abril 11, 2008

MST Informa

Estimado amigo e amiga do MST,

Almerinda Marques, com seus 48 anos, diz que passou a enxergar o mundo. Vilma Pereira da Silva, hoje aos 50 anos, diz que faz algo que na cidade não teve oportunidade de fazer: estudar. Ambas são trabalhadoras Sem Terra. Ambas vivem em acampamentos, uma em Minas Gerais e outra no Paraná. Ambas vislumbram novas perspectivas e culpam o MST por isso.

Saber ler e escrever é direito de todos, e não privilégio de poucos. Durante nossos 24 anos de existência, tal pensamento foi seguido à risca. Resultado: Almerinda Marques, Vilma Pereira da Silva e outras 200 mil pessoas, entre crianças, jovens e adultos, não sabem apenas ler e escrever, são escolarizadas.

Neste ano, nosso setor de educação completa 20 anos e soma gordos números às conquistas do movimento. Hoje, mais de 2000 escolas de ensino básico, 38 de ensino médio e mais de 4 mil educadores, são frutos do trabalho do movimento. Nas escolas, educandos e educadores utilizam materiais produzidos pelo próprio setor, com conteúdos referenciados na vivência e nos costumes dos educandos de cada região do país, que facilitam a aprendizagem e aproximam acampados e assentados ao mundo das letras, a partir de suas demandas do dia-a-dia.

Do desafio de garantir educação no campo, principalmente durante as lutas, surgiram outras inovações importantes, como as Escolas Itinerantes. Dos 24 estados onde fazemos a luta pela Reforma Agrária, temos Escolas Itinerantes legalmente aprovadas e reconhecidas pelo Conselho Estadual de Educação em cinco deles, sendo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Alagoas. Dois outros estão em processo de legalização, Pernambuco e Piauí. São 32 escolas, 277 educadores e 2.984 educandos envolvidos num processo educativo permanente.

Com a realização de tantos projetos bem sucedidos, não temos a intenção de substituir o papel do Estado na tarefa de universalizar o ensino. Pelo contrário. Fazemos isso para exigir políticas públicas efetivas, mas, sobretudo, pressionar fazendo e mostrando que é possível ser feito quando há vontade política para tal, como acontece com a ocupação de terras.

Mas nada de céu de brigadeiro. As tantas conquistas foram obtidas a duras penas e ainda é árdua a luta para que o Estado cumpra seu dever constitucional e garanta investimento público para programas de educação em áreas de Reforma Agrária. Além disso, os recursos destinados à promoção da educação do campo são insuficientes para o custeio de várias demandas, como gastos com alimentação e transporte dos alunos.

Mesmo assim, e motivados pela certeza de um trabalho exemplar, seguiremos lutando munidos de coragem e saber, não só por terra para quem nela trabalha, mas também por dignidade. É preciso romper as cercas que impedem o povo de estudar e construir seu próprio destino.

Secretaria Nacional do MST

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