dezembro 12, 2011

"Barriga de mulher", por Ismael Benigno

PICICA: "(...)lembrei do caso esta semana, ao ler o despacho com que um juiz amazonense mandou arquivar um processo criminal por calúnia contra uma rádio de Iranduba, de autoria da médica Bianca Abinader, que há dois anos é chamada publicamente de “cínica”, “dissimulada”, “psicótica” e “gazeteira” pela rádio. Bianca perdeu um round “imperdível”. Quem poderia imaginar que, para a Justiça, xingamentos e acusações sem comprovação são simplesmente “direito de cidadão”?"

Barriga de mulher

Por Ismael Benigno





Em abril deste ano, o jornalista Rodrigo Haidar contou uma interessante história no site Consultor Jurídico. Afastado pelo CNJ por suspeita de falcatruas, o juiz Moacir Ferreira Ramos, ex-presidente da Associação dos Juízes Federais da 1ª Região (Ajufer), estava processando a ministra Eliana Calmon, corregedora nacional de Justiça, por crime contra a honra.
Moacir estava ofendido com uma entrevista dada pela ministra à Folha de São Paulo, na qual ela dizia: “Em 32 anos de magistratura, nunca vi uma coisa tão séria (…) o caso me deixa preocupada, porque está caminhando para a impunidade disciplinar. Mas é emblemático. É muito grave e deixa à mostra a necessidade do Poder Judiciário se posicionar”.
Presidente de uma associação, o magistrado é acusado de ter usado indevidamente o nome de mais de 200 colegas seus para fazer empréstimos em nome da entidade. O caso é emblemático primeiro porque envolve um juiz e uma ministra, e depois pela extrema sensibilidade de Moacir com as palavras de Eliana.
Não sei no que deu o processo do juiz magoado contra a ministra malvada, mas lembrei do caso esta semana, ao ler o despacho com que um juiz amazonense mandou arquivar um processo criminal por calúnia contra uma rádio de Iranduba, de autoria da médica Bianca Abinader, que há dois anos é chamada publicamente de “cínica”, “dissimulada”, “psicótica” e “gazeteira” pela rádio. Bianca perdeu um round “imperdível”. Quem poderia imaginar que, para a Justiça, xingamentos e acusações sem comprovação são simplesmente “direito de cidadão”?
O caso de Manaus não chama atenção porque o juiz pegou leve com quem difama e calunia, mas pela pergunta que suscita. Afinal, se o juiz Moacir se ofendeu só porque a ministra se disse “preocupada com a impunidade” de seu caso, como se sentiria o juiz amazonense se ganhasse, num veículo de imprensa durante dois anos, a alcunha carinhosa e falsa de “juiz gazeteiro”?
O juiz processaria a rádio ou ficaria quieto, porque acusar sem prova é um “direito de cidadão”?

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