Nota do blog: Festa no bairro do Mauzinho por ocasião da doação de livros para a biblioteca comunitária, no final do ano passado. A iniciativa foi da Pro-Reitoria de Extensão da Universidade do Estado do Amazonas - UEA, e contou com a colaboração da Editora da Universidade Federal do Amazonas.
10/5/2009 23:36:00
Biblioteca para todos?
Por Leonardo Brant e Felipe Lindoso
O MinC anunciou semana passada que o Brasil irá zerar o número de municípios brasileiro sem bibliotecas. Entrevistei o antropólogo Felipe Lindoso, especialista no assunto: “deve-se reconhecer, e dizer claramente, que o governo do Presidente Lula foi o que mais instalou bibliotecas públicas na história do país. Isso é altamente positivo e louvável, sem dúvida nenhuma. Só que o programa, como vimos, não apenas é medíocre na formatação e na sua execução, como também tem um caráter centralizador e autoritário”.
Leonardo Brant - O que representa para o país zerar os municípios sem biblioteca?
Felipe Lindoso - Do ponto de vista simbólico, é muito importante. Revela, sem dúvida, um esforço para eliminar algo que eu coloco como uma das vergonhas nacionais, isso de existir algum município que não tenha nem mesmo uma mísera biblioteca como equipamento cultural.
Mas, no caso, é importante considerar algumas outras coisas. Em primeiro lugar, o número de municípios “sem bibliotecas” é algo discutível. Não existe um sistema de informação dentro da Biblioteca Nacional ou do Ministério da Cultura que informe efetivamente sobre isso.
Em segundo lugar, o chamado Sistema Nacional de Bibliotecas é uma ficção, com algumas bibliotecárias lotadas no Rio de Janeiro, na Biblioteca Nacional, sem meios nem condições de efetivamente administrar um sistema. Deficiência que se repete nos estados, com as proverbiais honrosas exceções. As bibliotecas estaduais, que seriam as “cabeças” do sistema em cada unidade federativa, também não estão aparelhadas para saber o que acontece nos municípios. Até porque esse sistema não existe.
Em terceiro lugar, o levantamento dos municípios “sem bibliotecas” foi feito a partir dos dados do IBGE que constatavam a existência ou não – do ponto de vista formal – de biblioteca em cada município. Não existe nenhuma maneira do MinC saber quais bibliotecas efetivamente funcionam, e se estão pelo menos abertas ao público. Ou seja, existe um número indeterminado de municípios que, de fato, não possuem uma biblioteca aberta ao público e isso não está equacionado. Existem prefeitos que simplesmente não se importam com a questão da biblioteca pública, e entre os quase seis mil municípios provavelmente existem prefeitos que detestam a ideia de por livros ao alcance da população.
Por isso mesmo, anunciar que no dia 25 de junho o MinC vai “zerar” o número de municípios sem biblioteca é algo temerário. O Presidente Lula pode ser induzido a participar de uma cerimônia furada.
LB - O processo de implementação dessas novas bibliotecas atende às necessidades e interesses de cada região?
FL - Não. O processo foi totalmente centralizado na Biblioteca Nacional. A ideia original era que pelo menos 10% do acervo fosse “regionalizado” e nem isso foi feito. Os acervos foram totalmente definidos no Rio de Janeiro, por comissões de especialistas – competentes e com as melhores intenções, mas cheios da autossuficiência de quem sabe o que é “bom” para formar o “leitor crítico” que existe na cabeça deles. A ideia de que a biblioteca é um serviço público, que deve atender às necessidades dos leitores e, ao mesmo tempo, proporcionar os meios para ampliação do seu universo cultural, é um conceito estranho para os leiturólogos, como eu chamo. Na cabeça deles, livro bom é o que eles consideram assim, sem atentar para a diversidade de interesses, necessidades espirituais, emocionais e de conhecimento que possam ter os cidadãos espalhados por esse imenso país.
Ninguém se toca do ridículo que é mandar o mesmo acervo para Urucurituba, no Amazonas, Zédoca, no Maranhão, Ceres em Goiás, ou para os municípios do Pontal do Paranapanema ou do Vale do Ribeira em S. Paulo, ou da fronteira com o Uruguai no Rio Grande do Sul, etc.
Leia mais em Cronópios.
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