Nota do blog: Ao todo foram 4 abraços simbólicos: um no Palácio Rio Branco (Assembléia Legislativa), para entregar o projeto de lei da Saúde Mental; um no Teatro Amazonas, em comemoração do Dia Mundial de Saúde Mental; um no Palácio Rio Negro (foto), para participar do Natal Sem Fome; e um no Hospital Psiquiátrico Eduardo Ribeiro, para manifestar o desejo substituição do modelo ultrapassado de atenção à saúde por uma rede de atenção diária à saúde mental e pelo fim do velho hospício.
Retrospectiva da luta antimanicomial
Antes havia silêncio sobre o futuro dos loucos na cidade. A sociedade delegara à psiquiatria tradicional um poderoso instrumento de controle social que impede o homem de se reconciliar com o homem: a carceragem das diferenças. Foi assim até o fim dos anos 1970.
Depois veio a experiência existencial de lidar com a subjetividade dos excluídos, o compromisso de produzir um novo cotidiano no interior da instituição totalitária. Assim vivemos os anos 1980.
As práticas de dissolução das barreiras entre o passado e o futuro de pacientes submetidos ao ócio químico acabariam reféns de um movimento corporativista, e a desinstitucionalização da loucura deixaria de ser problematizada. A reforma psiquiátrica iria para o beleléu nos anos 1990.
Nos anos 2000, o movimento de luta por uma sociedade sem manicômios, liderado pela Associação Chico Inácio (filiada à Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial), ao ocupar os espaços públicos (audiências, paradas do orgulho louco, abraços simbólicos) fez mais pela inserção dos loucos no âmbito da cidadania do que décadas de cultura segregacionista. Sua proposta de Lei de Saúde Mental só veio à luz porque soube agir nas zonas de aberturas em que liberdade e dominação estão em constante tensão. Lamentavelmente esse diálogo foi interrompido.
Quando se trata de políticas públicas de saúde mental, na maioria dos municípios amazonenses elas inexistem ou não conseguem sair do papel. Nesse cenário, faltam interlocutores que não mascarem a realidade, que ajudem o público a formar opinião, que operem na ruptura do modelo manicomial, que não apostem na compreensão e tolerância com a inércia dos gestores públicos. Contra eles invoco o imortal Michel Foucault: o saber não foi feito para compreender, mas para cortar. É preciso cortar com os elos da manipulação coletiva.
No dia nacional da luta antimanicomial – 18 de maio – sem medo de errar, não tínhamos o que comemorar. Sobrou na celebração, o que faltou em esclarecimentos. Não surpreende!
Manaus, Maio de 2009.
Rogelio Casado, especialista em Saúde Mental
Pro-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UEA
www.rogeliocasado.blogspot.com
Nota do blog: Artigo publicado no Caderno Raio-X, jornal Amazonas em Tempo, que saí aos domingos.
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