agosto 23, 2010

Governo tucano "desmonta" a TV Cultura

João Sayad e José Serra
Os pais do desmonte da TV Cultura

A conversa de Sayad na TV Cultura

@salveaTVCultura

TÓPICOS

O presidente da TV Cultura, João Sayad, conversou pela primeira vez com a equipe que produz a maior parte da programação da emissora. Aqui, os principais tópicos:

– Sayad assumiu que o contrato de gestão da Fundação Padre Anchieta com o governo estadual, imposto pela gestão tucana em 2009, será revisto, mas não deu detalhes;

– Foi criticado pela equipe pela decisão de abrir mão de produção própria para comprar conteúdos de produtoras nacionais e internacionais;


– O presidente classificou de "ultrapassado" o programa "Ensaio", dirigido e produzido por Fernando Faro, responsável pela maior parte da memória da música na TV brasileira;


– Negou que haverá demissões em massa, porém não explicou como redução de programas e serviços não vão gerar demissões;


– Os funcionários cobram mais transparência e respeito nas decisões da direção, que já classificou a emissora de "cara e ineficiente".


RELATO

Na tarde da última segunda-feira, o novo diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta, o ex-secretário da Cultura, João Sayad, conversou pela primeira vez com a equipe de produção da TV Cultura. O encontro foi marcado depois de ter sido criado um clima tenso na emissora, fruto da extinção de programas e da demissão de funcionários. Tais decisões chegaram ao conhecimento dos funcionários pela imprensa.

Na reunião estiveram presentes as equipes dos programas: "Login", "Sr. Brasil", "Zoom", "Viola, minha viola", "Ensaio", "Móbile", "Entrelinhas", "Letra Livre", "Provocações", "Vitrine", "Ao Ponto", "Autor por Autor", "Clássicos", "Prelúdio" e "Nossa Língua". O núcleo jornalístico não foi convidado para a conversa, pois terá uma reunião exclusiva na próxima quinta-feira (19/08).

João Sayad disse inicialmente que a conversa era uma tentativa de esclarecer alguns pontos de suas entrevistas recentes e reduzir o clima tenso provocado pelas reportagens dos últimos dias. Reafirmou seu objetivo de fazer uma reestruturação administrativa e de conteúdo na TV Cultura, mas negou que haveria demissões em massa. A conversa que se seguiu indicaria o contrário.

De acordo com Sayad, um modelo de TVs norte-americanas seria o ideal para ser implementado. Para ele, a emissora pública deveria ser uma compradora de conteúdo, abrindo mão de produzir a maioria de sua programação. Segundo argumentou, o montante deveria ser 70% de produção independente e 30% de produção própria, esta última "exclusivamente jornalística".

Também reafirmou que pretende acabar com a relação de trabalho via contrato de pessoa jurídica, os chamados PJs. Classificou como "situação ilegal" o modelo e disse que os PJs que forem "aproveitados" nos programas existentes ou em novas atrações serão contratados como "celetistas". Os demais, claro, serão dispensados assim que seus contratos terminarem. O presidente não detalhou em números essa operação.

Outro assunto da conversa foi o atual contrato de gestão entre a Fundação Padre Anchieta e o governo do estadual, que foi assinado no final de 2008, quando o presidente da Fundação era Paulo Markun e o secretário de cultura era o próprio João Sayad. O documento, na época aprovado por unanimidade pelo conselho curador da Fundação, prevê que tanto a TV Cultura quanto o governo cumpram metas e ofereçam contrapartidas entre 2009 e 2013. O governo diminuirá as verbas que envia para o custeio da fundação (de R$ 78,6 milhões para R$ 56,8 milhões). As metas estabelecidas no contrato de parceria obriga a fundação a buscar no mercado (em publicidade e prestação de serviços) R$ 698,6 milhões até 2013, enquanto o governo deve entrar com outros R$ 417,2 milhões. (Os valores são de 2008).

No entanto, uma das primeiras ações de Sayad no cargo foi acabar com os contratos de prestação de serviços, como os da TV Justiça e TV Assembléia. Questionado pelos funcionários se buscaria fontes de receita por meio de outros contratos, o diretor-presidente respondeu com uma negativa. "Eventualmente prestaremos serviço apenas para o governo", disse, acrescentando que "o contrato de gestão terá de ser revisto". Se precisa ser revisto, por que o assinou?

Pouco depois, o economista João Sayad discorreu sobre suas impressões e gostos pessoais em relação à programação da TV Cultura. Entre os programas citados, também criticou o "Ensaio", dirigido e produzido por Fernando Faro. Disse não gostar do enquadramento do programa que, segundo ele, tem "planos ultrapassados", de "40 anos atrás".

A série "Autor por Autor" também foi criticada, por valorizar a biografia dos autores em detrimento de suas obras. "Quem quer saber se o João Ubaldo é baiano? Importantes são os livros dele", disse o diretor-presidente. "Esse programa se encaixaria melhor no MIS (Museu da Imagem e do Som)".

O diretor do programa "Login", que será extinto, cobrou Sayad por sua postura de anunciar o fim da atração pela imprensa antes de conversar com a equipe. O novo diretor-presidente fez o mea culpa, dizendo que houve problema na comunicação.

Em seguida, outro integrante do "Login" perguntou sobre os motivos de a nova direção não dialogar com as produções para encontrar alternativas e melhorias das produções, em vez de acabar com as produções por decreto. A resposta? "Eu admito que devia haver mais diálogo, mas agora isso já está feito. Respondi a sua pergunta?". E encerrou o assunto.

O diretor-presidente é economista e, exceto por sua passagem na Secretaria de Estado da Cultura, não possui nenhuma experiência na área cultural. Em entrevista recente, Sayad afirmou que é um "outsider" e considerou isso uma vantagem, por estar "livre das invejas, das disputas e das imposições dogmáticas sobre o assunto."

No final da conversa de segunda-feira, um funcionário pediu a palavra e comentou as declarações. "O senhor está acostumado a lidar com planilhas e números, enquanto nós na trabalhamos com sonhos. O principal desses sonhos é fazer uma TV pública de qualidade. Talvez o senhor tenha como referência uma calculadora. Já a nossa referência é esse homem aqui", disse o funcionário, apontando para o diretor Fernando Faro. Sayad ficou surpreso, sem saber de quem se tratava. "Quem é?", perguntou para uma pessoa ao seu lado. "Esse é o Fernando Faro", foi a resposta que obteve. Constrangedor.


Fonte: Portal do Nassif 

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