Médico decide todo dia se prolonga vida, (3/12/2009)
Folha de São Paulo
HÉLIO SCHWARTSMANDA EQUIPE DE ARTICULISTAS
A intenção é boa, mas a proposta do Senado de legalizar a ortotanásia soa um pouco como um projeto com vistas a regulamentar a lei da gravidade.
Não importa o que digam legisladores e juristas, decisões de não prolongar a vida de pacientes terminais são tomadas todos os dias nas UTIs. E é preciso que seja assim, ou o sistema não funcionaria.
Mesmo que os médicos optassem por envidar todos os esforços em manter todos os doentes vivos pelo maior tempo possível, ainda estariam, na prática, decidindo quem vive e quem morre: como a oferta de leitos de UTI tende a ser menor do que a demanda, uma vaga ocupada por paciente terminal frequentemente se traduz num doente que não recebe os cuidados que poderiam salvá-lo.
Evidentemente é preferível decidir com base em princípios racionais. Nesse sentido, é bem-vindo um mecanismo jurídico para tentar garantir que médicos não serão processados por tomar decisões necessárias. Mas mesmo aí a proposta em discussão deixa a desejar.
Os limites entre a ortotanásia e a eutanásia são menos claros do que parece. Muitas vezes, a fim de evitar sofrimento, eleva-se o uso de sedativos, que têm como efeito colateral provocar parada respiratória. Assim, não é impossível que cuidados paliativos levem à morte. O projeto não dá conta dessa nem de outras complexidades.
Fonte: http://www.ccr.org.br/a_noticias_detalhes.asp?cod_noticias=8936
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