Nota do blog: Da esquerda para direita: Severino, Juarez, Alberto Jorge e Lélio Lauria (Secretario de Justiça e Cidadania). Momentos antes de iniciar a conferência da discórdia. O semblante dos personagens parece indicar a tempestade que se abateria sobre a conferência por uma militância extremada de um grupo que vem se notabilizando em tumultuar eventos públicos. Basta!
Constrangimento – Em Manaus, a II Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial, iniciada no dia 06/05 no auditório da Universidade do Estado do Amazonas - UEA, foi interrompida bruscamente por volta das 16h00 do dia 07/06.
O movimento denominado Nação Mestiça protagonizou cenas explícitas de baixaria verbal contra o Secretário Adjunto da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) Eloi Ferreira de Araujo, xingando-o de fascista e racista. Na pauta do debate a impropriedade de nomear os mestiços como grupo racial étnico-cultural.
Líderes do movimento afro-ameríndio, chocados com o tratamento dispensado ao secretário, entoaram o cântico “Emoriô” em solidariedade, retiraram-se do auditório e o acompanharam à Sala do Conselho Universitário. Ali permaneceram até que os ânimos serenassem.
Insegurança – Diante da insegurança criada pela agressividade do movimento Pardo Mestiço Brasileiro, cogitou-se em cancelar a conferência. Entretanto, o Secretário de Justiça e Cidadania, Lélio Lauria, chamou para si a responsabilidade em garantir a continuidade do evento.
No dia 08/05 o auditório da reitoria amanheceu com policiais militares e civis para garantir o calendário de conferências que antecede a Conferência Nacional Promoção da Igualdade Racial a ser realizada em Brasília. Segundo Zefofinho de Ogum, que participa como observador do PICICA, “com a presença da autoridade policial quem falava grosso afinou a voz; lobo virou carneiro e capiroto virou ‘filho de Maria’”.
Antecedentes – Para contextualizar o ocorrido é preciso recorrer à memória histórica recente. A Câmara dos Vereadores de Manaus e a Assembléia Legislativa aprovaram uma legislação que está na contramão da história das lutas pelo fim da desigualdade racial, segundo Alberto Jorge, da Coordenação Amazônica das Religiões de Matrizes Africanas e Ameríndias.
Trata-se da lei municipal, n. 934, de 6 de janeiro de 2006 e da lei estadual, n. 3.044, de 21 de março de 2006. Ambas instituem o dia do Mestiço. Pior, reconhecem os mestiços como grupo étnico-racial. Sabem os minimamente letrados que mestiço não é raça, ora pois!
A Antropologia brasileira ficou perplexa com a sapiência dos legisladores. Há tempos que os antropólogos não trabalham com o conceito de raça. O Brasil riu de legislação tão despropositada. Seria cômico, não fosse trágico.
Sem saber metade da missa rezada pelos “intelectuais” do movimento divisionista, os legisladores, involuntariamente, estão dando sustentação para as seguintes bandeiras do movimento pardo-mestiço: não à demarcação das terras indígenas, não ao reconhecimento dos quilombos, não às cotas raciais.
Curiosamente, as bandeiras do movimento pardo-mestiço são as mesmas bandeiras da direita brasileira, entre elas os integralistas. Não é à toa que em certas ocasiões seus integrantes se vestem com camisas verdes, e o M de Mestiços estampado no vestuário lembra uma letra do alfabeto grego usada como símbolo dos integralistas de Plínio Salgado, de tão triste memória.
Até agora, só o deputado estadual Luiz Castro veio publicamente justificar seu desacordo com a legislação, afirmando que na época foi envolvido por argumentos que de distanciariam da prática democrática ao dar abrigo a teses anacrônicas, e que até então não tinham vindo à luz. Que os outros nobres deputados tenham a coragem de reconher o equívoco conceitual e legislativo. É o que esperam os líderes do movimento afro-ameríndio. Concedo aos primeiros o benefício da dúvida: eles não sabiam que estavam alimentando uma serpente no ovo. Que venham a público reparar esse grave erro histórico!
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