Charge do Amarildo
Postada em Boca Digital
Fácil não foi. Engolir Hélio Costa, em Minas Gerais, e Roseana Sarney, no Maranhão, foram os desafios mais difíceis e traumáticos para a militância petista. Mas o PT precisava consolidar o apoio do PMDB e, com isso, enfiar mais uma estaca no peito do adversário.
Política é um processo que envolve muita estratégia e humildade. O PT cresceu muito nos últimos anos. Em 2011, será provavelmente o maior partido do Congresso Nacional e, ganhando Dilma, seguirá ocupando a presidência da república quiçá por mais oito anos. Com tantos dedos precisando de cuidados, deve ter a sabedoria de não querer todos os anéis para si.
As eleições deste ano têm uma importância que ultrapassa as questões regionais. Os interesses em jogo desta vez são realmente pesados. Uma vitória de Serra representaria um retrocesso dramático para a política de integração sulamericana e para as articulações geopolíticas das nações emergentes.
Prefiro, contudo, não ser tão fatalista. Os povos sulamericanos já conviveram com inúmeras derrotas, mas sua combatividade nunca esmoreceu. Seguiram lutando, incansavelmente, até porque, para eles, política não é dilentantismo. É luta de vida ou morte. Uma eventual derrota no Brasil seria um passo atrás, mas as forças populares logo se rearticulariam e, mais animadas que nunca, voltariam às trincheiras para defender seus direitos.
Seja como for, Dilma Rousseff desponta, nestas eleições, como grande favorita. O PT até agora vem fazendo tudo certo. Os erros foram mínimos. O caso do dossiê fantasma, por exemplo, teve uma função salutar: foi um exercício de guerra. Perdeu-se um soldado, mas isso faz parte do jogo. A saída de Lanzetta, articulada rapidamente, esvaziou o discurso da oposição midiática. É incrível a força da mídia para estigmatizar uma pessoa. O Globo e a Veja acharam a fotinha mais horrorosa possível de Lanzetta, com barba por fazer e os olhos inchados, e a mostravam regularmente, apavorando as recatadas senhoras de classe média que ainda tem coragem de acompanhar o noticiário.
O próximo passo das forças aliadas é impedir que o PSDB se alie ao PP, o que já está conseguindo. Se conseguir quebrar o acordo já meio que firmado entre tucanos e o PSC, ótimo. Mas nem é tão necessário. Apenas com as alianças que já possui, Dilma deverá ter quase o dobro do tempo de televisão de José Serra. Com isso, poderá neutralizar grande parte dos ataques vindos da mídia conservadora.
Não há muita novidade nas estratégias de Serra. Ele tentará golpes sujos e seus aliados são, como sempre, a Veja e os jornalões, que pautam as redes de TV e toda a imprensa nacional.
O inimigo mais perigoso ainda é a Rede Globo, que tem efetivamente poder para causar um abalo de última hora, a famosa "bala de prata". Mas, como já disse, o enorme tempo de TV à disposição de Dilma lhe dá alguma segurança também nessa batalha.
E a blogosfera, perguntarão vocês? Qual será seu papel?
Ela será fundamental na condução da luta ideológica, sobretudo entre as classes mais instruídas. O próprio fato de Serra ter força entre as elites confere à blogosfera uma função primordial. À blogosfera de esquerda caberá confundir, desmobilizar e, por fim, trazer para seu lado, os soldados à serviço da plutocracia. Recente pesquisa nos mostrou que cerca de 90% dos profissionais da imprensa apóiam Lula. Eles estão silenciosos, apáticos e acovardados, diante da brutalidade opressiva que tomou conta das redações.
A campanha na blogosfera, feita em alto nível, pode fazer com que esses jornalistas e outros profissionais, que vivem à sombra da aristocracia patronal, vislumbrem em si mesmos um brilho de liberdade e altivez, e senão podem passar para o outro lado das trincheiras, poderão, ao menos, fazer corpo mole e não contribuir para a vitória de seus algozes. O samba e a capoeira ecoam alto nas senzalas de todo Brasil, mas nem todos na Casa Grande estão assustados. As mocinhas elegantes, que jantam, silenciosas, junto ao pai severo, batem o pé, discretamente, por baixo de suas enormes saias rendadas.
Fonte: Óleo do Diabo
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