém sua força”. Ela só não lembrou, por motivos óbvios, o triste fim de FHC, na qual ninguém queria a sua companhia nos palanques ou nas fotos.
Pegando carona no prestígio
A influência de Lula neste pleito parece inquestionável. “Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, há 179 candidatos de nome Lula nas eleições de 2008. Somente em Recife são seis, o maior número de Lulas em uma só cidade”, informa a revista Carta Capital, que entrevistou alguns dos postulantes à vereança que almejam pegar carona neste prestígio. Até tucanos e demos famosos pela postura hidrófoba contra o governo evitam atacá-lo nesta campanha. O prefeito Beto Richa, candidato do PSDB à reeleição em Curitiba, estreou o programa eleitoral na TV e rádio de forma bastante curiosa: “Quero fazer agradecimentos. Primeiro ao governo do presidente Lula”.
Tamanho prestígio decorre, entre outros fatores, da tímida recuperação da economia, após duas “décadas perdidas”, com o seu efeito mais visível dos recordes mensais de empregos formais; da ampliação dos programas sociais, que hoje atingem mais de 11 milhões de famílias, retirando-as da total exclusão; e do próprio carisma do presidente. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com as suas obras de infra-estrutura e benfeitorias sociais, é outro forte cabo-eleitoral. Já a valorização do salário mínimo e a ausência de ataques frontais aos direitos dos trabalhadores, diferentemente do ocorrido no primeiro mandato, evitam a rejeição dos setores mais organizados.
A sedução da classe média
Neste cenário aparentemente mais tranqüilo, a popularidade de Lula dispara em todo o país, em especial nas regiões antes mais apartadas do Norte e Nordeste, onde os índices de aprovação do presidente passam de 70%. O fenômeno do lulismo, entretanto, hoje já ultrapassa estas fronteiras. Como apontou recente reportagem da Carta Capital, com o maior dinamismo da economia, Lula passa a seduzir até as camadas médias do Sul e Sudeste, antes tão avessas ao presidente-operário. A queda da taxa de pobreza (de 35% em 2003 para 24,1% em 2008) e da taxa de indigência (de 13,7% para 6,6%) ajuda a aquecer o mercado interno, beneficiando a classe média elitista.
Estes fatores é que explicam porque “todos os candidatos querem sair na foto com Lula”. Lôbo insiste em não enxergar, ou esconder, a realidade. Mas, como diz o jornalista Alon Feuerwerker, ela justifica tamanho prestígio. “Seis anos depois [da sua primeira eleição], Lula continua dono absoluto da agenda social, sem ter perdido o voto de confiança quanto à estabilidade. E, mesmo que o crescimento médio da economia não seja nenhuma Brastemp, os números da criação formal de empregos batem de longe as estatísticas dos oito anos do consórcio PSDB-DEM”.
Para ele, tudo indica que Lula sairá fortalecido das eleições municipais e que “já tem o discurso pronto para 2010. Ele dirá que é preciso continuar com a distribuição de renda, com o combate à pobreza, com a criação de empregos. Lembrará também que o governo do PT não descuidou da inflação, esse algoz dos socialmente menos favorecidos. E deixará que as velas da campanha sejam enfunadas pelos ventos estatistas e nacionalistas que sopram cada vez mais fortemente em todo o planeta. A figura de Dilma Rousseff é adequada ao roteiro. E a oposição, dirá o quê?”.
O eleitor não é bobo
É neste cenário mais favorável que muitos candidatos a prefeito e a vereador, até dos partidos da oposição liberal-conservadora, tentam pegar carona no prestígio do presidente. Alguns aliados, inclusive do PT, que abandonaram Lula nos momentos da sua maior crise política, agora viraram lulistas de carteirinha. Não perdem uma solenidade de inauguração das obras do PAC e utilizam fotos antigas para justificar suas “sólidas relações”. Mas o eleitor não é bobo. Como argumenta Jairo Nicolau, um dos maiores especialistas em tendência do eleitorado no país, o uso da imagem do presidente não se transfere automaticamente para os que hoje afirmam apoiar o presidente.
Outros fatores pesarão na definição do candidato, como sua trajetória política e os projetos para a cidade. “A movimentação dos candidatos em direção ao presidente é natural. Como ele tem alta popularidade, eles vão querer se associar. Mas ele é mais um ator na eleição, não o que define. A agenda local terá mais importância”, sustenta o professor do Iuperj. Ele lembra os casos de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, onde os candidatos petistas estão em baixa. “Se o candidato não mostrar competência, o apoio será insuficiente. Ele pode tentar convencer que é a continuidade, mas pode vir outra candidata, como a Jô Moraes, e mostrar que ela tem relação com Lula”.
Fonte: Blog do Altamiro Borges
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