Na Mira do Belmiro 068
Amazônia – as promessas da economia criativa
Belmiro Vianez Filho (*)
mhtml:%7BB298F14F-5E26-4F2F-9C72-9BDC054025A9%7Dmid://00000195/!x-usc:mailto:belmirofilho@belmiros.com.br
Uma invenção amazônica do cientista Manuel Cardoso, um mouse que permite ao usuário escrever textos em um monitor apenas com o movimento dos olhos, será lançada no mercado brasileiro em novembro. Infelizmente não temos poder de fogo para credenciar este professor e engenheiro eletrônico amazonense para disputar o prêmio Nobel de Eletrônica Social pela relevância e alcance de sua invenção. Quantos tetraplégicos e outros deficientes neuromotores poderão percorrer a qualquer hora a viagem fantástica da informação, da interatividade humana e do entretenimento a partir de então? Por muito menos, depois de fazer um macaco mover um computador apenas com o cérebro, Miguel Nicolelis, um paulistano graduado na Universidade de São Paulo, que estudou nos Estados Unidos, virou uma estrela mundial das Neurociências e entrou na lista dos candidatos ao Prêmio Nobel de Medicina.
O mouse ótico será fabricado pela Digibrás, empresa do grupo CCE, em Manaus e, segundo Marcílio Junqueira, o maior incentivador de Cardoso, as invenções não param por aí. O mouse ocular permite o manuseio de computadores por meio da captura e codificação de movimentos dos músculos da face e da íris. O cientista que patenteou o invento tem-se dedicado à inovação tecnológica e à estimulação de cérebros, uma atitude que sinaliza um conjunto de iniciativas e promessas que o modelo econômico aqui implantado abriga e promete na consolidação da ciência e tecnologia e sua necessária contrapartida social. Atualmente, a FUCAPI, Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica avança na apropriação do conhecimento, desenvolvimento de softwares, com ênfase na informática e telefonia celular. Seguida pela Fundação Paulo Feitosa, a inovação tecnológica produzida na Zona Franca de Manaus já ocupa o segundo lugar do ramo no ranking nacional, com incentivo da Suframa, cujas verbas contingenciadas bem poderiam destinar-se a ao “Pólo de Talentos”.
Mas não é só de software e da produção de design que sobrevive a economia criativa que começa a tomar corpo e resultados a partir da floresta. A alegoria, engenho e arte da festa bovina de Parintins há anos são exportados com glamour e cifrões para o avanço, brilho e glória dos desfiles de Carnaval e outras festas por todo o Brasil. O trabalho do visionário Robério Braga à frente da Cultura do Estado imprimiu força, consistência e excelentes negócios na promoção das artes da floresta, da música, do teatro popular, da ópera e do cinema, passando pelo resgate do fausto e requinte do Ciclo da Borracha que o Largo de São Sebastião representa. De quebra, os avanços da economia criativa nesse âmbito da atividade humana propiciaram a reafirmação e consolidação de nossa identidade cultural e documentação e registro de nossa memória.
O "Pólo de Talentos, por tudo isso, é, disparado, entre todos, o mais promissor. Especialmente se formos capazes de prestar mais atenção ao acervo tecnológico, medicinal e cosmetológico das nossas raízes etnológicas. Afinal, a descoberta do uso e finalidades do látex é invenção dos índios, e com a adoção da borracha, nunca é demais recordar, o mundo passou a andar mais rápido com os pneumáticos e a ser mais higiênico com as luvas hipodérmicas. E de quebra, fez de uma só espécie da imensurável biodiversidade amazônica um ciclo de economia que respondeu durante quase duas décadas por 45% do PIB Nacional. E se o assunto é economia criativa como imaginar as viagens espaciais sem a tecnologia da desidratação dos alimentos que os índios sateré-mawé propiciaram com a invenção do guaraná, um poderoso alimento desidratado? A engenharia genética dos índios no que se refere a frutas e legumes e a teimosia dos demais empreendedores da nossa História fizeram da economia criativa na Amazônia a demonstração da possibilidade da sobrevivência e desenvolvimento sustentável na floresta, o script e o mapa de um caminho de prosperidade a seguir. Não há a menor dúvida...
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· Economia criativa – O Reino Unido, que fez da economia do látex, um valor agregado de 60% com o cultivo racional da Hevea brasiliensis e seu beneficiamento industrial, tem um ministério exclusivamente voltado para Economia Criativa, fonte de negócios rentáveis para determinados setores não-convencionais do mercado. De quebra, uma das mais eficazes opções de combate ao desemprego na Inglaterra.
· Negócios sustentáveis – Muitas organizações não-governamentais começam a divulgar Bolsas de Negócios sustentáveis da floresta, com a venda de produtos da agroindústria, da silvicultura e produtos florestais não-madeireiros, incluindo resinas, fármacos e outros frutos do acervo natural amazônico. O açaí, carro-chefe da fruticultura regional, ao lado do cupuaçu apontam para uma filão promissor de negócios e de interiorização da economia.
· Nos limites do escárnio – As duas Miras sobre o abandono e descaso do poder municipal com o Centro de Manaus continuam repercutindo e a temporada eleitoral nos empurra a voltar ao tema brevemente. Não poderia deixar de reproduzir um comentário dos mais provocativos, vindo de uma autoridade em políticas públicas: “Muito boa sua crônica. Manaus é caos puro!. Tente perguntar dos candidatos a vereador qual a principal obrigação de um edil. A resposta certamente será ajeitar minha vida”.
· Campanha na TV – Começou a campanha de candidatos a vereador e prefeito no rádio e na TV. Um festival de mais abobrinha do que frutos efetivos de compromissos e propostas com o futuro de nossa Manaus esburacada, engarrafada e poluída. Um festival de insensatez e inconseqüência para um telespectador que a cada dia cada vez menos leva a sério e importante e necessária ação política. Está na hora de quebrar os ovos deste ciclo de repetição cansativa e fazer um omelete da inovação eleitoral.
(*) Belmiro é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
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