Nota do blog: Houve um tempo, durante o regime militar no Brasil, que um homem resolveu nomear-se como reacionário de carteirinha. Chamava-se Nelson Rodrigues (acesse O enigma da esfinge para saber mais sobre o dramaturgo). O problema é que ele era um gênio da literatura. Se nesse campo ele brilhava, no campo político lhe cairia melhor o título "o obscuro". Nos anos 1960, quando comecei a me dar conta de que era gente, coletei inúmeros dos seus artigos reproduzidos no jornal A Crítica. Me intrigava suas agressões a D. Helder Câmara, à Igreja Católica como um todo, e à esquerda de um modo geral. No caso de alguns desses gênios, eles só são palatáveis se separarmos o homem da obra. Alguns casos o reacionarismo é problema de caráter, outros de convicção ideológica, ou mesmo de puro oportunismo. Em Manaus, por exemplo, um poeta que mais parece um babalorixá (nada contra, refiro-me ao visual) é uma dessas criaturas que baba-ovo de notórios políticos populistas, mas que tem uma obra que já vi - com esses olhos que a terra há de comer - abalar corações dos mais radicais militantes de esquerda. Depois de viver no exílio, a criatura caiu no descrédito junto ao movimento estudantil por ter se recusado a levantar a bandeira da Anistia, lá pelos longínquos anos 1970. Ops! O gajo só se livrou da pecha de reacionário, porque por efeito da obra ainda consegue ostentar uma aura de esquerda, que há muito não lhe pertence. Já o exemplo abaixo não se enquadra em nenhuma das modalidades acima descritas. Trata-se, sim, da forma mais alienada da apropriação do discurso psiquiátrico que se quer científico. Seus pares devem estar envergonhados, tamanha a fragilidade do texto. Leia, chore de raiva e não perdoe os estragos que esse tipo de discurso vazio ainda provoca entre os desinformados.
Domingo, 27 de Setembro de 2009 16:25
ARTIGO -
Reforma da assistência psiquiátrica
Feliciano Abdon Araújo Lima *
“A escola da experiência própria é muito custosa, mas os tolos só aprendem nela”
(Beijamin Franklin)
A lei antimanicomial fracassou na Itália, Inglaterra, EUA, países do primeiro mundo. A assistência na Comunidade não esta funcionando a contento e as mudanças dependem de mais investimentos. As coisas vão piorando, a cada dia. No Brasil, o povo está anestesiado, sofrendo sem gritar...Comete-se os mesmos erros e não desconfia-se da gravidade do que esta se fazendo. Fechar o Hospital Psiquiátrico é o único objetivo. Parecem até temer um dia precisarem dele.
O profissional de Saúde Mental e principalmente o psiquiatra, é o defensor do portador de Transtorno Mental, mais especialmente daquele que não tem consciência de sua doença e, portanto, não aceita tratamento, tornando-se perigoso para si próprio e para os outros (é o considerado doente grave). Em crise, pode agredir ou ser agredido.
O povo precisa entender como ocorre e quem é responsável pelo internamento e permanência no hospital, mês a mês, do portador de Transtorno Mental. Jamais alguém foi submetido a um ou outro procedimento sem que tenha sido autorizado pelo gestor (governo). Os hospitais conveniados oferecem a hotelaria e os recursos humanos indispensáveis ao tratamento. Os doentes que residem no hospital (por abandono familiar ou por gravidade do quadro mental) são também autorizados mensalmente pelo gestor. O Ministério da Saúde (coordenação de Saúde Mental) que defende a extinção dos hospitais e propositalmente os inviabiliza financeiramente, é inteiramente responsável pela existência dos mesmos.
A verdade é que o hospital psiquiátrico é necessário e sempre será como opção de tratamento. Não devemos permitir que o troquem pelas ruas ou prisões (Hoje, em torno de 50 mil doentes mentais vivem nos estabelecimentos prisionais brasileiros, sem o devido tratamento). Qual será o destino de doentes graves que vão ser desospitalizados ou que entrarem em crise?
Como podemos classificar a política da coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde que age de forma tão desastrosa, permitindo, para fechar o hospital, que também morram os pacientes nele internados (a exemplo do Hospital José Alberto Maia, em Camaragibe - PE). Afinal, com que tipo de gente estamos lidando? No mínimo pessoas com atitudes frias, perversas, insensíveis e/ou inadequadas.
Portanto, conclamamos o povo em geral, as autoridades (todas conhecedoras da grave problemática), as entidades de classe, os familiares, os antimanicomiais, todos seres humanos de boa índole, para juntos, ajudarmos àqueles quinhentos e quarenta doentes crônicos a ter uma qualidade de vida digna. Eles pertencem ao Sistema Único de Saúde (SUS), mas estão vivendo como indigentes e morrendo. Desculpem a minha indignação!
* Diretor do Departamento de Psiquiatria do Sindicato dos Hospitais de Pernambuco.
Fonte: Folha de Pernambuco
Um comentário:
No momento não comentarei nada. Só desejo que nem sua mãe e nem você precisem tomar choque na cabeça. Tenho certeza que não irão gostar.
Um abraço e felicidades
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