dezembro 16, 2009

Simulacro e Poder: Uma análise da mídia

[ Amálgama ]

Melhores Leituras – 2009

[ Marjorie Rodrigues, jornalista e colaboradora do Amálgama ]

Simulacro e Poder: Uma análise da mídia, de Marilena Chauí (Perseu Abramo, 2006). Este livro é composto de três ensaios. O primeiro, mais longo, fala sobre como a mídia (em especial o jornalismo) ajuda a formar o imaginário social, reforçando mitos e estruturas de poder. Os dois outros falam sobre violência e direitos humanos – e a questão da mídia, embora diretamente relacionada ao tema, não é exatamente um ponto central.

O primeiro dos ensaios me tocou muito. Quando recomendo este livro para as pessoas, gosto de dizer que Marilena fez um trabalho de costureira. Como estudante de jornalismo que se enfiou no mercado desde o primeiro ano de faculdade, nada do que ela descreve é exatamente novidade para mim. Li praticamente todos os livros que ela cita (e, não, não estou tentando dar uma de pseudointelectual – é que os livros são leitura obrigatória de todo curso de jornalismo Brasil afora…) e, trabalhando, observei de perto as práticas, vícios e discursos que ela descreve tão bem. Mas me fascinou a maneira como ela pegou todas essas referências e as colocou numa ordem lógica, didática, cheia de sentido. Ela mostrou pontes que, para mim, estavam escondidas. Extraiu deste material todos os pensamentos que eu provavelmente levaria uns bons anos para atingir. Enfim, lançou luz sobre o que, para mim, era apenas um esboço muito rudimentar de raciocínio.

Um dos outros dois ensaios tem um trecho interessantíssimo sobre como a violência é algo que está em cada de um nós. Sobre como a nossa sociedade é, essencialmente, violenta. A violência é validada em diversas de nossas expressões culturais e é institucionalizada por meio do Estado. No entanto, não assumimos isso. Preferimos atribuir a violência apenas ao forasteiro, ao outsider, ao “bandido”. Preferimos enxergar como violência apenas os atentados contra a propriedade – a privada e a do corpo. Todas as outras pequenas (mas não menos importantes) violências do dia-a-dia são jogadas para baixo do tapete, para que não tenhamos de reconhecer o monstro em nós mesmos. Desde que o li, este trecho do ensaio vira-e-mexe me volta à cabeça. Passei a perceber, em pequenas coisas do dia-a-dia, o quanto isto é mesmo recorrente. Acho que não há um dia sequer em que eu saia à rua ou assista ao noticiário e não me lembre do ensaio, sempre concluindo: “É, Marilena, você tinha razão”. E livro bom é livro que faz isso, não? É aquele que te dá um novo par de óculos para enxergar o mundo.
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