ElMagoFafaPasionario — 7 de setembro de 2009
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por Vanessa Souza – Conheci Jacques Lacan, ou melhor, passei a ser “atravessada” por seu ensino, a partir de um livro do psicanalista, psiquiatra e doutor em filosofia pela Universidade de Paris VIII, Antonio Quinet. Hoje, quando alguém me pergunta, “Qual seminário do Lacan devo ler primeiro?” Eu sempre respondo: “Comece pelo Antonio Quinet.”
Logo, quando me chegou às mãos A estranheza da psicanálise: A Escola de Lacan e seus analistas, tive certeza de que a leitura seria um deleite. Apesar de toda certeza ser neurótica, não me enganei. É uma grande obra.
Quinet ressalta, logo nas primeiras páginas do livro, ser necessário retomar os fundamentos da Escola de Lacan, diante dos “desvios” de algumas escolas de psicanálise. A Escola de Lacan é uma instituição, de transmissão psicanalítica, e um conceito, baseado na Escola. Sua característica fundamental é ser fundada em nome de um ensino, o de Lacan.
Para contextualizar o leitor não psicanalista: Lacan teve dois pontos de conflito com a IPA (Associação Psicanalítica Internacional): o encurtamento das sessões e a participação de analisandos nos seminários de ensino do analista. Lacan saiu da Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP). Dessa cisão, em 1953, fundou-se a Sociedade Francesa de Psicanálise (SFP). A oposição entre Lacan e a IPA resultou na origem da Escola Freudiana de Paris (EFP), fundada por ele.
E o que traz esta Escola? Um dos princípios básicos é que ela não autoriza ou desautoriza ninguém a praticar a psicanálise, mas é sua obrigação garantir que o sujeito tenha feito sua formação e dado provas de sua prática de analista. Nessa situação, a Escola confere o título de AME (analista membro da Escola). O AE (analista da Escola) é o nome que recebe o sujeito que fez o passe, momento no qual reconheceu a passagem de analisante a analista – em seu relato sobre sua análise.
E o passe, o que vem a ser? Nenhuma conotação espírita neste caso, embora hajam vídeos engraçados no Youtube fazendo referência ao “Pai Lacan”. O passe é uma passagem de psicanalisante a psicanalista, e um dispositivo da Escola para verificação dessa passagem. Resumindo, é o momento de formação do psicanalista. Na prática, o candidato a psicanalista se dirige a uma comissão, chamada de cartel.
O cartel introduz, por um lado, a finalidade da tarefa a cumprir – uma produção de saber em psicanálise, favorecendo o vínculo pelo trabalho (desfavorecendo o pseudovínculo fraterno), e, por outro lado, o conceito de dissolução depois de concluída a tarefa. A lógica do cartel inclui, portanto, o seu fim (nos dois sentidos da palavra). (…) O cartel é considerado por Lacan como a célula base da Escola, pois obedece a sua lógica: a falta de um saber concluído e totalizador, permitindo a elaboração pessoal de cada um, e o vínculo particular de cada sujeito com a Escola a partir de seu desejo e de sua relação com a causa analítica.
Lacan descreveu no seminário D´Écolage, em 1980, a “fórmula” do cartel. Quatro sujeitos se reúnem para fazer um trabalho, ainda que cada trabalho seja individual. Os cartelizantes são tanto aqueles que praticam a psicanálise como qualquer um que deseje estudá-la. O que une os membros de um cartel é terem interesse pela investigação de um tema comum. Cada cartelizante delimitará uma questão que se agrega a esse tema comum de onde advém o título do cartel. Resumindo, ao final de um período o analista membro da Escola testemunha sobre sua análise a dois passadores, que transmitirão o que escutaram a uma comissão (formada por passadores e analistas).
O mesmo precisa dar provas de sua experiência de analista, por seu testemunho através de comunicações e trabalhos. Não é tarefa das mais simples escrever sobre Lacan sem usar “lacanês” – leia-se os matemas e termos fundamentais em sua obra. Concluo com palavras de Lacan: não se deve compreender muito rápido.
::: A estranheza da psicanálise: A Escola de Lacan e seus analistas ::: Antonio Quinet :::
::: Jorge Zahar, 2009, 208 páginas :::
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Fonte: www.amagalma.blog.br
Um comentário:
Vocês vão me desculpar, mas não gostei de lacan. É muito estrelismo e jogo de palavras. Lacan, nesta curta interpretação que tive vendo os sete vídeos era um poeta criativo que seduziu e encantou platéias naquela época por uma questão conjuntural e por sua necessidade de continuar existindo. Tô chegando a conclusão que a maioria dos terapeutas são como Lacan: Muita pose.
Trabalhar é a melhor terapia.
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