23/8/2008 15:18:00
O que é Arte Poética? – Parte 2
Por Jorge Tufic
II - POESIA
Ela vem do grego, poiesís, ‘poesia’, poíema. - atos, ´poema, poesia = poema’ (sendo o épico épos, o lírico mélos); poíetes ‘poeta’; poiétria, ‘poetisa’; poíetikós, ‘poético’; poietikeúomai, poetar, poetizar, são co-radicais derivados do verbo gr. poiéõ, fazer; fabricar, executar, criar, produzir; agir, ser eficaz; compor um poema; conseguir, núcleos semânticos que, de um modo geral, coexistem nas palavras de início referidas (Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 16, pag. 9017). Em latim varias palavras dessa origem ocorrem tomadas por empréstimo. Amplia-se, com isso, o território semântico do ‘fazer’, desdobrando-se para artífice, opífice; aplica-se o termo poético como relativo a poesia; poeto, poêtor passa a ter o significado de depoente. Com vários sentidos no grego, poiesís, poesia, é empregada, em Aristóteles, como ‘criação’, em oposição a pràksis, o agir, a ação; em Platão, como gênero poético, em que he poietike ekatéra significa ‘os dois gêneros poéticos, isto é, a tragédia e a comédia.
Tentativas de definição de poesia se acumulam posteriormente, e ao nível da descrição da linguagem valorizam e dão autonomia à palavra poética. No Renascimento, a arte poética, influenciada por Aristóteles, situa-se mais próxima da filosofia que da história. A teoria dos poetas românticos, baseada na existência de um conteúdo psicológico, coloca sua matéria prima na vida dos sentimentos e das emoções. Com Mallarmé, “a poesia é a expressão pela linguagem humana, elevada ao seu ritmo essencial, do sentimento misterioso dos aspectos da existência: ela dota assim de autenticidade nossa vida e constitui a única tarefa espiritual”. Para Novalis, “a poesia é a religião original da humanidade”. “De modo geral, as concepções românticas de poesia não separavam o universo vivido do universo poético. A poesia era dada como imaginação projetiva, captação imediata das emoções e apreensão vivida dos objetos particulares. Os poetas, vinculados à ideologia individualista do liberalismo burguês, davam à poesia a alta função de revelar a verdade humana em sua originalidade” (idem, pág. 9018).
A Concepção retórica. “Na Idade Média a arte de fazer versos era denominada segunda retórica, e os poetas, retóricos. Dante resumiu toda a tradição medieval na sua lapidar definição de poesia: “fictio rethorica in musica posita” (ficção retórica musicalmente composta). Essa concepção, em formas mais refinadas, sobreviveu até nossos dias, presente quer na resposta de Mallarmé a Degas (“a poesia se faz com palavras e não com idéias”), quer nas teorias lingüísticas ou semiológicas mais recentes. Por essa via, chega-se ao formalismo lingüístico, para o qual a poesia é uma máquina de combinações experimentais de palavras, de que resultam significados novos. Dentro dessa perspectiva, não há nenhuma experiência pré-poética capaz de mobilizar a atividade produtora de poesia. Uma série de signos, caprichosamente combinados pelo poeta, é bastante para criar o objeto-poema (Ib., pág. 9018).
A Concepção lúdica. “A palavra ritmada e cantada, ligada ao ritual mágico, tinha o sentido de um jogo sagrado. Com o passar do tempo, perdeu seus compromissos com o sagrado, e o ludismo que nela ainda se pode encontrar fica ao nível da palavra, no jogo de suas virtualidades semânticas e sonoras. As unidades materiais desse jogo - as palavras - já não vêm carregadas de seu poder mágico-encantatório. Aspiram a ser tão somente peças de um jogo combinatório que se arma e desarma segundo leis descobertas no próprio ato de fazer.” (Ib., pág. 9018).
Registram ainda as Enciclopédias e os tratadistas que nossas teorias são limitadas. Tampouco as metodologias utilizadas, a exemplo da fenomenológica, que busca localizar a poesia em quaisquer dos “estratos ou camadas estruturais, verticalmente articuladas”, conseguem atingir seu pleno objetivo. A experiência que resulta de tais pesquisas remetem, pelo contrário, à obtenção de um número cada vez maior de camadas para que se tome consciência da totalidade poética.
Leia o texto na íntegra em Cronópios
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