agosto 12, 2008

Eleições Municipais e Saúde Mental (III)

Foto: Rogelio Casado - Por uma sociedade sem manicômios - Manaus-AM, 18/05/2007
Eleições Municipais e Saúde Mental (III)

Um doce de cupuaçu japonês para quem conseguir provas materiais alusivas a citação de programas de saúde mental pelos candidatos à prefeitura de Manaus nos meios de comunicação. Todos já se manifestaram no rádio, nos jornais e na TV, e até agora neca de pitibiriba.

O silêncio sobre o tema se não surpreende, envergonha os manauaras. Enquanto programas de saúde mental avançam no Brasil, desde a extraordinária experiência de Santos, entre 1989 a 1996, ou a consolidada trajetória de Belo Horizonte, desde 1993 até os dias de hoje, todas baseadas em sólidos princípios éticos, no Amazonas eles patinam. Só não foram para o brejo graças ao governo do Estado do Amazonas que agiu onde a municipalidade se omitiu, ao criar o primeiro Centro de Atenção Psicossocial de Manaus – um tipo de serviço que substitui o obsoleto modelo de atendimento ambulatorial e hospitalar vigente. A cidade precisa de, pelo menos, 8 deles para atender as demandas de uma população com 2 milhões de habitantes. A obrigação é municipal.

Não raro, a questão da Saúde Mental tem ilustrado matérias de cunho desinformativo, com viés sensacionalista, sobrando pouco espaço para a construção de uma consciência social que não aceite mais os termos em que o portador de transtorno mental costuma ser apartado da circulação social, de modo a garantir que sua re-inserção não tenha caráter adaptativo, mas de restituição de suas possibilidades de participação na cultura dos nossos tempos, como nos ensinam Miriam Abou-Yd e Ana Marta Lobosque, em suas práticas na gestão e na militância por uma sociedade sem manicômios em BH.

Justiça se faça ao jornalismo dos anos 1980: a cobertura do processo de humanização do Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro foi feita com a dignidade compatível com o desafio civilizatório de inclusão na cultura do mais trágico dos saberes: a loucura.

A omissão do tema saúde mental nos debates públicos não pode ter na mídia um dos seus agentes, dada a sua importância na resolução dos impasses do setor.

Manaus, Agosto de 2008.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com

Nota do blog: Artigo publicado no Caderno Raio-X do jornal Amazonas em Tempo, que circula às quartas-feiras.
Posted by Picasa

Nenhum comentário: