novembro 01, 2007

NOBEL SERTANEJO

Foto: Paulo Jr. - Sertanejo
NOBEL SERTANEJO

Edmar Oliveira

Quem, como eu, não resiste às abobrinhas do noticiário, ficou sabendo dos motivos da indicação de três economistas para o Prêmio Nobel deste ano. O feito dos ilustres homens da ciência econômica: descobrir os mecanismos das relações individuais que fazem o mercado funcionar bem ou mal. A relação entre dois indivíduos que negociam pode resultar em equações que maximinize (o neologismo é do economês) o bem-estar de um e o lucro do outro. Confesso que, agora, a minha ignorância em economia - que já era enorme, se maximizou de forma infinita, com profunda baixa no meu bem-estar. Como pode, numa negociação comercial, os dois ganharem o máximo?

Isto me faz lembrar um coronel do agreste alagoano, famoso na região por guardar dinheiro debaixo do colchão. Um novo gerente do Banco do Brasil, chegado à cidade, soube da história do coronel. Foi a ele fazer uma visita de cortesia e propor um serviço bancário. Contou ao velho sertanejo as vantagens do sistema bancário no mundo moderno. Uma conta no banco, com aplicações simples, geraria um lucro razoável ao correntista. Fez loas às vantagens que o coronel teria com o serviço bancário. O sertanejo perguntou ao gerente quanto o banco perderia com isto. O gerente disse que o banco ganharia e por isso ele estava ali a fazer o seu trabalho. Desconfiado, o caipira cofia a barba por fazer e pergunta quanto ele perderia. O gerente diz que o correntista não tinha nada a perder. Por fim, o coronel pergunta se ele o banco e o gerente teriam vantagens no negócio. Na afirmativa do gerente, o coronel se levanta encerrando a visita, dizendo que de acordo com a sua matemática, nos negócios alguém tinha que perder para alguém ganhar. Pensando com seus botões, achava que o homem da cidade estava querendo lhe passar a perna e no seu jeito rude sentenciou, porque não acreditava na proposta do banqueiro: "Nunca vi dinheiro trepar com dinheiro pra dar cria". No seu raciocínio desconfiado, o interesse do gerente denunciava, com certeza, que ele é quem sairia no prejuízo. Negócio recusado.

Nessa história, podemos achar que o sertanejo poderia ter protegido seu patrimônio com a conta bancária oferecida, principalmente para quem tem memória do período inflacionário ainda recente e depois do causo narrado. Assim, o coronel estava errado. Mas, se lemos nos jornais o recorde de lucros alcançados pelo sistema bancário nacional, com certeza tirado de operações como a que foi oferecida na história, certamente o coronel estava certo quanto à cria fornecida por moedas. É patente que o banco fica com a parte de quem ganha, oferecendo uma pequena migalha desses ganhos ao correntista (que perde, pois o ganho do banco foi com o dinheiro da conta-corrente). Portanto, o coronel aparentemente errado por não aceitar o lucro do patrimônio na micro-economia, estava perfeitamente certo quanto a quem ganha na macro-economia. Em negócios, um perde mais e o outro ganha mais. Ou um perde menos e o outro ganha menos. Mas, tirando a relatividade, um ganha - o outro perde até a inversão da relação para um perde - o outro ganha, recomeçando a escala relativa.

No entanto, este raciocínio só vale até a descoberta das equações dos ganhadores do Nobel de economia deste ano. Vamos à explicação do raciocínio dos mestres: suponhamos que, num serviço oferecido, o preço cobrado é de 150; mas, seria viável o serviço custar até 120 para o vendedor. Por outro lado, o comprador oferece 100, mas, secretamente, acha que pode pagar até 130. Assim, um valor negociado entre 120 e 130 seria a maximização do lucro do vendedor e do bem-estar do comprador. As equações e fórmulas matemáticas dos economistas facilitariam esta negociação.

Não sei não, mas desconfio destas equações, como o coronel desconfiou da proposta do gerente do banco. Na minha santa ignorância e maléfica desconfiança, que fazem o nordestino sobreviver, estas equações e fórmulas são afetadas por estados emocionais e relações sociais que favorecem a saúde da economia capitalista, com o fortalecimento da parte mais forte da equação. E a parte mais fraca está enfraquecendo nas artimanhas dos jogos de armar mantidos por estas fórmulas matemáticas. Fico aqui pensando se quem deveria ganhar o Nobel de economia não era o caipira da história, que descobriu que dinheiro não trepa com dinheiro pra fazer a economia crescer...

18/10/2007

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