Inclusão social?
Nota do blog: No dia 30 de setembro, participei de um encontro do setor de saúde mental na Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas. Em discussão a Lei de Saúde Mental do Estado do Amazonas. Há dois anos, não sai do papel. Tratava-se do desdobramento de uma reunião ocorrida no Dia Nacional da Luta Antimanicomial - 18 de maio -, ocorrida na sala do Conselho Universitário da Universidade do Estado do Amazonas, a chamado da Pro-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade do Estado do Amazonas, com o objetivo de discutir criticamente o cenário atual da saúde mental do Estado e sua capital. Naquele evento, fez-se presente o presidente do Conselho de Direitos Humanos, deputado Luiz Castro. Deliberou-se por um novo encontro, dessa vez na Assembléia Legislativa. O encontro ocorreu, coincidentemente, no Dia da Marcha dos Usuários à Brasília por uma Reforma Psiquiátrica Antimanicomial. Sociedade civil organizada, serviços de saúde mental, representantes do gestor (com a exceção da gestão estadual de saúde), usuários e estudantes se fizeram presentes ao evento. Entre as queixas óbvias: o estrangulamento dos serviços, incapazes de atender a demanda de uma cidade com dois milhões de habitantes e apenas um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). A comunicação feita pela representante do gestor de saúde municipal merece comentários à parte. À falta de efetiva experiência com o novo modelo de saúde mental vigente no país (já teve gente propondo CAPS numa salinha de uma Policlínica, serviços residenciais terapêuticos em longínquos bairros da cidade de Manaus, e outras medidas mirabolantes), costumo assumir o papel pouco simpático de exigir o máximo do rigor crítico, dada, inclusive, a falta de perspectiva histórica da maioria dos interlocutores. Essa é a vantagem de envelhecer, sem perder o compromisso ético com a história do setor. Nessa última reunião, por exemplo, um ex-Secretario Estadual de Saúde, diante da informação de que o hospital psiquiátrico cederia lugar a um hospital clínicas - face às obras previstas para abrigar a Copa de Mundo de 2014, no estádio ao lado do velho hospício -, insistia que o novo hospital seria obrigatoriamente para a saúde mental. Não!, disse eu, peremptoriamente. O Hospital de Clínicas é que abrigaria uma área para manutenção do pronto atendimento a crises psiquiátricas. Nada mais. O antecedente desconhecido das novas gerações é que o referido secretário pertenceu ao grupo político do ex-governador Gilberto Mestrinho, que advogava a idéia do hospício ser deslocado para uma das nossas BR, para dar lugar à construção de um Hospital do Servidor, lá pelos anos 1980. A idéia era boa, mas o preço era muito alto: mais estigma e exclusão social às pessoas com sofrimento mental. Em tempo: o ex-secretário é meu amigo pessoal. O que está em causa, entretanto, não é nossa amizade. Não me agrada perder amigos. Porém, não raro, alguns afastamentos foram inevitáveis. Espero que o mesmo não ocorra com os que ainda trabalham no velho hospício. O exemplo a seguir me veio a propósito da uma crítica amorosa feita no decorrer da reunião na assembléia legislativa: "A gente gosta de você, apesar das nossas divergências". Vamos ao exemplo: defender a construção de casinhas para residência de usuários no interior da propriedade onde está instalado o hospício público, tenha santa paciência! O movimento social por uma sociedade sem manicômios iria gargalhar em todo o país com essa desastrada concepção de inclusão social. Por essa e por outras, fica esclarecido as razões pelas quais esse tipo de reformista costuma ficar longe do meu alcance visual, mas não da minha pena. Não me queiram mal, companheir@s, hay que endurecer, sin perder la ternura jamás. Como testemunho da minha indignação, no alto pode-se ver a ilustração das casinhas que seriam construídas no velho hospício, cuja iniciativa conseguimos evitar, como evitamos o deslocamento de usuários para um dos bairros mais periféricos da cidade (Nova Cidade), o CAPS numa salinha de uma Policlínica e por aí vai. Sorry! A luta continua!
Um comentário:
olá kaamirã, adorei a sua posição firme.Precisamos de mais pessoas de fibra como vc, aqui em Minas são raros os que enfrentam "autoridades políticas"por uma causa,trabalho caps Diamantina ,e sinto falta de líderes que possam lutar pelos direitos dos usu´srios,beijos.sylvana
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