julho 12, 2010

Vale a pena esclarecer

Imagem postada no Blog do Figueira

Nota do blog: Confira o tratamento dado pelo blog do prefeito de Manacapuru a uma das reportagens de uma série publicada pela Agência Brasil sobre a Reforma Psiquiátrica brasileira, que tem pelo menos uma informação distorcida. O cuidado com que ela foi 'naturalizada' é de deixar o leitor com a pulga atrás da orelha. Se o meu amigo Afonso Toscano, que sabe das coisas, tivesse lido essa história, perspicaz, como ele só, no mínimo teria dito: "Vem cá, isso aqui não é uma tremenda de uma cascata?" É isso aí! Só que uma cascata repetida mil vezes tem tudo para lograr os incautos. Leia a generosidade com o texto abaixo acolhe uma inverdade, deixando o Brasil crente de que a história é verdadeira. Uma coisa é o personagem em questão ser reconhecido como assessor técnico da Semsa de Manacapuru, outra coisa é alardear que coordena um programa para o qual são necessários pre-requisitos que lhe faltam. Esse tipo de falso empoderamento geram ruídos de comunicação que deveriam ser evitados, para o bem da comunicação que queremos: franca e transparente. Cascata, não!

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Colaborador do município se destaca na imprensa nacional

O assessor técnico da Secretaria Municipal de Saúde, Setemberg Rabelo, ganhou destaque na imprensa nacional na semana passada quando participou da IV Conferência Nacional de Saúde Mental, ocorrida em Brasília, no fim de junho, ao contar sua experiência e trabalho a frente da luta pela melhoria da assistência à saúde mental.
Ao assumir a campanha de melhoria da área município já comemora vitórias como a implantação do primeiro Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) em Manacapuru que ocorre até o fim do próximo mês.

Confira a reportagem veiculada pela Agência Brasil:

Ex-interno vai coordenar área de saúde mental de município no Amazonas

Luana Lourenço
Enviada Especial

Manaus - Aos 37 anos, Setemberg Rabelo vai votar pela primeira vez nas eleições de outubro. Portador de transtorno psíquico, ele passou anos sem direito à cidadania, escondido atrás das estatísticas de saúde mental, nos prontuários do Centro Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, em Manaus.

“A internação desqualifica você como ser humano, nos tiram coisas básicas, como olhar no espelho, vestir uma roupa que não seja coletiva. É como se doido não fosse cidadão”, compara.

Desde o primeiro surto, ainda na adolescência, até o último, há cerca de três anos, Rabelo passou por várias internações, tornou-se umas das referências na luta antimanicomial no Amazonas e está prestes a assumir a gestão de saúde mental do município de Manacapuru município da região metropolitana de Manaus (Devagar com o andor que o santo é de barro! O que parece ser um cargo de assessoria, segundo o texto acima, colhido no blog do prefeito de Manacapuru Angelus Figueira, virou coordenação do programa municipal de saúde mental, na matéria assinada por Luana Lourenço, da Agência Brasil. Ora, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Ambas tem como suporte diferentes qualificações. Salvo se estivermos diante da reedição de um arremedo democrático vivido pelos docentes e discentes de algumas universidades brasileiras ali pelos anos 1990. No furor mudancista, um radicalismo ingênuo queria emplacar como candidato ao cargo de reitor os companheiros vigias, servidores - com todo respeito - sem qualificação para tal. E não me venham os radicais de araque dizer que o argumento aqui apresentado é contra o usuário. Há regras nesse jogo. O fato é que a jornalista não publicaria o que não ouviu).

A militância pela reforma psiquiátrica foi motivada pelo horror vivido durante as internações no hospital psiquiátrico. “Eu achava que estava preso em uma penitenciária. Demorei a me dar conta de que era um hospício, me perguntava por que fui parar ali.” (O personagem refere-se à equivocada criação da Associação dos Pacientes e Amigos da Saúde Mental do Amazonas, entidade instalada na segunda metade dos anos 1990 no interior do próprio hospital psiquiátrico. Não se sabia se ela defendia os interesses do manicômio ou dos usuários).

Depois da passagem pelo hospital, foi a vez do preconceito. “Você é chamado de louco. As pessoas começam a te olhar com medo, no supermercado, na fila do pão. Você vai passando e as mães pegam as crianças no colo”, lembra.

A revolta e o estigma da loucura, que afastaram Rabelo dos amigos e da convivência social, levaram-no a tentar suicídio e a pensar em matar a própria família. “Depois de tudo isso, saí denunciando, comecei a reivindicar. E foi mais ou menos na época da aprovação da lei [nº 10.216, que regulamenta a reforma psiquiátrica no Brasil]”. (Não há referência ao vínculo com a entidade referida acima, que prestou um desserviço à causa da luta antimanicomial).

Rabelo buscou o apoio do Instituto Silvério de Almeida Tundis (Isat), organização não governamental que dá suporte à reforma psiquiátrica no estado, e passou a contar sua experiência em eventos sobre saúde mental pelo Brasil e até no exterior. (Poder-se-ia dizer que aqui houve um 'progresso', se a referida entidade não tivesse insistido em afirmar que trabalhava como inclusão social no hospital psiquiátrico - o que convenhamos é surreal, afinal inclusão se faz fora dos muros do manicômio, uma das mais sinistras instituições criadas pelo homem. Essa afirmação está contida numa outra matéria da série de reportagens feitas pela Agência Brasil, que já foi objeto de comentário neste blog).

Usuário de um dos centros de Atenção Psicossocial (Caps) de Manaus, o ex-interno quer usar a experiência dos anos vividos atrás das grades do hospício para não repetir erros e garantir a implementação dos serviços de saúde mental de base comunitária no município de Manacapuru. (O que surpreende na postagem do blog do prefeito de Manacapuru é a naturalização de uma informação distorcida, afinal o personagem não exerce a função de coordenação do programa de saúde mental do município. Sobre esse tipo de informação, registro o desconforto da coordenação estadual de saúde mental do Amazonas, incomodada com o fato do personagem se apresentar em vários lugares como 'representante do Ministério da Saúde". Uma fonte em Manacapuru confirma o fato. Segundo ela, o personagem se apresentava como alguém que tem influências no referido ministério. Durma-se com um barulho desses.)

“Pensamos não só em construir Caps, nosso compromisso é implantar uma rede de cuidados. O desafio vai ser mostrar que a loucura está dentro do contexto da sociedade, que ela não pega. Se a comunidade compreender isso, as pessoas [com transtornos mentais] sofrerão menos”, avalia.

Rabelo diz que ainda é chamado de louco, mas o estigma parece não incomodar mais. “Posso dizer que sou louco pelo meu trabalho, pela minha família, pelo movimento antimanicomial, pela Amazônia”, brinca. (O personagem sabe onde o calo aperta, mas não aprende a lição. Reclama dos que lhe atiraram as pedras do estigma, mas em 2004 não mediu as palavras na tentativa de estigmatizar o coordenador do programa estadual de saúde mental - por acaso, este blogueiro - ao acusá-lo de ter desviado 2 milhões de reais de verbas do ministério da saúde, cuja trajetória no serviço público amazonense começou ao participar de uma denúncia coletiva de corrupção administrativa no hospital psiquiátrico do Estado. O destempero deu-se por ocasião da II Parada do Orgulho Louco - organizada numa parceria entre o movimento social e a secretaria estadual de saúde -, para perplexidade do presidente do sindicato dos psicólogos, Alberto Jorge, que se encontrava comigo no alto do carro de som da CUT. Lembro-me de ter usado o microfone para condenar a provocação, que envolvia sujeitos que se ocultavam por trás de um usuário mal informado. Ao que parece a dura advertância não fez efeito. O personagem dá o tratamento que quer para a informação, sem se importar com a veracidade dos fatos.)

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo
Agência Brasil

Fonte: Blog do Figueira

Nota do blog: Leia a série de reportagens veiculadas no decorrer da IV Conferência Nacional de Saúde Mental. Acesse Agência Brasil.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse rapaz e um tipo curioso, boicota a todo tempo as acoes de saude mental de Manacapuru, passou dois meses sem trabalhar, porque o prefeitinho dele foim embora!