agosto 21, 2010

Esquenta o debate eleitoral para a escolha da nova diretoria do CFP

"Vivi" (nome fictício),

Com todo respeito à sua opção nas eleições do CFP, gostaria de observar que o modo que aborda o tema parece revelar desconhecimento dos processos politicos que na ultima década sob a direção do grupo Cuidar da Profissão (ao qual eu, como milhares de outros psicólogos integro) levaram a construção de um CFP forte, posicionado, engajado nas lutas pelos direitos huamanos e pela cidadania.

E importante saber que, desde 1997, em apenas uma das eleições  não concorreu alguma chapa de oposição ao CFP. Portanto oposição não é novidade na nossa entidade nem sinônimo de política boa. Invariavelmente as oposições ao CFP tem se caracterizado como direitistas e restauradoras de concepções burocraticas e corporativistas. Nem todos o sabem mas os Conselhos de Psicologia, diferentemente dos seus similares de outras profissões, tem a estrutura mais democrática do Brasil, sendo que o voto direto e por chapa, foi instituído contra o Colegio Eleitoral que dominava já em 1995 . Além disso, ele conta com a estrutura do Congresso Nacional da Psicologia, um congresso de delegados de base, onde qualquer e todos os psicólogos podem participar, numa estrutura ao modo da nossa Conferência Nacional de Saéde Mental, que define as diretrizes para a atuação política da entidade nos próximos tres anos.

Assim as posições do CFP no que tange a Reforma Psiquiátrica tem sido estabelecidas, não pela sua diretoria mas sim pelo Congresso Nacional da Psicologia. Com relação a condução dessa política o que pode ser atribuido a direção impressa pelo grupo Cuidar da Profissão é uma posição de absoluta independência da nossa entidade em relação ao Estado e um relacionamento preferencial com os movimentos sociais, na perspetiva antimanicomial.

Por isso o CFP apoiou, contra a vontade de tantos, a realização da Marcha Nacional do Usuários a Brasilia, que conquistou a realização da IV Conferência; por isso o CP tem sido um dos campeões na denúncia das violações dos direitos humanos nos hospitais psiquiátricos exigindo apurações; denunciado a ineficiência das vistorias patrocinadas pelo poder público como o PNASCH; defendido a alteração radical no "De volta pra Casa" pela sua ineficiência, posicionado contra a inadequação da publicidade sobre alcóol e drogas , sobretudo a campanha do CRAK. Muitas vezes "Vivi" essas posições tem colocado o CFP numa linha de crítica aos gestores da política nacional de sáude mental. E por isso, tantas vezes o CFP fez audiências com o Ministro da Saúde para, sempre acompanhando a agenda dos movimentos sociais, democraticamente expor suas posições e exigir mudanças.

Entendemos  que existam aqueles que imaginem o cenário ideal de um CFP alinhado incondiconalmente com essa política nacional de saude mental, reverberando para a categoria dos psicólogos, como uma correia de transmissão, um apoio governamental. Entendemos que para os "aliados" da  Coordenação atual seja incomoda e existência de uma entidade que problematize e critique na perspectiva
da sociedade civil aquilo que os governos fazem. Nós do cuidar da profissão, independentemente de quem seja o Coordenador, se é amigo atual ou do passado, entendemos que devemos conduzir a nossa entidade para uma posição de independência e crítica.

Entendo que para você, por exemplo, que é vinculada por tantos anos a uma ONG que foi fundada, pelo atual Coordenador Nacional de Saúde Mental e que durante mais de uma década foi a OSCIP gestora dos serviços de Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro (o tema é tabu no campo da militância antimanicomial; pouco se fala desse antecedente, pelo qual estamos pagando caro), esse tema das relações entre Sociedade Civil e Estado  possa estar colocada de outra maneira. Talvez você imagine que seja efetivamente melhor que o CFP seja dirigido por um grupo de "aliados" ao grupo que você pertence. Mas o CFP tem uma missão histórica maior: ele congrega hoje 230.000 psicólogos e o "Cuidar da Profissão" como seu gestor tem buscado estar atento a isso. Por isso é importante prestar atenção, nessas eleições, que mais do que a defesa paroquial de um apoio  à Coordenação Nacional de Saúde Mental, como parece ser o fito de alguns integrantes da Chapa de oposição, o que esta em jogo é uma disputa mais profunda contra os neo-liberais e privatistas do estado; contra o corporativismo rasteiro, contra o contra o elitismo profissional. 

Assim sendo, para sair da superficialidade conclamo a você "Vivi" e a todos que possam acessar os documentos das duas chapas concorrentes e analisá-los em profundidade. Lebres e gatos e  se parecem mas apenas os segundos miam!!!

atenciosamente

Marcus Vinicius de Oliveira
IPSI-UFBA
Nota do blog: Em vermelho, observação do blogueiro.

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