janeiro 22, 2010

A hipocrisia sem fim do embaixador de Israel

Entenda o confronto entre Israel x Palestina

[ Agálma ]


Giora Becher e a hipocrisia sem fim

por Victor Barone — O jornal Correio do Estado (MS) publicou na terça-feira (19) o artigo “Para onde segue a paz”, assinado pelo embaixador de Israel no Brasil, Giora Becher. Publicado originalmente no dia 2 de janeiro, n’ O Globo, o artigo é uma peça de ficção de péssima qualidade.

O diplomata israelense afirma que “o compromisso com a paz tem sido o objetivo central de todos os governos de Israel desde a criação de nosso Estado, em 1948”, prossegue assegurando que os dirigentes do país querem uma solução de dois estados para israelenses e palestinos, ressalta a “bondade” de Israel ao desocupar a Faixa de Gaza, sua “tolerância” por afrouxar o garrote nos postos de controle e na ampliação dos assentamentos na Cisjordânia, e finaliza ressaltando a “incompetência” dos palestinos para gerir seu próprio destino.

É um bom artigo, para quem fica na superfície do tema. No entanto, para os que conseguem ver as contradições históricas nas entrelinhas, trata-se de um insulto à inteligência.

Como o tema é espinhoso, e há a tendência (estratégica) de classificar como anti-semitas os que se atrevem a criticar as políticas expansionistas de Israel baseadas na ideologia torta do sionismo, digo o óbvio: Israel é uma nação soberana e sua existência deve ser assegurada e defendida, assim como deve ser assegurado e defendido o direito dos judeus professarem sua fé.

Dito isso, faço alguns comentários sobre os equívocos e “esquecimentos” no artigo de Giora Becher.

Em primeiro lugar, dizer que Israel tem compromisso com a paz é uma simples e grotesca mentira. Desde os primórdios da ocupação judaica na região a violência e a intimidação contra as populações árabes autóctones foram a regra. Mas, para enxergar claramente as lacunas simplistas do artigo de Becher é preciso compreender as origens do conflito árabe-israelense e as suas conseqüências modernas.

O Início
Os judeus migraram para o mundo árabe quando começaram a ser perseguidos de forma sistemática em toda a Europa, no final do século 19. “Então, judeus europeus tentaram achar uma solução para o problema. Uma minoria destes ativistas era sionista, ou seja, defensores da idéia segundo a qual o único lugar seguro para um judeu seria em um Estado Judeu”, explica o professor Rashid Khalidi, da School of International and Public Affairs, da Universidade de Columbia.

Este Estado, segundo os projetos dos judeus sionistas, seria implantado na Palestina. Ocorre que, diferentemente do que eles apregoavam, que Israel seria “uma terra sem povo para um povo sem terra”, a Palestina não estava desocupada.

“A sociedade judaico-israelense dominante acredita, pois assim ela foi educada, que a Palestina estava desocupada quando os colonos judeus vieram para cá”, lembra o historiador israelense Ilan Pappe, da Universidade de Exeter.

Mas, como dissemos anteriormente – e isso vale ser repetido à exaustão –, a Palestina não estava desocupada. Era uma terra povoada por árabes com alto grau de cultura e educação, com fazendas e mercados, vilas e cidades, com estradas, comércio e muita interação com o resto do mundo.

“Quem pagou o preço pelos colonos? É verdade que se tratava de uma terra sem povo para um povo sem terra?”, questiona Phyllis Bennis, integrante do Institute for Policy Studies e membro do U.S. Campaign to End Israeli Occupation. A resposta é óbvia: o preço foi pago pelos palestinos.

Em 1878 havia quase meio milhão de árabes muçulmanos e cristãos na Palestina – 96,8% da população local. Entre 1882-1914, seguindo o sonho sionista, 65 mil judeus europeus chegaram à região em uma movimentação populacional que cresceu depois da 1º Guerra Mundial, quando a região estava sob o domínio britânico.

Quando os britânicos implementaram a Declaração Belfort, que prometia aos judeus uma nação na Palestina – indo contra as declarações anteriores de autodeterminação para os habitantes árabes da região – ajudaram os sionistas a estabelecerem a estrutura básica do estado israelense e, ao mesmo tempo, negaram esta autodeterminação aos árabes que já residiam ali. Ou seja, os palestinos observaram, impotentes, um poder europeu decidir sobre o destino de um território não europeu, ignorando sua presença e interesses.

Com o passar dos anos, paulatinamente, judeus de toda a Europa tomaram o rumo do Oriente Médio.

Em 1922, os árabes muçulmanos e cristãos na Palestina eram 757,182 (87,6% da população) e os judeus 11%. Na década de 20 a terra começou a mudar de mãos, dando início aos primeiros conflitos entre palestinos e judeus. Entre 1920 e 1931, outros 108.825 judeus chegaram à Palestina. Em 1931, árabes cristãos e muçulmanos eram 1.035,154 (81,6% da população), contra 17% de judeus.

Com a Segunda Guerra Mundial e o advento do nazismo a migração tomou impulso. Entre 1932 e 1936, mais 174 mil judeus chegaram à região, dobrando a população judaica e, entre 1937 e 1945, outros 119.800 judeus desembarcaram na Palestina.

Na tentativa de amenizar os crimes nazistas, a intenção de fazer da Palestina um estado judeu se fortaleceu e encontrou apoiadores entre os países aliados. “Só que os palestinos não eram nazistas, nada tinham a ver com o holocausto. Mas foram eles que pagaram o preço”, afirma Phyllis Bennis.

Em 1947, o conflito entre palestinos e judeus saiu do controle e a Inglaterra – que até então dominava a região – retirou-se do cenário, passando o problema para as Nações Unidas, que, sob pressão, propôs dividir o território da Palestina em dois estados, um árabe e um judeu. Aos árabes seria dado 43% da terra, apesar de representarem 2/3 da população e possuírem 92% do território. Aos judeus seria concedido 56% do território, apesar de serem 1/3 da população e possuírem menos de 8% da terra. “Os judeus não apenas ganharam a maior parte da terra, mas a maioria das terras férteis”, lembra Rashid Khalidi.

Os líderes sionistas, através da superioridade militar, começaram então a ocupar importantes cidades árabes na Palestina, iniciando um processo de sistemática expulsão forçada dos árabes muçulmanos e cristãos que ali residiam.

“Eu estava entre as pessoas que conquistou a cidade de Acre. Estávamos andando pela cidade e entramos em um apartamento onde havia um par de sapatos de uma criança pequena, de cerca de dois anos de idade. Eles não tiveram tempo de pegar os sapatos e os deixaram lá. Eles deixaram tudo”, relembra Hava Keller, ex-soldado israelense e membro da Woman’s Organization for Political Prisoners.

Neste período as pessoas foram simplesmente expulsas de suas casas, iniciando um movimento sem precedentes de refugiados na região. A população árabe começou a ser repelida em um processo de limpeza étnica e confrontos que geraram massacres como o da vila Deria Yassin, onde mais de 100 homens mulheres e crianças foram assassinados pelas forças israelenses. A partir daí o pânico se instaurou e 300 mil refugiados palestinos começaram a vagar pela região antes mesmo que qualquer plano pudesse ser traçado para atenuar o drama humano inerente à divisão daquela terra milenar em dois países.

Então, em 15 de maio de 1948, estados árabes visinhos a Israel – que já não viam com bons olhos a criação de um Estado Judeu ao seu lado – intervieram enviando 68 mil soldados contra 90 mil soldados israelenses. Como conseqüência da derrota árabe que logo se consolidaria, o exército de Israel ocupou a maior parte do que seria o estado Palestino proposto pela ONU, dominando 78% da Palestina. A Cisjordânia ficou sob o controle da Jordânia e a Faixa de Gaza sob o domínio dos egípcios.

Este é o ponto de inflexão da moderna tragédia palestina. Depois do cessar fogo, 700 mil palestinos tornaram-se refugiados, vivendo em campos, isolados e sonhando em voltar para as suas casas, que agora estavam em território israelense.

Nos meses seguintes, no entanto, a maioria das vilas palestinas localizadas em Israel e nos territórios agora ocupados foi reduzida a pó e substituída por assentamentos judeus ou terras para agricultura. Das 500 vilas palestinas dentro de Israel em 1948, 400 foram destruídas, o que foi denunciado pela ONU como flagrante violação das leis internacionais. Israel passou a incorporar os territórios ocupados, expulsando seus habitantes e desrespeitando o direito internacional que rege a relação entre exércitos invasores e povos sob ocupação.

Os acontecimentos de 1948 foram definitivos para o Oriente Médio. Deste ponto em diante, a instabilidade reinou na região e levou à guerra de 1967, na qual Israel ocupou o restante da Palestina histórica, o que é conhecido hoje como Cisjordânia e Gaza. Mais 400 mil palestinos foram desalojados de suas vilas e cidades e metade dos refugiados de 1948 foi desalojada pela segunda vez em menos de 20 anos.

Para os palestinos, havia ficado claro que o mundo não iria defender sua causa. Eles viviam como cidadãos de 3º classe, em um estado que os havia excluído pela identidade, vivendo em territórios ocupados e no estrangeiro, onde continuaram como refugiados despossuídos.

A ONU emitiu diversas resoluções afirmando seus direitos, líderes árabes defenderam verbalmente sua causa, mas todos falharem em agir de forma concreta.

A pouca importância atribuída por Israel a ONU é histórica. O país não segue de forma alguma a lei internacional e é sempre bom lembrar que a ocupação sobre os territórios palestinos é ilegal. Trata-se de uma violação da 4ª Convenção de Genebra, segundo a qual a um exército de ocupação não é permitido construir assentamentos, estradas, expropriar terras, deportar pessoas, restringir sua liberdade de movimento, arrasar a economia do país ocupado ou colocar o seu povo na pobreza e no desemprego. Israel é o País que mais violou as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos, por sua vez, usaram seu poder de veto mais de 40 vezes nas Nações Unidas para defender Israel quando este violou leis internacionais.

Revolta, pedras e tanques
Finalmente, em 1987, os palestinos reagiram em um levante chamado Intifada (a revolta das pedras), na qual grupos de palestinos – a maioria muito jovem – enfrentaram as forças israelenses a pedradas. Para conter as manifestações, o primeiro ministro de Israel, Isaac Rabin, adotou a estratégia batizada de “Quebrar Ossos”, na qual soldados israelenses quebravam braços e pernas de manifestantes palestinos presos – o que foi documentado diversas vezes por jornalistas ocidentais.

Durante a Primeira Intifada, entre dezembro de 1987 e dezembro de 1993, 1100 palestinos foram mortos – entre eles 256 crianças – assim como 114 israelenses – entre eles cinco crianças. Milhares de palestinos foram encarcerados. Desde 1967, mais de 400 mil foram presos por Israel – muitos sem acusação formal-, sofreram abusos físicos, tortura e estupros.

No final de 1993 os palestinos entraram em um processo de paz com Israel, que levou à assinatura do Tratado de Oslo, onde o líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Yasser Arafat, e o primeiro ministro israelense, Isaac Rabin, apertaram as mãos diante do presidente estadunidense Bill Clinton, no dia 13 de setembro do mesmo ano. Mas o que parecia um processo de paz era, na verdade, um engodo.

“Há uma falsa idéia de que os tempos de Oslo foram tempos de paz”, explica a jornalista israelense Amira Hass. “Naquele período, enquanto supostamente estava em andamento um tratado de paz, a situação dos palestinos ficou ainda pior. Os deslocamentos entre os territórios ocupados tornaram-se ainda mais difíceis. A realidade é que esta foi uma nova forma de dominação dos israelenses sobre os palestinos”, complementa Phyllis Bennis.

“Direitos econômicos e sociais são os direitos de se ter saúde, trabalho, educação, etc. Estas áreas pioraram para a maioria dos palestinos”, lembra Roger Normand, do Center for Economic and Social Rights. De acordo com Allegra Pacheco, advogada e ativista israelense pelos direitos humanos, “todos os indicadores econômicos palestinos caíram durante Oslo, durante os processos de paz”.

O professor Rashid Khalidi sustenta que os assentamentos judeus nas áreas ocupadas continuaram a se expandir mesmo durante as negociações, dobrando sua população de 200 para 400 mil pessoas.

Enquanto o controle israelense se expandia, a Autoridade Palestina caía nas armadilhas do poder. As dificuldades para transformar o território palestino, mesclado por assentamentos israelenses, em uma nação, eram imensas. Além disso, eles não tinham autoridade alguma de fato e virtualmente poder algum. Seu poder era legitimado por Israel e podia ser cancelado a qualquer momento.

O antropólogo Jeff Halper, membro do Comitê Israelense Contra a Demolição de Casas, afirma que os palestinos nas áreas ocupadas sempre estiveram totalmente alijados de meios de administrar a si mesmos: “Eles não ocupam nenhuma posição de destaque em sua própria comunidade. Não estão nos conselhos e muito menos nas administrações, seja na Cisjordânia ou em Gaza. As políticas são feitas para manter o controle israelense, é tudo muito cínico, para impedir os palestinos de crescerem e mantê-los isolados em bolsões. Assim, a maioria dos territórios ocupados está livre para a implantação de assentamentos israelenses”.

“É muito conveniente acreditar que não há ocupação alguma. Quantos aspectos de sua vida são determinados por outras pessoas? Isso é ocupação. Nas últimas décadas Israel pôde determinar todos os aspectos da vida dos palestinos. E os palestinos ouviram Arafat dizer dez, 100 vezes que Ramallah estava livre, que Gaza estava livre. Como poderiam estar livres com um exército a sua volta? Os líderes palestinos falaram muito superficialmente sobre a situação, sobre a realidade e estavam escondendo os fatos da grande maioria da população e isso foi um desastre”, explica Amira Hass.

Rashid Khalidi reforça: “Estes abusos, esta violação da confiança da população estavam ocorrendo regularmente desde o início do processo de Oslo. Ao invés de terem uma verdadeira Autoridade, havia esta instituição corrompida, que cumpria tarefas determinadas por Israel, policiando os palestinos, evitando que eles continuassem resistindo à ocupação”.

“Eles desperdiçaram muito dinheiro que a comunidade internacional doou para reconstruir as vilas e reverter a pobreza em que as massas palestinas viviam”, analisa o relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel, Richard Falk.

Enquanto a mídia contava ao mundo que um processo de paz estava em andamento, Israel continuava sua política de demolição de casas nos territórios ocupados. Desde 1967, cerca de 12 mil casas palestinas já haviam sido demolidas. Destas, 740 foram demolidas durante o processo de paz de Oslo, deixando claro que os palestinos jamais voltariam para suas terras.

Ex-embaixador dos Estados Unidos em Israel (1997/1999), Edward Walker aponta as discrepâncias de Oslo: “O que ocorria era uma demanda justa dos palestinos durante os processos de paz, enquanto os israelenses tomavam mais territórios por meio dos assentamentos, se instalando em lugares que estavam sob negociação”.

Segunda Intifada
Desesperados para por um fim na ocupação, os palestinos voltaram para a mesa de negociação em 2000, mas, novamente, os esforços pela paz não foram bem sucedidos.

“Israel ofereceu 95% da Cijordânia, mas foi repelido. A suposição é que tendo 95% da terra você tem 95% da soberania. É muito fácil comparar isso com uma prisão. Se você olhar a planta de uma prisão, parece que os prisioneiros dominam o lugar. Eles têm 95% da área: as áreas de convivência, pátio de exercício, refeitório, áreas de trabalho. Tudo que as autoridades têm é 5 %. É o controle”, compara Jeff Halper.

“Nós não achávamos que eles iriam jogar fora esta chance, mas eles se desligaram, pois não havia nada a jogar fora. Pois há uma constante expropriação da terra, desmatamento, construção de estradas. Junto a isso há uma injusta divisão da água, deixando muitas famílias (palestinas) com apenas duas horas de água por semana no verão. Ao lado você tem um assentamento com piscinas e estufas. O que você espera que estas pessoas pensem?”, questiona o Rabbi Arik Ascherman, do grupo israelense Rabbis for Human Rights.

Esta sensação de exclusão explodiu em setembro de 2000, na segunda Intifada. “O que chamamos de segunda Intifada é essencialmente uma mobilização de resistência contra o sistema de opressão e ocupação. Israel, no início destas demonstrações, fez uso da força. Usou munição real contra manifestantes desarmados, causou muitas mortes e centenas de baixas nos primeiros dias”, afirma Falk.

Nos primeiros 10 dias as forças de segurança israelenses mataram 74 palestinos e feriram cerca de 3000. Muitas vítimas eram crianças. “Temos muitos casos documentados e evidências de que as forças israelenses dispararam contra grupos de crianças”, aponta Sharon Burke, diretora de advocacia da Anistia Internacional.

Os israelenses também sofreram com ataques suicidas, emboscadas a colonos e muitos foram mortos. “Quando houve um horrível ataque suicida na Praça da Paz, em Jerusalém, eu fui visitar algumas das crianças feridas no hospital e foi horrível. Foi horrível ver o que havia acontecida àquelas crianças”, desabafa a Rabbi Rebecca Lillian, da organização Jewish Alliance for Justice and Peace. “Você vê sangue, vê a agonia das famílias, é isso o que o mundo vê. Mas você não pode tirar isso do contexto geral, e o contexto é o da ocupação israelense, que pode não parecer brutal, mas é, sim, muito brutal e torna a vida das pessoas impossível”, afirma a jornalista Amira Hass.

Para Jeff Halper, “é preciso mudar a noção sobre Israel”. Segundo ele, “Israel gosta de vender a idéia de que é uma nação pacifica cercada por um mar de árabes hostis e que quer apenas a paz”. Na verdade Israel é a 5ª maior potência nuclear do planeta, possui entre 200 a 300 ogivas nucleares e é a única super-potência na região.

O uso da força excessiva contra a população civil pelo exército israelense é historicamente desproporcional e por isso as vítimas do confronto são, em sua maior parte, gente comum, desarmada e inofensiva.

Em agosto de 2005 Israel desmantelou os assentamentos e postos militares em Gaza, re-alocando os colonos em outras regiões. A mídia israelense se referiu a isso como um “sacrifício sem precedentes”, mas, na verdade, foi uma simples concordância de Israel em cumprir a lei internacional. A evacuação dos colonos de Gaza atingiu apenas 2% do total da população de colonos israelenses e a cada um deles foram prometidos 270 mil dólares para se re-alocarem. Um custo total de 2 bilhões dólares, uma despesa que Israel pediu aos EUA que pagassem.

A presença de Israel em Gaza ficou pouco visível, mas os israelenses mantiveram o controle sobre toda a fronteira, o litoral e o espaço aéreo, criando uma prisão virtual na qual 1,5 milhão de pessoas tentavam viver em meio a pobreza.

Assim que Israel se retirou de Gaza iniciou um processo de confisco de terras palestinas adicionais na Cijordânia e continuou a construção de um muro de separação entre os refugiados e os assentamentos israelenses localizados nas terras palestinas. Este muro tem o dobro da altura do Muro de Berlim e é quatro vezes mais longo que este. Ele atravessa vilas, separa trabalhadores de seu trabalho, separa civis da assistência médica e da educação, separa fazendeiros de suas terras e famílias de seus amados.

“Você tem este enorme muro sendo construído bem no meio da Cisjordânia, como alguém pode acreditar que haverá um estado palestino ali? É um símbolo da opressão”, afirma o Rabbi Michael Lerner, da Tikkun Community.

A intenção de negar aos palestinos uma nação fica mais clara nas palavras do Major General Ya’ir Naveh, líder das forças de ocupação de Israel na Cijordânia: “Nós não temos intenção de deixar a Judéia e Samaria (Cisjordânia). Nós permaneceremos aqui, de uma maneira ou outra, por centenas e milhares de anos”. Hoje, há aproximadamente 450 mil colonos israelenses vivendo dentro da Cisjordânia e em Jerusalém Leste.

Diante de tudo isso, em janeiro de 2006, insatisfeitos com os rumos da “democracia” concedida pelos israelenses, exasperados com a sua inviabilização enquanto nação, com a manutenção dos assentamentos e a corrupção interna da Autoridade Palestina, os palestinos votaram pela saída da OLP do governo dando ao Hamas os assentos necessários para obter a maioria do parlamento.

“Os israelenses não vêem que é assim que se cria o terrorismo? Não entendem que sendo tão opressivos para com a população civil, fazem com que ela se veja sem opção?”, questiona Kathy Kamphoefner, representante da Quaker International Affairs em Jerusalém.

Terrorismo e reação
O Hamas é uma organização extremista, baseada no fundamentalismo islâmico, que não reconhece o Estado de Israel. Dificilmente tal organização encontrará apoiadores entre a democracia ocidental ou entre os que defendem os direitos humanos. No entanto, a população palestina não pode ser responsabilizada nem punida por isso, muito menos sua reação à ocupação pode ser classificada como terrorismo.

O uso de homens-bomba, seja contra alvos militares ou populações civis, tem sido uma das principais críticas feitas contra os militantes do Hamas. Para Richard Falk, o uso deste tipo de estratagema retrata um ato de desespero: “É a arma dos fracos”, resume.

Peter Boukaert, diretor de emergências da Human Rights Watch, considera que há uma clara relação entre os abusos contra os direitos humanos cometidos por Israel na Cisjordânia e em Gaza e a resposta dos militantes palestinos a estes abusos na forma de ações extremistas.

Uma reportagem que examinou os antecedentes de 87 militantes palestinos suicidas concluiu que “homens-bomba frequentemente experimentaram traumas pessoais relacionados às forças israelenses, fazendo-os voluntários na seqüência da morte ou ferimento de um membro da família”.

“A violência começou com a ocupação e a oposição é a resistência a esta ocupação. Esta violência é legítima em qualquer lugar do mundo. Posso discordar de alguns atos da resistência, acho algumas táticas estúpidas, mas não posso condenar a reação em si”, justifica Peretz Kidron, do grupo israelense pela paz Yesh Gvul.

Para Rashid Khalidi, os ataques a civis israelenses “são estúpidos, imorais e improdutivos para a causa palestina”. “Eles deveriam parar”, opina. No mesmo tom, o dr. Iyad Sarraj, diretor do Programa Comunitário de Saúde Mental da Faixa de Gaza, condena o uso do terrorismo e mesmo de qualquer tipo de violência: “Nós não deveríamos usar a violência, não importa como, pois isso destrói nossas intenções e a nossa posição, que tem um alto padrão moral. Nós somos as vitimas. E o mundo pode não entender que somos as vitimas”, afirmou.

O paralelo sul-africano
Um paralelo comum entre a situação dos palestinos nos territórios ocupados por Israel é com a situação dos negros na África do Sul durante o regime do apartheid. Para Richard Falk, a situação dos palestinos é ainda pior. “Trata-se de uma comparação desagradável e incômoda, mas tendo visitado a África do Sul naquele período, devo dizer que eles (os negros) estavam bem melhor quer os palestinos que vivem hoje em campos de refugiados”, afirma.

Um discurso de Nelson Mandela na ONU também pode ser visto como reforço para esta explicação dos motivos que levaram a deflagração da violência na Palestina, em especial a reação dos palestinos contra a ocupação israelense. “Nós fomos encarcerados porque era impossível ficar sentados e esperar enquanto a obscenidade do apartheid estava sendo imposta sobre o nosso povo”, disse o líder sul-africano.

Ocupação e colonização
Para Phyllis Bennis “o conceito de ocupação é de difícil entendimento para os ocidentais”. Ela explica: “ocupação é quando um exército estrangeiro ocupa sua terra e controla todos os aspectos da sua vida”.

“Os palestinos estão sob ocupação e é por isso que há tanta violência. É o que ocorre com eles há décadas. Eles não são cidadãos, não têm direitos civis, nascem, crescem e morrem sob lei marcial”, afirma Allegra Pacheco.

No mesmo tom, Richard Falk destaca o caráter opressivo dos assentamentos israelenses frente aos palestinos: “Há cerca de 190 assentamentos israelenses espalhados na Cisjordânia. São colônias estratégicas construídas por Israel, conectadas por estradas, e que separam as comunidades palestinas uma das outras impedindo sua reintegração aos proprietários originais e confirmando a intenção expansionista israelense”.

O bispo católico da diocese Washington, Allen Bartlett, Jr., reforça: “Os assentamentos israelenses são áreas palestinas, as melhores terras e recursos hídricos, que são selecionadas, destruídas e substituídas por uma nova cidade para abrigar os colonos judeus.”.

Os assentamentos são construídos próximos as melhores terras e recursos hídricos. São cercados por arame farpado e seus moradores recebem equipamento militar, sendo defendidos externamente pelo próprio exército israelense. “O seu principal propósito é manter o controle israelense sobre o território ocupado”, afirma Pacheco. Para Jeff Halper, “a finalidade é fazer com que os palestinos saiam do país”, e vai além: “Sei que este é um termo duro, mas trata-se de limpeza étnica”.

“O governo e os militares israelenses não estão lidando com o povo palestino como iguais. Acho que este é o principal problema. Os israelenses não consideram os palestinos seus iguais”, opina Yael Stien, do grupo israelense de direitos humanos B’Tselem. “Penso que, moralmente e praticamente, a única forma de parar toda esta violência é tratar de sua causa primária, a ocupação”, sustenta Adam Keller, membro do Gush Shalom, grupo israelense que luta pela paz na região.

Para a Rabbi Rebecca Lillian, os israelenses não percebem a desigualdade entre os colonos e os palestinos nas regiões ocupadas: “No lado israelense, nos assentamentos, há comida, luz, água, gás, lazer, coleta de lixo, tudo o que seus vizinhos palestinos não têm por causa da ocupação militar”.

Lingüista e professor do Massachusetts Institute of Technology, Noam Chomsky relata a sensação do gueto vivida pelos palestinos: “Em Hebron, por exemplo, uma cidade árabe onde há alguns judeus, os colonizadores andam com fuzis como se fossem donos da cidade. Vão às vilas palestinas, queimam suas plantações, destroem suas casas, agridem os palestinos”. Kathleen Kamphoefner, afirma que é comum mulheres palestinas serem açoitadas pelos colonos nas ruas sem motivo aparente para a agressão, se é que há motivo para se açoitar uma mulher.

O governo não tenta conter os colonos. De todos os casos em que estes mataram palestinos os acusados acabaram recebendo anistia ou penas curtas. Em muitos casos o exército simplesmente acoberta os abusos. “Muitos palestinos se sentem reféns dos colonos”, resume Yael Stein. “A finalidade é tornar as coisas tão difíceis para os palestinos que qualquer um que queira um futuro para seus filhos, que queira viver bem, que queira viver uma vida normal será obrigado a sair”, afirma Jeff Halper.

Segundo Adam Keller, há dois tipos de colonos. Os ideológicos, que pensam que todo o território foi prometido por Deus aos judeus, e que cada lugar mencionado na Bíblia pertence a eles. Estes consideram que não têm apenas o direito, mas o dever de ocupar o território e acabar pela força com qualquer um que se oponha a isso. O outro tipo, que representa a maioria dos colonos, são israelenses comuns que vem para os assentamentos simplesmente por que o governo oferece moradia barata e vantagens financeiras, tais como a suspensão do pagamento dos empréstimos governamentais adquiridos para sua instalação nas terras aos que permanecerem na região por mais de dez anos.

Estratégia de Dominação
Israel estabeleceu postos de controle por toda a Cisjordânia fazendo com que os palestinos esperem horas para percorrerem distâncias curtas. Nem mesmo a liberdade de ir e vir é garantida a eles. O acesso ao trabalho, a hospitais, escolas ou qualquer estrutura que compõem a vida civil de milhões de pessoas é cerceado diariamente, violando um direito fundamental da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O maior problema são as pessoas que precisam de cuidados médicos. Há inúmeros casos documentados de pessoas que morreram nas barreiras tentando chegar a um hospital. “Registramos muitos casos de pessoas que morreram por não conseguirem ultrapassar as barreiras. O caso mais recente foi o de uma mulher grávida que estava trabalhando e não permitiram que ela fosse ao hospital. Ela é seu bebê morreram”, revela Sharon Burke.

A ativista expõe os riscos e situações vexatórias por que passam os palestinos que simplesmente tentam se locomover entre os territórios ocupados e os assentamentos israelenses: “Você tem jovens recrutas israelenses nestas fronteiras, que ficam ali sentados, vendo as pessoas passarem e com autoridade para prender qualquer um, por qualquer razão. Podem detê-lo por horas e constrangê-lo de todas as formas. Isso atinge violentamente a população civil e não os terroristas, atinge gente que não está envolvida em qualquer ataque a civis ou ao exército de Israel”, explica Burke.

“Se pessoas que realmente precisam chegar a hospitais são barradas pelo exército, imaginem o que ocorre com gente comum que quer ir trabalhar, às compras, ou simplesmente visitar amigos”, exemplifica Yael Stien. Segundo ela, é em Gaza que as humilhações perpetradas aos palestinos ultrapassam todos os níveis: “Lá os bairros foram demolidos, centenas de pessoas não têm mais casa, pois moravam próximos dos assentamentos, próximos da fronteira. Claramente é uma violação dos direitos humanos”.

A estratégia israelense de dificultar a vida das pessoas fez com que às famílias palestinas tivessem que encarar uma queda substancial na sua renda, já que a maioria dos palestinos trabalha em Israel. De acordo com estimativas do Banco Mundial, o desemprego atinge 53% da população palestina e 75% dos palestinos vivem em estado de pobreza, com menos de dois dólares por dia.

O sistema educacional também é afetado em todos os níveis. As universidades palestinas estão sempre sujeitas a serem fechadas pelos israelenses por tempo indeterminado. Durante a primeira Intifada, por exemplo, a Birzeit University ficou fechada por cinco anos.

“Durante este tempo, organizamos o que o exército israelense chama de ‘células ilegais de educação’. Estávamos ensinando em apartamentos, igrejas, mesquitas, jardins, carros e mantemos esta infra-estrutura para minimizarmos os danos e darmos continuidade a universidade”, revela o dr. Albert Aghazarian, da Birzeit. “Em lugares como os Estados Unidos, as pessoas não entendem o que passamos aqui, simplesmente porque essa experiência está além de sua vivência. O mais impressionante não é que existam casos de estudantes suicidas entre os palestinos, mas que alguns estudantes tentam seguir em frente em meio ao caos”, opina.

Campos de refugiados, mesmo sem conflitos militares, são lugares horríveis. A superlotação em Gaza, por exemplo, faz com que um cômodo seja dividido por 14 a 25 pessoas. Não há espaço para as crianças, apenas becos, não há árvores, apenas concreto. Muitos palestinos nasceram, cresceram e continuam a viver nos campos de refugiados por toda a Palestina ocupada. Em 1938 eles eram mais de 750 mil. Hoje chegam a quase 4,5 milhões.

Falk relata sua experiência na região: “Uma coisa que nos foi dita em Gaza por um psicólogo palestino muito respeitado e que havia acabado de concluir um estudo com mil crianças palestinas, é que muitas destas crianças não têm mais vontade de viver. Elas estão desumanizadas, afetadas por verem seus pais serem surrados por soldados israelenses. Esta condição psicológica é uma das dimensões deste conflito que não são completamente entendidas”.

Isso tudo ocorre como uma punição coletiva sobre o povo palestino, uma vingança contra a ação dos extremistas e, principalmente, como estratégia para tornar insuportável a vida nos territórios ocupados. “É como viver em uma prisão gigantesca”, afirma Falk. O resultado final, objetivo claro de Israel, é ocupar toda a região, não dando aos palestinos outro destino qualquer que o de deixar suas terras ancestrais.

Investigações
Os resultados desta cegueira política e da omissão do ocidente estão refletidos no massacre de inocentes promovido no ano passado na Faixa Gaza. Após 23 dias de bombardeios quase ininterruptos, a operação israelense iniciada no dia 27 de dezembro de 2008, cujo objetivo – segundo Israel – era destruir a estrutura militar do Hamas, deixou cerca de 1400 palestinos mortos (960 civis – boa parte crianças e adolescentes, 239 policiais e 235 militantes) e 6 mil feridos. Treze israelenses – segundo informações de hospitais locais e de ONGs israelenses, palestinas e internacionais – também morreram.

Posteriormente, o Conselho de Direitos Humanos da ONU, reunido em Genebra, aprovou o Relatório Goldstone. Dos 47 países que formam o Conselho, 25 apoiaram a resolução (entre eles o Brasil), seis a rejeitaram e 11 se abstiveram.

O documento, assinado pelo ex-promotor do tribunal internacional de crimes de guerra, o juiz sul-africano Richard Goldstone – e por 14 juristas – concluiu que, sob o pretexto de retaliar o grupo islâmico Hamas na faixa de Gaza pelo lançamento de foguetes contra o território israelense, Israel fez uso desproporcional da força e violou o direito humanitário internacional. De origem judaica, Goldstone disse ao New York Times ter aceitado a missão da ONU por acreditar profundamente “na obediência à lei e às leis de guerra e no princípio de que, em um conflito armado, os civis devem ser protegidos ao máximo.”

Dentro destas premissas, as investigações mostraram que os numerosos ataques letais contra civis ou contra alvos civis foram intencionais e que alguns tinham o propósito de disseminar o terror no seio da população civil, sem qualquer objetivo militar. O relatório diz também que as forças israelenses cometeram graves violações à Quarta Convenção de Genebra, nomeadamente homicídio intencional, tortura e tratamento desumano, “causando intencionalmente grande sofrimento ou danos graves ao corpo ou à saúde, além da destruição de bens, não justificada por necessidades militares e executada de forma ilegal e arbitrária”.

Da mesma forma, o relatório de Goldstone aponta que grupos armados palestinos também violaram o princípio da distinção, lançando foguetes e morteiros deliberadamente contra a população civil israelense. Tais ataques também foram apontados como crimes de guerra, passíveis de constituir crimes contra a humanidade.

Contrariando alegações do exército israelense, a comissão não encontrou evidências de que os grupos armados palestinos tenham conduzido civis a áreas sob ataque ou que tenham forçado civis a permanecer nas proximidades, nem que instalações hospitalares tenham sido usadas como escudo pelo governo de-facto do Hamas ou por grupos armados palestinos, ou que ambulâncias tenham sido usadas para transportar combatentes, ou ainda que grupos armados palestinos tenham realizado atividades de combate dentro de hospitais ou que instalações da ONU tenham sido usadas como escudos.

Finalmente, o relatório recomendou que o Conselho de Direitos Humanos da ONU exija que os dois lados investiguem suas atuações, sob a ameaça de transferir o caso ao Tribunal Penal Internacional (TPI). Tanto Israel quanto o Hamas rejeitaram as acusações.

Nada de novo
Os fatos apurados por Goldstone não são nenhuma novidade. Diversos grupos de direitos humanos divulgaram relatórios criticando os dois lados por crimes de guerra. O jornal israelense Haaretz, por exemplo, publicou reportagens com soldados que participaram da ofensiva e que descreveram assassinato de civis inocentes, a existência de um bilhete que ordenava ataques a equipes médicas e a campanha dos rabinos do Exército para transformar a operação em uma “guerra santa”.

A grande novidade, de fato, está na postura dos 25 países que apoiaram a resolução. Em meio aos interesses que colocam em segundo plano os crimes de guerra cometidos por países que contam com vasto apoio ocidental devido a interesses políticos/econômicos – como Israel – a decisão honrou, mesmo que simbolicamente – a memória dos civis mortos, torturados, alijados de seus direitos mais básicos.

Ao adotar a prática de esconder esqueletos no armário em prol de uma pretensa “manutenção dos processos de paz”, a ONU legitima o terrorismo de estado, a tortura, o assassinato de civis. Esta tem sido a prática da Organização nas últimas décadas e, por isso, a entidade tem perdido sua legitimidade diante de quem a ela apela como último recurso.

O que não pode ser negado é que a ofensiva israelense sobre Gaza repousa em uma estratégia que se estende por décadas: forçar a população da maior prisão ao ar livre do mundo ao desespero para, num segundo momento, usar suas reações como pretexto para mais um massacre. Um massacre premeditado, e que começou a ser preparado seis meses antes com vistas às eleições que ocorreram em fevereiro de 2009. Como definiu Idelber Avelar em um artigo que expôs de forma clara as verdadeiras intenções de Israel sobre os territórios palestinos ocupados, “no estado sionista, assim como nos EUA, bombardeios às terras árabes rendem votos fáceis.

Finalizando
Talvez a melhor forma de concluir este texto seja citando o escritor uruguaio Eduardo Galeano, que em artigo publicado originalmente no site Brecha e reproduzido no RS Urgente (tradução de Katarina Peixoto), pergunta: “Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente ao País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?”


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