Nota do blog: 1 de Maio de 1979. Volúnia brinca com meu filho mais velho, Pablo, que fora passar as férias comigo em Diadema-SP. Ali fiz formação em psiquiatria social na Comunidade Terapêutica de Oswaldo Di Loreto. Grande Di Loreto, que há pouco nos deixou. Os trabalhadores metalúrgicos do ABCD ocupam o estádio de Vila Euclides, em S. Bernardo do Campo. Helicópteros sobrevoam o lugar. O Exército nacional está nas ruas. Silene, mãe de Pablo, está visivelmente tensa. No Amazonas, nunca vivenciara nada parecido. Contrastava com a alegria dos trabalhadores que aguardavam Lula, líder das greves operárias daquele período - período que antecedeu a criação do Partido dos Trabalhadores. Na porta do estádio, a Convergência Socialista ostentava uma faixa com a frase: "A burguesia treme nas bases, o operariado está prestes a tomar o poder". Não foi bem assim. Aliás, sequer tomamos o poder. Estão aí as alianças que não me deixam cair em contradição. São elas que travam as reformas que não avançaram sob a liderança do "sapo barbudo", como Brizola chamava Lula, atual presidente do Brasil, e o líder político mais influente do planeta, segundo o Time. Mas o clima era pré-revolucionário. Assim sentenciava Francisco Weffort em suas análises. Com nossas primeiras derrotas, pragmático e apressadinho, ele foi um dos intelectuais que deixou o PT para servir o governo FHC, durante oito longos anos, e que por pouco não leva o Brasil à bancarrota. Com o fracasso do neoliberalismo, Weffort e seus pares entraram no ostracismo. Não raro, aqui e ali, eles ressurgem do limbo para destilar veneno. Perderam o bonde da história, mas não perdem a viagem quando surge uma oportunidade para denegrir o partido que ajudaram a criar. Não conseguem disfarçar o mal-estar pela sinecura perdida, projetando nos seus antigos companheiros o ressentimento de quem alimenta, secretamente, o inconfessável desejo por uma "boquinha". Essa crítica vil tem endereço e intenções indisfarçáveis. É o sintoma mais visível da desfiguração do exercício crítico do pensamento, reduzido à sua mais baixa potência. Ações de governo, lá e cá, estão a merecer avaliação crítica rigorosa. É da natureza do ofício do intelectual orgânico. Aos que perderam a organicidade, é bom lembrar que o andor sobre seus ombros é de barro. É aceitável que os militantes da Convergência Socialista façam sua leitura numa visão reducionista da realidade política. Mas é sofrível constatar a visão superficial com que se interpreta a falsidade dos costumes políticos de ontem e de hoje. Lula, que não cursou o ensino superior, consegue ser mais denso. Leia e constate na entrevista que ele concedeu ao jornal El País, da Espanha, publicada no dia de hoje, traduzida pelo inquieto Miguel do Rosário, do Óleo do Diabo.
Se queres, podes ler em espanhol: El País.
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