agosto 14, 2008

Fórum Nacional das Mulheres Indígenas

Passado, Presente e Futuro: Mulheres Fortes e Unidas
Preparatória para o Fórum Nacional das Mulheres Indígenas - 2009


À primeira impressão, um tímido encontro. Aos poucos foram chegando e já não havia lugar naquela mesa reservada a dez ou doze pessoas na sala de reunão do UNIFEM - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher. Com papel, caneta, notebooks e os adereços que simbolizam a força de cada etnia, as representantes das diversas organizações indígenas no Brasil chegaram à sede da agência da ONU, em Brasília, para a preparatória do Fórum Nacional de Mulheres Indígenas programado para meados de 2009.

Organizadas pela Rede GRUMIN de Mulheres Indígenas, nesse primeiro momento para um debate sobre a realização do Fórum Nacional, as vozes femininas começaram a ecoar. Elas discutiram sobre a inserção da mulher indÌgena no mercado de trabalho, sobre saúde e educação; sobre a violência e o preconceito sofrido ainda hoje; trouxeram suas próprias experiências e seus exemplos de conquista (a exemplo do movimento pela consciência negra) e compartilharam informações sobre a luta no dia-a-dia das "parentes", dentro das comunidades e na batalha urbana.

Como resultado dessa Preparatória, do Fórum Internacional da Mulher Indígena, abril de 2008/Lima-Peru, da Mesa de Trabalho de Itaipu-RJ/maio de 2008, formou-se a Comissão Executiva para a realização do Fórum, em 05 de agosto de 2008 com representação da Coiab, Inbrapi, Grumin, Conami, Apoinme, Instituto Kaigang, Warã e se consolidou o intercâmbio entre as organizações de mulheres indígenas com a criação do Blog temático e a abertura de um grupo de discussões no sistema yahoo: http://br.groups.yahoo.com/group/forumnacionaldamulherindigena/

Outro aspecto a ser estudado foram os aportes financeiros para a infra-estrutura de qualquer ação em prol das mulheres, sejam elas indígenas ou não. "A questão de gênero não esgá sendo considerada na prática", observa Eliane Potiguara, organizadora da Preparatória pelo GRUMIN, ao alertar para a necessidade de articulação entre as organizações indíenas no momento de captar recursos junto aos órgãos competentes. Uma das questões mais importantes para o sucesso do Fórum em 2009, segundo Eliane, é o envolvimento integrado das organizações: "como unir esforços, iniciativas, pessoas e como captar recursos em cada região?". Por enquanto, algumas foram apoiadas pelo Unifem, outras vieram por si próprias (sua organização ou seus recursos) e algumas chegaram a Brasília depois de muita estrada, sem nenhum suporte financeiro, como foi o caso da representante do povo Kaing·ng, Ângela Kaing·ng, que enfrentou mais de 30 horas numa viagem de ônibus, para participar do encontro. "Se não fosse a dificuldade financeira estaríamos muito mais organizadas", afirma Ângela ao fazer um alerta: "Nossa responsabilidade está crescendo a cada dia!".

Segundo Maria Inês Barbosa, do Programa Gênero, Raça, Etnia e Pobreza da UNIFEM (Fundo de Desenvolvimento das Naçõess Unidas para a Mulher), que abriu o encontro "Cunhã-Uasu Muacasáua - MULHERES FORTES E UNIDAS", é preciso ter consciência de que o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, fato que se torna ainda mais evidente se for analisado sob a ótica racial e étnica. Especialmente sobre a violência contra a mulher, Maria Inês lembra que na trajetória da herança cultural feminina existem "marcas que devem servir de força e reflexão".

Único homem a participar entre as mulheres, o escritor Cristino do NEARI (Núcleo de Escritores e Artistas Indígenas) trouxe a boa nova das negociações com a UERJ para a implementação da primeira Universidade Indígena do paÌs, entre outras ações. Ele reafirma a necessidade de registro e formação de conhecimento para a valorização da luta feminina indígena, o que é confirmado por Silvia Wajãpi, ao evidenciar especialmente a problemática da inserção das crianças indígenas nas escolas urbanas e sua luta por oportunidades equiparadas. Maria Miquelina Tukano e Mirian Terena lembram que a luta não traz benefícios apenas para uma comunidade ou uma representação dos povos indígenas. Aparecida Bezerra e Ceiça Pitaguary trouxeram de suas comunidades exemplos do engajamento político e social de suas comunidades.

A representante do povo Funiô, Maria Aureni, fez um desabafo em seu depoimento: "Minha mãe me criou com a intenção de lutar, com a voz que ela não teve, mas nossa trajetória tem rendido muito choro e muitos calos", conta Aureni. Trazendo a mesma herança de luta, Fernanda Jófei Kaing·ng, do Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual reverencia, na figura de Ângela Kaigang, o conhecimento de seu povo e, também lamenta o descaso diante da riqueza cultual dos povos indígenas: "eu cresci vendo esse processo e infelizmente não estamos conseguindo enfrentar a situação. Estou ao lado de uma das maiores especialistas em nutrição Kaing·ng , enquanto muitas crianças estão morrendo de fome", lamenta Fernanda ao relembrar a necessidade de uniã das mulheres em prol das futuras gerações. Por isso, no próximo mês de setembro, essas "Mulheres Fortes e Unidas" se encontram, novamente em Brasília, para formalizar e fazer um levantamento do que já tem sido trabalhado para o fórum de 2009. Enquanto isso, a discussão continua online e por telefone.

Acompanhe e participe!

Texto: Ana Inês - Repórter Free
reporterfree@gmail.com
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anaines.free@gmail.com
61-8476 3254

Membros da Comissão Executiva
Coiab, Inbrapi, Grumin, Conami, Apoinme, Warã e Instituto kaigan

Enquanto não temos o telefone do secretariado, estamos disponibilizando, gentilmente, esse telefone temporário para maiores contatos: (021) 2577-5816 e (021) 9335-5551.
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