PICICA: "Papai Noel foi enforcado ontem à tarde nas grades da Catedral de Dijon e queimado publicamente em seu átrio."
Leia trecho de 'O Suplício do Papai Noel', de Lévi-Strauss
da Livraria da Folha
Texto baseado em informações fornecidas pela editora da obra.
Texto baseado em informações fornecidas pela editora da obra.
Na década de 1950, alguns franceses fizeram um linchamento simbólico do Papai Noel. O curioso evento serviu de inspiração para "O Suplício do Papai Noel", de Lévi-Strauss (1908-2009). O antropólogo parte desse insólito acontecimento para analisar o mito do bom velhinho ao longo dos tempos, a comercialização das datas tradicionais e a influência norte-americana nesse processo. Abaixo, leia um trecho do livro.
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Atenção: o texto reproduzido abaixo mantém a ortografia original do livro e não está atualizado de acordo com as regras do Novo Acordo Ortográfico. Conheça o livro "Escrevendo pela Nova Ortografia".
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Reprodução |
Claude Lévi-Strauss no Laboratório de Antropologia Social do College de France |
As festas de Natal de 1951 ficarão marcadas na França por uma polêmica que encontrou grande repercussão junto à imprensa e à opinião pública e introduziu um tom de inusitado azedume no clima geralmente alegre dessa época do ano. Há vários meses as autoridades eclesiásticas, na voz de alguns prelados, já manifestavam sua desaprovação à importância cada vez maior que as famílias e os comerciantes vinham dando à figura do Papai Noel. Elas denunciavam uma preocupante "paganização" do dia de Natal, desviando o espírito público do sentido propriamente cristão dessa comemoração, em favor de um mito sem valor religioso. Tais ataques aumentaram nas vésperas do Natal; com maior discrição, mas igual firmeza, a Igreja Protestante uniu sua voz à da Igreja Católica.
Cartas de leitores e artigos nos jornais já vinham demonstrando de maneiras variadas, geralmente contrárias à posição eclesiástica, o interesse despertado pelo assunto. Por fim, o ponto culminante ocorreu em 24 de dezembro, durante uma manifestação que foi descrita pelo repórter do jornal France-Soir nos seguintes termos:
PAPAI NOEL É QUEIMADO NO ÁTRIO DA CATEDRAL
DE DIJON DIANTE DE CRIANÇAS DE ORFANATOS
Dijon, 24 de dezembro (enviado do France-Soir)
DE DIJON DIANTE DE CRIANÇAS DE ORFANATOS
Dijon, 24 de dezembro (enviado do France-Soir)
Papai Noel foi enforcado ontem à tarde nas grades da Catedral de Dijon e queimado publicamente em seu átrio. Essa execução espetacular se realizou na presença de várias centenas de internos de orfanatos. Ela contou com o aval do clero, que condenara Papai Noel como usurpador e herege. Ele foi acusado de paganizar a festa de Natal e de se instalar como um intruso, ocupando um espaço cada vez maior. Censuram-no, sobretudo, por ter-se introduzido em todas as escolas públicas, de onde o presépio foi meticulosamente banido.
Às três horas da tarde do domingo, o infeliz velhinho de barbas brancas pagou, como muitos inocentes, por um erro cujos culpados eram os que aplaudiram a execução. O fogo queimou suas barbas e ele se esvaiu na fumaça.
Ao final da execução, distribuiu-se um comunicado cujos principais termos eram:
Representando todos os lares cristãos da paróquia, dispostos a lutar contra a mentira, 250 crianças, reunidas diante da porta principal da Catedral de Dijon, queimaram o Papai Noel.
Não se tratou de um espetáculo, e sim de um gesto simbólico. Papai Noel foi sacrificado em holocausto. De fato, a mentira não pode despertar o sentimento religioso na criança e não é, de modo algum, um método educativo - que outros digam e escrevam o que quiserem e façam de Papai Noel o contrapeso do Père Fouettard.1
Para nós, cristãos, o Natal deve continuar a ser o festejo que comemora o nascimento do Salvador.
A execução de Papai Noel no átrio da catedral foi avaliada de diversas maneiras pela população e despertou vivos comentários mesmo entre os católicos. Além disso, essa manifestação intempestiva corre o risco de ter conseqüências não previstas por seus organizadores.
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"O Suplício do Papai Noel"
Autor: Claude Lévi-Strauss
Editora: Cosac Naify
Páginas: 56
Quanto: R$ 28,10 (preço promocional*)
Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Autor: Claude Lévi-Strauss
Editora: Cosac Naify
Páginas: 56
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Onde comprar: pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha
Fonte: Folha de S. Paulo
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