Nota do blog: Comentário de Zefofinho de Ogum (consultor do PICICA - Observatório da Luta Por Um Sociedade Sem Manicômios) - nascido numa favela carioca - quando Crivella anunciou um amplo progama de esterelização feminina para a cidade do Rio de Janeiro, : "Ô, Marcelão, até os matusquelas tão sabendo que laqueadura não é nenhuma novidade, cara! Quero vê é tu convencer a rapaziada a fazer uma simples vasectomia, brother?"
Mulheres de Olho
Jornal publica artigo crítico sobre Crivella
Posted: 27 Aug 2008 05:25 PM CDT
No dia 19 de agosto o Correio Braziliense publicou artigo de Margareth Arilha e Sandra Garcia, que analisa criticamente a proposta do candidato Crivella à prefeitura do Rio de Janeiro, em torno da esterilização, inserindo-a como uma questão mais ampla dentro dos processos eleitorais no Brasil e no mundo. O artigo merece ser reproduzido. Ele complementa outro artigo que publicamos aqui, sobre o mesmo tema. E um terceiro, publicado por Carla Rodrigues em seu blog (e que também reproduzimos aqui).
Segue o artigo, na íntegra:
“Disputas eleitorais e direitos reprodutivos”
MARGARETH ARILHA - Mestre em psicologia social e doutora em saúde pública, é diretora-executiva da Comissão de Cidadania e Reprodução.
SANDRA GARCIA - Doutora em demografia, pesquisadora do Cebrap e coordenadora do GTPopulação e Gênero da Abep.
A oferta de cirurgias de esterilização feminina tem sido, historicamente, moeda de troca em campanhas eleitorais. Embora a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde registre a existência, em 2006, de 22% de mulheres esterilizadas, contra 27% 10 anos antes, quando a Lei do Planejamento Familiar foi sancionada, essa ainda é uma opção anticonceptiva muito desejada pela população feminina. A novidade desta eleição municipal é que o senador Marcelo Crivella vem trazendo para a capital do Rio de Janeiro a mesma proposta que muitas vezes seduziu mulheres sem acesso à informação ou a outras opções de métodos contraceptivos: promete levar aos pobres a cirurgia que já é gratuita na rede pública de saúde, usando um discurso populista e equivocado que pretende associar combate à pobreza ao controle da fecundidade.
Ao visitar uma comunidade pobre na Zona Norte da cidade em que pretende ser prefeito, Crivellafortemente identificado com os neopentecostais, associou pobreza com ausência de controle da fecundidade, em uma clara tentativa de se colocar em posição oposta à da Igreja Católica,que há 40 anos condena — desde a encíclica Humanae Vitae — o uso de métodos contraceptivos. O direito que os cidadãos e cidadãs deste país têm no planejamento e controle da própria reprodução assume assim caráter religioso, somando-se a outras questões de igual importância no cenário dos direitos humanos e de âmbito federal, tais como a legalização da interrupção voluntária da gravidez, contracepção de emergência e união civil para pessoas do mesmo sexo.
Tem sido assim sempre, em disputas eleitorais locais, nacionais ou internacionais, ou seja, aquestão aparece menos para que se tomem medidas efetivas, e mais para definir o matiz ideológico do candidato ou da candidata. É pena que seja assim, porque em nosso caso atual, os prefeitos têm importante contribuição a dar na implementação das políticas definidas no âmbito federal. Pensando na Lei do Planejamento Familiar, por exemplo, caberá ao sucessor de Cesar Maia decidir pela implementação da distribuição da contracepção de emergência, prevista pelo Ministério da Saúde, mas dependente da iniciativa municipal para ser posta em prática.
A entrada dos neopentecostais na política se deu, há 20 anos, principalmente em questões relacionadas à família, ao casamento e à sexualidade. Distinguem-se dos católicos pelo fatode seguirem a orientação religiosa no que se refere às praticas e comportamentos sexuais e reprodutivos. No entanto, vincular pobreza ao controle da fecundidade com pinceladas religiosas não é pior do que a atuação da Igreja Católica neste campo. Um bom exemplo foi a influência da diocese local de Jundiaí sobre os poderes locais para vetar, com a aprovação de uma lei, o uso da contracepção de emergência na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo. Em continuidade, a Igreja Católica local vem expressando seu desejo de que os candidatos a cargos eletivos municipais evidenciem em seus programas de ação seu compromisso com posições de ‘defesa da vida’ — ou seja, suas posições sobre a contracepção de emergência, legalização do aborto e uso de células-tronco — para garantir o voto católico.
Preocupação tão intensa com a agenda dos candidatos no campo dos direitos reprodutivos chama a atenção. A sexualidade e a reprodução têm se tornado um campo de disputa política e religiosa, em que forças neopentecostais ou católicas estão defendendo posições morais e dogmáticas cometendo assim o mesmo erro: impor convicções religiosas ao conjunto de uma sociedade que se pretende democrática, inclusiva e laica.
CORREIO BRAZILIENSE - Brasília, terça-feira 19 de agosto de 2008 - OPINIÃO.
Margareth Arilha (Comissão de Cidadania e Reprodução) e Sandra Garcia (GTPopulação e Gênero da Abep)
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